Para aqueles que ainda menosprezam as mudanças climáticas e os impactos que o homem tem gerado no planeta, atitudes enérgicas de grandes países podem emitir um alerta difícil de ignorar. Uma decisão do parlamento alemão pode representar uma mudança de maré para a quantidade de CO2 emitida pelos carros no país.
No mês passado, o Bundestag, o conselho federal dos 16 estados da Alemanha, aprovou uma resolução para banir os carros movidos a gasolina e a diesel até 2030. O país é uma das maiores indústrias automobilísticas do mundo e a maior da Europa. O setor também é um dos mais importantes para o país, tendo 44 milhões de carros registrados em 2013. No entanto, o idealizador da iniciativa é o Vice-Ministro da Economia Rainer Baake. “O fato é que não houve qualquer redução nas emissões de CO2 advindas do transporte desde 1990. Nós não temos ainda a solução para cortar as emissões dos caminhões, mas nós temos respostas para os carros.”
Essa alternativa está nos carros “verdes”, que ainda representam uma baixa parcela dos automóveis no país. São apenas 130 mil híbridos e 25 mil elétricos entre 14,5 milhões de carros a diesel. A resolução apela para a Comissão Europeia “avaliar as recentes práticas e contribuições fiscais dos Estados-membros sobre a eficácia na promoção da mobilidade de zero emissão”. Ele prevê que o governo alemão dará incentivo para a compra de veículos elétricos através de subsídios.
Dessa forma, o país espera ter meio milhão de veículos livres de emissões até 2020 e, em 2030, prevê que 6 milhões de elétricos e híbridos estejam circulando nas ruas. Tudo isso para atingir a meta de reduzir as emissões de dióxido de carbono entre 80% e 95% até 2050. “Sendo impossível fazer a indústria e a agricultura livre de emissões até 2050, o objetivo deve ser a mobilidade de emissões zero até 2050, a ser atingido de maneira que não coloque em risco a prosperidade da União Europeia”, diz o documento. “Uma mistura de estratégias de taxas e incentivos financeiros deve ser usada para que todos os novos carros registrados sejam limpos até 2030.” A resolução cita ainda que devem ser oferecidos subsídios para o transporte coletivo e para os sistemas de carros e bicicletas compartilhados.
No início do ano, o governo de Ângela Merkel chegou a um acordo de 1,2 bilhão de euros com as montadoras do país para impulsionar as vendas dos elétricos. Os compradores podem receber até 4 mil euros em descontos para compensar o valor mais alto dos veículos desse tipo. Os de carros híbridos recebem até 3 mil euros.
Algumas das montadoras alemãs já estão fazendo mudanças para atender à possível futura exigência. A BMW definiu os rumos com o elétrico i3 e o esportivo híbrido i8, e, agora, desenvolve uma versão completamente elétrica do i8. Já a Mercedes-Benz anunciou um carro movido a hidrogênio com autonomia de até 498 quilômetros, que será produzido em 2017. Depois do escândalo do “dieselgate”, a Volkswagen montou planos ambiciosos de vender 3 milhões de carros elétricos até 2025.
Após a montadora ser acusada de mascarar o desempenho dos motores, o que distorceu os dados de emissão de gases poluentes, o registro de carros a diesel na Alemanha caiu consideravelmente. Segundo a AID Newsletter, “as tempestades ambientais levaram a demanda de carros a diesel na Europa a uma espiral decrescente”. Na Alemanha, a venda do diesel caiu 5%, enquanto o combustível caiu mais nos países vizinhos. As vendas em agosto caíram 5.8% na França, 5.5% na Bélgica e Luxemburgo, e surpreendentes 12.9% na Holanda.
O projeto alemão ainda não é obrigatório, os Estados não têm o poder de colocar em vigor a resolução, o que é restrito ao governo federal. Porém, apenas o diálogo sobre o assunto já é uma evidência de que o futuro do automóvel será diferente. A iniciativa da Alemanha se une a diversas outras leis e movimentos de cidades europeias que determinaram como meta a restrição ao uso de veículos movidos a combustíveis fósseis. A Noruega, por exemplo, já prometeu banir a venda dos veículos movidos a combustíveis fósseis até 2025. O país já tem 24% dos carros circulando a eletricidade e é um grande produtor de energia renovável, com mais de 99% da produção de energia vinda de hidrelétricas.
Orientação da ONU
Um novo relatório das Nações Unidas intitulado “Mobilizando o Transporte Sustentável pelo Desenvolvimento” , desenvolvido por uma comissão de 16 grandes nomes do setor de transporte, destaca dez orientações que os países devem seguir até 2030. O uso da tecnologia é destacado no documento como um dos condutores do progresso e essencial para o metodologia evitar-mudar-melhorar. “A transição para combustíveis de baixo teor de carbono é parte central de uma estratégia climática a longo prazo. A eletrificação de veículos para transporte de curta distância e de passageiros é uma tendência crescente”, diz o texto.
O relatório cita o avanço chinês no setor: nos últimos 20 anos, o país introduziu entre 200 e 250 milhões de veículos elétricos de duas rodas em suas cidades. O grande número de carros elétricos na Noruega também é lembrado no texto, que atribui o sucesso aos incentivos fiscais e às diversas estações de carga presentes nas cidades. A Alemanha é mencionada pelas pesquisas em andamento da Associação Alemã de Empresas de Transporte (VDV) sobre como a infraestrutura de transporte público poderia ser usada para carregar veículos elétricos privados.”Na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, os países se comprometeram a não deixar ninguém para trás e, na área de tecnologia, isso significa que governos, empresas privadas, acadêmicos e outras partes interessadas trabalharão para promover o compartilhamento de conhecimento, abrir dados e dar assistência técnica aos países em desenvolvimento”, reforça o relatório.
Via The CityFix Brasil.