O arquiteto dinamarquês Jan Gehl é uma referência a nível mundial em temáticas referentes ao desenho urbano e aos espaços públicos. Este reconhecimento foi obtido a partir da publicação de uma série de livros e, posteriormente, a partir de sua consultora Gehl Architects que, fundada em sua cidade natal, Copenhague, busca desenhar cidade para as pessoas.
Em uma recente visita a Nova Iorque, Gehl deu uma conferência no Instituto Van Alen que tem um foco muito similar sobre a importância do desenho na qualidade da vida das pessoas. Neste contexto, o arquiteto abordou cinco conselhos que foram publicados pela Fast Co.Design e que discorrem sobre os caminhos a seguir para projetar cidades habitáveis, saudáveis, seguras e sustentáveis. Estes são:
1. Deter a construção de "arquitetura barata para a gasolina"
A mudança climática e a saúde pública são dois fatores que Jan Gehl acredita que deveriam ter uma importância fundamental para os planejadores, sobretudo se considera-se que "durante 50 anos fizemos cidades de tal forma que as pessoas estivessem quase obrigadas a sentar-se todos os dias em seus automóveis, em seus escritórios ou em suas casas. Isso causou graves problemas de saúde", segundo afirma o arquiteto.
Diante disso, quais são os principais fatores que causaram isso? De acordo com Gehl, em grande medida isso se deve aos automóveis e à disponibilidade de combustível a baixo custo que responderam durante o período de construção de subúrbios, que quando começou a ser mais custoso, deixou de ser uma boa ideia.
Esta reflexão está vinculada a um recente estudo publicado na The Lancet no qual aponta-se que aqueles que vivem no centro das cidades têm uma maior expectativa de vida do que aqueles que vivem na periferia, pois durante sua vida essas pessoas tem a possibilidade de caminhar em maior quantidade de vezes para fazer seus trajetos diários.
A pesquisa foi realizada com 6.822 pessoas de 14 cidades de dez países em uma faixa etária entre 18 e 66 anos. Entre os indicadores medidos estavam a capacidade de caminhar de cada pessoa e o acesso ao transporte público e aos parques.
2. Fazer da vida pública o eixo do desenho urbano
Em 2009, a Prefeitura de Copenhague publicou "Uma Metrópole para as Pessoas", um documento inspirado na teoria de Gehl Architects que permitiu elaborar uma visão e os objetivos par aa vida urbana na capital dinamarquesa em 2015.
Neste sentido, é possível reconhecer que há seis anos as autoridades de Copenhague se propuseram a torná-la a cidade mais habitável do mundo, ou seja, uma cidade sustentável na qual, através de seus espaços públicos, convida as pessoas a ter uma vida única e variada.
Para avançar em direção a esta meta, o plano foi estruturado em três eixos principais: caminhar mais, passar mais tempo no espaço público, e sair dos refúgios privados. Segundo explica o próprio Gehl durante sua estadia em Nova Iorque, isso permite que a cidade seja mais emocionante, interessante e segura, além de promover a inclusão social.
3. Projetar experiências multisensorais
Para explicar este ponto, Gehl toma como exemplos Veneza e Brasília, afirmando que se alguém deseja ter uma experiência na qual os sentidos estão ativos e, com isso, ter uma sensação agradável, deve ir à primeira. Por outro lado, se alguém não busca uma experiência como essa, pode ir à capital brasileira.
Estes exemplos são tomados em relação a como os habitantes perdem a oportunidade de aproveitar seu entorno através de seus sentidos, já que, como coloca Gehl, "rompemos todas as regras para fazer os automóveis felizes".
Em contraste, acredita que deveriam fazer as cidades para aproveitar nossas capacidades, construindo-as em torno do corpo e dos sentidos do ser-humano para que esse possa viver sua cidade em uma escala que esteja de acordo com suas capacidades máximas.
4. Impulsionar o transporte público equitativo
Promover a igualdade nas cidades transformou-se em uma missão em diversas partes do mundo. Avanços nesse sentido podem ser obtidos caso o transporte público se faça acessível, eficiente e alternativo, ou seja, que não haja necessidade para automóveis.
Assim, pode-se evitar que aqueles que vivem nos subúrbios das cidades, onde os terrenos possuem um menor valor que se ajusta a sua entrada, não devam destinar grande parte de de seu orçamento com transporte, algo que atualmente é possível para aqueles que vivem em áreas mais centrais.
5. Proibir os automóveis
Segundo Gehl, o automóvel é um modo inteligente de transporte, sobretudo em cidades que possuem 10 milhões de habitantes ou mais, tal como ocorre em cidades da América do Sul, África e Ásia.
Desta última região, Gehl toma como exemplo o que ocorre em Singapura, uma ilha muito pequena, mas, ainda sim, produto da grande quantidade de automóveis quase não há mais espaço livre nas ruas, mesmo se tratando de uma cidade densa na qual pode-se acessar com muito mais rapidez qualquer lugar a pé ou de bicicleta.
Além disso, defende que "não é segredo nenhum que os bons dias do automóvel terminaram.".