Este artigo, por Rosanne Somerson, presidente da Rhode Island School of Design, foi originalmente publicado pela Metropolis Magazine como "We Need More Boredom in Our Lives."
Quando eu lecionava na pós-graduação em design de móveis, gostava de atribuir aos meus alunos um problema abstrato que exigia sentarem-se no estúdio e desenhar através da associação livre durante um longo período de tempo sem se levantar de seus assentos. Após cerca de 45 minutos, a maioria dos estudantes começava a se contorcer e ficar desconfortável. Se eles não tivessem na minha aula, provavelmente teriam se levantado, checado seus e-mais ou encontrado outras distrações. Mas eu os encorajei a enfrentar o desconforto, porque depois de muitos anos aplicando o mesmo exercício, eu tinha aprendido que, logo após o estágio "desconfortável", algo incrível acontece. Muitas vezes, uma direção totalmente nova para o seu trabalho surgiria, algo completamente desconhecido e inesperado.
O que originou aqueles momentos desconfortáveis que desencadearam a sua criatividade? Foi algo mágico ou misterioso? Dificilmente. Creio que foi o tédio, puro e simples, algo que todos nós (artistas e arquitetos em particular) precisamos mais em nossas vidas.
Quando mentes curiosas possuem bastante tempo, espaço e liberdade, a imaginação tem espaço para passear. Todos nós abrigamos a imaginação, mas a maioria dos adultos são treinados para controlá-la tanto que ela acaba adormecendo. Então, precisamos dar-lhe tempo e espaço para despertar.
Em nossas vidas digitalmente determinadas, quando cada momento é contabilizado e a distração é apenas uma olhada no iPhone, onde encontraremos espaço para imaginação florescer e para ideias fluírem? A essa altura, em que a nossa cultura celebra, disruptiva, o pensamento inventivo, precisamos trabalhar mais - na verdade, não fazendo nada - para promover momentos de ruptura que nos levam a novas direções, criam sistemas e estruturas melhoradas e aprimoram a qualidade da nossa vida cotidiana.
No mundo de hoje, o tédio é quase uma má palavra, um conceito banido de nossas vidas por horários de trabalho implacáveis e muitas opções de entretenimento. É mais fácil do que nunca encontrar distrações e mais duro do que nunca resistir. Mas até conseguirmos evitar sermos sugados para o vazio do consumo de mídia estúpido, vamos desencorajar nossas mentes excedidas e nos abrirmos para permitir a criatividade e descoberta. Ser criativo dói. Estica o nosso cérebro. Exige trabalho duro. Ser criativo não é simplesmente abrir uma torneira e assistir as ideias jorrarem. Para muitos de nós é mais como a abertura de uma veia. Artistas e arquitetos fazem descobertas de formas inesperadas. Um monte de gente procurando inovar ou descobrir novos conhecimentos fazendo uma pergunta específica ou criando um problema para encontrar respostas. Mas eles descobriram que os verdadeiros avanços resultam quando eles dirigem a investigação à um caminho novo. Eles questionam a pergunta. E, de bom grado, tropeçam no desconhecido.
Esta inversão de uma metodologia padronizada está no centro do pensamento artístico. Eu a chamo de “critical making” em vez de “design thinking”, um tipo de inovação e criação do conhecimento que emerge entre o pensamento e a elaboração. Através do seu trabalho, artistas e arquitetos aprimoram a habilidade de questionamento radical e desenvolvem sua percepção, imaginação e destreza. Eles mostram que a elaboração pode ser uma nova forma poderosa de pensamento - uma forma de conceituar ideias novas em formas elásticas, não-lineares, expansivas e ver para além das divisões perceptivas e cognitivas tradicionais. Eles reconhecem padrões invisíveis, relações e formas de ordem. Eles habilmente desconstroem, combinam e recombinar conceitos, materiais e métodos. Eles confortavelmente prosperam em meio à incerteza.
E eles valorizam tanto o processo quanto o fracasso. Esta situação aumenta a intuição, empatia e compreensão. Para eles, o fracasso não é um ponto de parada, mas sim uma chamada para reavaliar, para cavar mais fundo, para criar uma pergunta desde uma nova perspectiva. Quando uma ideia falha os próprios materiais podem sugerir caminhos alternativos. E os processos podem levá-los até novas direções. Com estes conhecimentos e habilidades, artistas e arquitetos humanizam perguntas e respostas, problemas e soluções. Mais do que a maioria, eles entendem a "experiência centrada no usuário" - ou simplesmente, a experiência humana.
Quando eu discutia o exercício de desenho sequenciado com meus alunos após a atividade, concluíamos que quando as pessoas criativas estão entediadas e desconfortáveis, a sua imaginação os leva à um território completamente novo. Mas os estudantes também disseram que, seguir a sua imaginação em direção a estes espaços desconhecidos pode ser inquietante. Nossa inclinação natural faz com que nos fundamentemos naquilo que conhecemos. Mas o impulso pode ser um pequeno "aha", algo que nossos alunos referenciam como o que mais agudamente lhes ensinou a encorajar avanços criativos.
Ao longo de anos de ensino, eu assisti os alunos tornarem-se menos capazes de sustentar este momento aborrecido e desconfortável por períodos prolongados de tempo. Como o ritmo de nossas vidas mudou com o aumento da 'interferência' tecnológica, estamos mais propensos a verificar nossas contas no Instagram ou a nos distrair nas compras on-line em vez de ficarmos sentados durante o tédio intencional.
Sinais recentes de pessoas optando por participar da "tecnologia de desintoxicação" oferecem esperança para um ressurgimento do tédio. O movimento crescente da atenção plena e um aumento na prática de meditação apontam para uma consciência crescente de que a mente humana precisa funcionar melhor.
Algum dia, quando você refletir sobre sua vida, você vai se lembrar do tempo gasto no Facebook ou nos navegadores da web? Ou você vai pensar no momento em que uma centelha criativa originou uma nova ideia? Será que você preencheu seu tempo analisando o conteúdo de outras pessoas? Ou você vai ter participado ativamente da criação do seu próprio país?
Talvez seja hora de dar mais atenção à isto, permitindo-nos não prestar atenção. Talvez agora seja o momento perfeito para trazer de volta o tédio.
Rosanne Somerson é presidente da Rhode Island School of Design. Ela fundou o departamento de design de móveis da escola em 1995 e mantendo o seu próprio estúdio, onde ela desenha e faz móveis.