Interiors é uma publicação online sobre o espaço entre a arquitetura e o cinema publicada por Mehruss Jon Ahi e Armen Karaoghlanian. Interiors elabora uma coluna exclusiva para o ArchDaily onde analisa e diagrama filmes em relação ao seu espaço físico.
La La Land, de Damien Chazelle (2016), é um ode aos musicais Technicolor de Hollywood através de Demy e Paul Thomas Anderson. O filme é menos musical e mais uma história de amor com música, já que sua rica paleta de cores e sua apresentação Cinemascope criam um mundo idealizado que despoja de sua artificialidade ao longo do filme, sendo mais e mais realista.
La La Land utiliza seu estilo cinematográfico, especialmente suas tomadas longas e ininterruptas, para levar o público ao seu mundo e seus espaços. A sequência de abertura, por exemplo, onde os indefesos motoristas presos no tráfego saem dos seus carros e começam uma dança sincronizada, foi filmada na troca da rodovia 105/110 e foi editada para parecer uma só tomada, resultando em uma imersiva experiência que destaca a arquitetura da cena.
O interesse do filme em explorar o espaço e o tempo é reunido em uma cena de quatro minutos em que Mia (Emma Stone) e Sebastian (Ryan Gosling) caminham até seus carros em uma rua pavimentada nas colinas de Griffith Park. Nessa cena, os dois personagens começam a cantar e dançar, enquanto o diretor Damien Chazelle e o cineasta Linus Sandgren gravam toda a cena em uma tomada longa e ininterrupta.
Nesta cena, Damien Chazelle subverte nossas expectativas do habitual encontro casual frequentemente visto em comédias românticas. Mia e Sebastian são combativos e proclamam seu desgosto mútuo enquanto o espaço circundante é o mais romântico possível. As cores do céu, juntamente com as luzes da cidade abaixo, quase exigem um clima de romance. As atitudes conflitivas de Mia e Sebastian criam um contraste com o que se mostra visualmente na arquitetura do espaço. Não é nenhuma surpresa, então, que o lugar é onde os personagens se apaixonam pela primeira vez. Além disso, dada a relação do filme com Hollywood, também é interessante notar que o cenário possui vistas a Burbank, uma cidade cuja história é arraigada com a indústria do entretenimento, fazendo que seja, possivelmente, mais Hollywood do que a própria Hollywood.
O cenário desta cena é Cathy's Corner no Griffith Park. A localização original, que costuma ser muito mais pobre do que se vê no filme, foi modificada em um esforço por criar o aspecto que os cineastas queriam atingir. A localização original que não tinha postes de iluminação, foi equipada por uma fila de postes de luz personalizados, desenhados para evocar o aspecto nostálgico que impregna a fotografia do filme. A produção também agregou o banco que impulsiona a dança de Mia e Sebastian. Ao fazer estas adições arquitetônicas e alterar o espaço existente, os personagens possuem objetos para interagir, o que inclui Sebastian dando voltas em um poste, como Gene Kelly em Singin 'in the Rain (1952), e Mia e Sebastian sentados juntos no banco.
O banco converte-se no ponto focal ao longo do número musical, primeiro aproximando-os fisicamente enquanto sentam um ao lado do outro e, mais tarde, tornando-se uma parte integral do seu número de dança ao interagirem com ele. Na metade da dança, o banco conecta o casal ao ambiente romântico: Mia e Sebastian correm e pulam para ficar em pé sobre o banco e a câmera se aproxima das suas cabeças para permitir que o público, ainda que brevemente, admire as luzes piscantes da cidade junto com o casal.
A cena foi coreografada e ensaiada extensamente; devido ao fato de que toda a sequência é filmada em uma tomada durante a hora mágica, os atores (e a equipe de câmera) tiveram que lutar contra o tempo. Isto significou chegar as 27 marcas que a equipe de câmera tinha para a cena, apagando-as imediatamente depois de cada tomada, sem deixar nenhuma margem para o erro. A cena utilizada na tomada final do filme é a última tomada filmada no segundo (e último dia de rodagem no lugar) as 19h30.
Interiors criou uma planta de situação do Cathy’s Corner em Los Angeles, Califórnia. O diagrama representa a sequência musical inteira de 4 minutos entre Mia e Sebastian. Existem três momentos específicos que se destacam no diagrama e que representam o momento em que Sebastian começa a cantar no poste de luz, o momento em que Mia e Sebastian começam sua coreografia no banco e o icônico movimento entre os dois personagens visto na publicidade do filme. Estes movimentos não só representam pontos chave na cena, mas também mostram como os personagens se tornam cada vez mais próximos durante a sequência.
Estes diagramas, junto com outros, estão disponíveis para a compra em nossa Loja Oficial.
Os desenhos arquitetônicos e gráficos foram criados por Interiors (www.INTJournal.com).
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