Uma das maneiras que a arquitetura tem para se integrar a um entorno natural é levando em conta a experiência sensorial própria do lugar. Isto pode ser ao brindar o valor das qualidades espaciais, as texturas e até mesmo gerando contrastes ao realçar e diferenciar o existente com o construído pelo homem.
Este mês destacamos o Secondfloor Architects, que nos convida a experimentar o entorno natural como algo que está sobre a arquitetura, não apenas assentado num lugar, mas que se relaciona com as árvores existentes e traz contrastes mediante a expressão do material escolhido para o projeto.
Sobre os tons de preto: É muito interessante o que você mencionou sobre o uso de uma cor que absorve a luz, mas ainda gera texturas. Qual atmosfera ou sensações surgiram após após adotar esses materiais especificamente em preto? Como você selecionou as diferentes texturas de acordo com a utilização dos espaços?
Utilizamos o preto para dois propósitos diferentes. (1.) A nossa intenção como designer para a atitude negativa que pessoas têm perante o preto, porque queríamos provar que o preto contém essa riqueza. Um dos exemplos são as escolas de arquitetura, o uso do preto é muitas vezes criticado, enquanto o branco é exaltado. (2.) Preto como uma presença emergente do entorno. O preto tende a absorver, mas a sua superfície permite a presença dos materiais que escolhemos. A superfície preta e desigual da parede agregada cria esse bonito efeito cintilante que é visualmente calmante. A escuridão e qualidade brilhante dos azulejos em torno da árvore expandem visualmente o espaço. E também há a escuridão dos tijolos que vão descolorindo ao longo do tempo.
O projeto tem características e elementos de design muito interessantes para ser apenas uma cafeteria. Quais decisões você fez para a planta, materiais e conceito? Acreditamos que o projeto final tem elementos muito complexos como resposta para um programa "comum".
Nós acreditamos que a arquitetura deve criar um ambiente que encarna este espaço específico em vez de se destacar pela sua presença física. Este projeto não seria tão significativo como é se ele apenas ficasse sobre este pedaço de terra. A proporção do espaço aberto visualmente acessível é de dois terços, mesmo que se sinta como se estivesse dentro de um edifício. A longa planta de 38 metros foi concebida para acentuar a diferença de inclinação do terreno. Enquanto isso, a largura de 6,5 metros cria a estreiteza que permite sentir a presença da paisagem circundante. Os materiais que decidimos usar são compostos por diferentes características da escuridão para o ambiente que íamos criar. A estrutura de aço foi usada para enfatizar a solidariedade dos outros materiais e ofereceu o mais curto período de construção em termos de estrutura.
Além de estar num contexto muito natural, o projeto parece se fechar sobre si mesmo e mantém o usuário concentrado na arquitetura e o que acontece nela, mas ao mesmo tempo cria uma ligação com a paisagem de uma forma vertical (os espaços vazios), ao invés do horizontal. Você pode nos dizer mais sobre isso como uma premissa do projeto?
Esta é uma pergunta muito boa. Obrigado por perceber isso. A resposta a esta pergunta é muito simples e eu gostaria de respondê-la com outra pergunta: "Quanto tempo se passou desde que você olhou para uma árvore que você estava embaixo?”. A beleza da floresta não é tão distante quanto você pensa. Como eu disse anteriormente, às vezes, o projeto te oferece a oportunidade de ver mais do que você jamais iria pensar.
Cafeteria Yellow Submarine / Secondfloor Architects