Projeto ‘Como Anda’ quer fortalecer a mobilidade a pé no Brasil: compreender quem são e como atuam as organizações que trabalham com o tema, promover a pauta com levantamento de dados e estudos de caso e contribuir com a articulação do movimento.
Caminhar é a forma mais democrática, saudável, econômica e sustentável de se deslocar pelas cidades. Apesar disso, nas últimas décadas, pouco foi feito para os pedestres no Brasil e seguimos sofrendo com as condições precárias das nossas calçadas, passagens e travessias. Embora muitas organizações busquem colocar esta importante discussão em pauta, a falta de uma visão integrada do cenário ainda é uma barreira para que o movimento ganhe força e espaço.
Neste contexto, surge o Como Anda - uma plataforma online que propõe uma rede entre os grupos que promovem a mobilidade a pé no Brasil e oferece dados inéditos e acessíveis sobre esse movimento. Ao conectar todos os atores que trabalham com o tema, o Como Anda torna-se o principal ponto de encontro daqueles que atuam por cidades caminháveis. Já são mais de 130 organizações conectadas nos quatro cantos do Brasil, atuando nas mais diversas abordagens: comunicação e informação, educação e cultura, intervenção física no espaço, legislação e políticas públicas, mobilização, pesquisa, projetos e planos.
As informações estão disponíveis para qualquer pessoa que queira saber mais sobre o tema ou, ainda, para grupos planejarem, potencializarem suas ações e identificarem parcerias. Através de algumas ferramentas interativas, os usuários podem explorar os resultados da pesquisa e conhecer as organizações mapeadas, buscar legislações que tratam do tema no país e entender o histórico na linha do tempo da mobilidade a pé. Todos os dados da plataforma são atualizados automaticamente, fazendo com que cada organização, ao se inscrever na rede, apareça instantaneamente nesse cenário virtual.
O relatório completo com todo o conteúdo do Como Anda pode ser acessado aqui.
Resultados do mapeamento de organizações
O tema da mobilidade a pé pode ser abordado de formas muito diversas e em distintos níveis de aprofundamento, tendo sido encontradas organizações cujo foco principal é a mobilidade a pé (27%); organizações cujo tema principal não é a mobilidade a pé, mas que têm ações importantes voltadas para o tema (30%); ou ainda organizações sem foco no tema e sem ações exclusivas, mas que tratam da mobilidade a pé sempre dentro de um contexto mais amplo (42%). Esses grupos possuem, em sua maioria, atuações nas áreas de políticas públicas (45%) e arquitetura e urbanismo (42%).
Do total de organizações mapeadas até agora, 78 (59%) têm sede no estado de São Paulo, sendo 72 (92% destas) com sede localizadas na Capital, o que sugere que a cidade de São Paulo lidera o movimento que promove mobilidade a pé no país. Outro ponto relevante é que a maioria (75%) das organizações mais citadas como referência no tema estão sediadas na cidade de São Paulo.
Os grupos são recentes: mais da metade (52%) das organizações surgiram a partir de 2013, sendo que esse número aumenta consideravelmente (76%) para as organizações cujo foco principal é a mobilidade a pé. É relevante que no ano de 2016, das 7 organizações que surgiram, 6 (86%) têm foco em mobilidade a pé. Isso indica que, cada vez mais, emergem grupos que querem atuar pelos pedestres em todo o país. Alguns fatores podem explicar esse “boom”, como as eleições de 2012, a instituição do Política Nacional de Mobilidade Urbana em 2012, as reivindicações por todo o país nas jornadas de junho de 2013, a maturidade do movimento cicloativista a partir de 2013 e, também, o programa governamental da cidade de São Paulo com enfoque nos espaços públicos e mobilidade urbana que parece ter impulsionado a atuação por outras causas menos consolidadas na mobilidade, como a mobilidade a pé.
Resultados do levantamento da legislação
Como Anda inaugura banco de dados inédito com todos os marcos regulatórios que influenciam a infraestrutura, governança e gestão dos espaços da mobilidade a pé no Brasil. A plataforma fornece ainda uma análise acerca das sobreposições, gargalos e oportunidades para a promoção de melhores condições aos pedestres nas cidades brasileiras.
Ao analisar as leis percebe-se que a prioridade ao pedestre está sempre presente nos princípios, diretrizes e objetivos, porém são escassos os dispositivos que efetivamente possam trazer resultados práticos que qualifiquem as calçadas brasileiras.
Algumas medidas podem contribuir para a melhoria da mobilidade a pé, como: entender as calçadas como parte do sistema viário e da rede de mobilidade urbana e ter recursos garantidos para sua manutenção; divulgação de normas para construção e reforma das calçadas de forma didática pelas municipalidades, bem como disponibilização técnicos para auxiliar nos casos especiais; sinalização semafórica que priorize o pedestre, diminuindo tempo de espera; garantia a intermodalidade nos deslocamentos, tratando da mobilidade a pé associada às redes de transporte público e demais modos de transporte nos Planos de Mobilidade; entre outros.
Por fim, deve ser discutida de forma ampla e participativa a questão da responsabilidade de execução e manutenção de calçadas, abordando formas de financiamento de obras e desenhos institucionais que garantam a existência de uma entidade na esfera municipal responsável por compatibilizar os diferentes projetos para a rede de mobilidade a pé, em especial quando se trata de calçadas, considerando a variedade de agentes que atuam no território
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Sobre o Como Anda
O Como Anda é o espaço de encontro das organizações que atuam pela mobilidade a pé no Brasil e busca compreender quem são e como atuam as organizações que trabalham com o tema, promover a pauta com levantamento de dados e estudos de caso e contribuir com a articulação do movimento. O projeto é desenvolvido pelas ONGs Cidade Ativa e Corrida Amiga com o apoio do Instituto Clima e Sociedade.
Como participar
Para participar do Como Anda as organizações podem responder ao questionário diretamente no site. As questões exploram as informações referentes à sua criação e motivações, além de dados sobre sua abordagem, recursos financeiros, comunicação, forma de atuação e parcerias.
Sobre a Cidade Ativa
Cidade Ativa é uma organização social que luta por cidades mais inclusivas, resilientes e saudáveis. Suas iniciativas buscam incentivar comportamentos mais ativos e estão focadas na leitura e transformação da paisagem - através de pesquisas e projetos que modificam o ambiente construído - e na transformação das pessoas - com campanhas e disseminação de conhecimento.
Sobre a Corrida Amiga
Corrida Amiga é uma rede de voluntários que surgiu no início de 2014, visando incentivar o transporte a pé. Os voluntários atuam como agentes multiplicadores com a missão maior de transformar a vida das pessoas, estimulando-as a trocarem o carro - e a vida sedentária - pelo tênis. No intuito de garantir que mais pessoas realizem seus deslocamentos a pé, tem também uma forte atuação em advocacy e pesquisa.
Sobre o iCS (Instituto Clima e Sociedade)
O iCS é uma organização filantrópica que promove prosperidade e economia de baixo carbono no Brasil. Formamos parte de uma rede de refinanciadores filantrópicos que catalisam políticas climáticas de nível global, nacional e regional para reduzir a emissão de gases de efeito estufa. A rede inclui ClimateWorks Foundation, Energy Foundation, China Energy Foundation, European Climate Foundation, Latin America Regional Climate Initiative – Mexico e Shakti Sustainable Energy Foundation – India.