Este artigo foi publicado originalmente no site Redshift da Autodesk como "A próxima conquista arquitetônica de Toyo Ito: Revitalização da ilha de Omishima no Japão."
No ano passado, enquanto a construção do seu projeto para a Opera Nacional de Taichung, em Taiwan, estava chegando ao fim, Toyo Ito se encontrou numa encruzilhada.
Um projeto de 10 anos de duração, um gigantesco ícone cultural feito de paredes de concreto curvadas biomorficamente que se enrolam como um nó de artérias, criando uma experiência sobrenatural para os padrões das artes, é o projeto emblemático que se esperaria do Prêmio Pritzker de 2013, mas sua finalização desencadeou uma pergunta vital: para onde ir a partir daqui?
Toyo Ito's Taichung Metropolitan Opera House Photographed by Lucas K Doolan
"Com a finalização da ópera, sinto com se a primeira etapa da minha carreira arquitetônica também chegou ao seu fim, depois de 40 anos", disse Ito. "Desde que começamos a desenhar residências, nos primeiros anos do nosso escritório, meus colegas e eu buscamos belos espaços e singularidade arquitetônica. A ópera é a culminação dessa busca. Não posso imaginar a criação de um trabalho mais inovador onde a beleza do espaço seja primordial".
Desta forma, em vez de tentar superar a exploração formal e a inovação estrutural do teatro (que abriu no dia 30 de setembro), Ito está agora focando em espaços que se definem pela interação social em vez do prazer experimental.
Mais recentemente, esta reconsideração da arquitetura pode ser vista no trabalho dos sucessores do Pritzker e em algumas das maiores exposições de arquitetura. Quanto a Toyo Ito, ele começou este esforço há vários anos, trabalhando em projetos de ajuda a desastres naturais em seu país natal, Japão. Este trabalho culminou na aplicação destas lições às comunidades rurais com objetivos humildes que estão longe das megacidades que os arquitetos do seu calibre geralmente frequentam.
Em 2011, depois de um devastador terremoto e tsunami no norte do Japão, que matou 19.000 pessoas, Ito começou a trabalhar em uma série de centros comunitários nas cidades que ainda estavam se recuperando do desastre. Estes "Homes-for-All" são locais comunitários que não são casas exatamente, mas são espaços que podem ser acolhedores quando os padrões cotidianos de vivência são arrancados pela catástrofe. São lugares para eventos e reuniões, incubadoras para empresas desalojadas pelo tsunami, um lugar para conhecer os vizinhos, orientar-se e catalogar o que foi perdido e o que ainda se conserva.
Ito trabalhou em 'Homes-for-All' com alguns outros arquitetos, incluindo Kazuyo Sejima e Riken Yamamoto, mas estes edifícios não foram 'desenhados', e sim, 'trabalhados' com uma ampla ajuda da comunidade.
"Muitos arquitetos dizem que criam arquitetura para a sociedade", disse Ito. "Mas a arquitetura criada pode ser, na verdade, para os próprios arquitetos. Os arquitetos projetam ao ver a sociedade e as pessoas através dos olhos dos arquitetos. Eu gostaria de considerar a arquitetura através dos olhos dos moradores".
O 'Home-for-All' em Rikuzentakata tece três pavimentos de estruturas simples de duas águas através de escadas de madeira e passarelas, sustentadas no alto por colunas de madeira de cedro e aquecidas com uma estufa de lenha. Em Miyatojima, uma cobertura de pavilhão arredondada abriga um espaço simples para reuniões e eventos. Cada 'Home-for-All' (desenhada com Autodesk AutoCAD) é muito diferente, mas a forma não é o que importa. O que acontece dentro o é. Quinze foram construídas até agora, com uma mais ainda por vir.
As lições que Ito aprendeu do compromisso comunitário com seu projeto 'Homes-for-All' o fizeram considerar se estes mesmos princípios poderiam ser aplicados a comunidades inteiras, não somente para reparar danos, mas para revitalizar um lugar cultural e economicamente. Felizmente, ele já tinha fortes laços com um candidato potencial.
Em 2007, Ito chegou a ilha de Omishima, no sul do Japão, para desenhar as expansões do Museu Tokoro (a Cabana de Aço e Cabana de Prata, que foram projetadas como parte do Museu de Arquitetura Toyo Ito, em 2011). “Cheguei a ilha em uma balsa e Omishima parecia realmente impressionante, como se estivesse entrando em um mundo desconhecido", disse Ito.
É uma ilha pouco povoada, com 6.400 residentes que vivem em 13 povoados conectados pelo Santuário Oyamazumi. “As ladeiras estão cobertas de tangerinas que criam uma paisagem serena e bonita", disse Ito. "Os entardeceres do lado ocidental da ilha são indescritivelmente belos".
Mas pouco desenvolvimento comercial e industrial teve lugar ali. Omishima perdeu a metade da sua população nas décadas de 1940 e 50, e 50% dos residentes possuem 65 anos ou mais. A próxima fase da carreira de Ito, segundo ele, será dedicar-se a ajudar a ilha a recuperar este vigor perdido.
Ito chama seu esforço, "Fazendo de Omishimia a Melhor Ilha para Viver no Japão" com a alegria de um homem que muda sua posição de arquiteto estrela, viajando frequentemente milhares de quilômetros, pela pureza e respiro pastoral. Omishima soa como o tipo de lugar que qualquer um descansaria, mas Ito está ali a trabalho.
Colaborando com os residentes locais, estudandes de arquitetura de Harvard, e sua própria escola, os planos de Ito são uma abordagem clássica do comércio: a aproveitar as instituições e tradições existentes, ampliar organicamente a profundidade programática e a atividade econômica e, esperançosamente, atrair novos residentes.
Utilizando acabamento de terra local, Ito renovou uma casa vazia ao longo da carreteira ao Santuario Oyamazumi, transformando-a em um 'Home-for-All'. "Este Home-for-All é utilizado como um café ao meio-dia e um bar de vinhos na noite durante os finais de semana", disse Ito.
O plano incluirá uma escola agrícola e um vinhedo. O primeiro vinho Omishima estará pronto em 2019, com a marca "Winery-for-All". Além disso, Ito tem a intenção de estabelecer um pequeno hotel, agregar mais alojamento para os residentes temporários e renovar uma antiga 'cabana de agroturismo'. Para conectar de melhor forma estas comodidades, Ito quer usar veículos elétricos ou de pedal para levar os residentes e vistantes através das pitorescas colinas de Omishima. O financiamento para tudo isso, disse Ito, virá da comunidade e dos seus pilares institucionais: não serão requeridas solicitações corporativas.
Estes planos não se somam a nenhuma revisão dramática de como uma pequena aldeia em uma ilha no Japão funciona ou é vista. Não postulam a estética da moda de um dos maiores arquitetos do Japão como uma maneira de solucionar qualquer problema. Pelo contrário, formam um marco para plantar novas sementes de vitalidade econômica e deixar que estas sementes cresçam de da forma que consigam.
Ito vê isso como um processo de 10 anos, tal como seu Teatro Nacional Taichung. É uma espécie de 'arquitetura lenta', similar a 'slow food', utilizando materiais e ingredientes de origem local.
Se Omishima é como o jardim pessoal de Ito, é porque teve tempo para cultivar um solo fértil através do seu longo compromisso comunitário e acabam de aparecer os primeiros brotos no solo.