Para mim, e creio que para a maioria das pessoas que dia após dia exigem de seus corpos apenas o mais cotidiano, é fácil eu me entender como um corpo que pensa, ao invés de uma mente com um corpo. Como se meu corpo me contivesse sem eu realmente ser eu mesma. Somos um corpo ou temos um corpo? a pergunta foi confrontada por distintos filósofos desde os tempos de Platão e, para ser realista, não vou dar esta resposta. E, francamente, não estou buscando por ela, nem sequer havia pensado nela se não fosse pelo dia que visitei o Dia:Beacon e conheci, por fim, as Elipses Torcidas de Richard Serra.
Um pouco como a arquitetura, a escultura de grande escala é vivida de duas maneiras: a primeira é consumi-la como um todo; observá-la desde longe para a compreender como uma forma. A outra - a mais pessoal - acontece ao habitá-la, para realmente experimentar sua escala. Sucede algo curioso quando se está parado frente a algo tão contundente e, por não encontrar uma melhor maneira de descrever, tão material.
Segundo a página do Dia:Beacon, "Estas instalações de grande escala de lâminas de aço contorcidas são caracterizadas pela orientação e movimento, desestabilizando nossa experiência do espaço enquanto tentamos compreender cada volume escultural. São parte da investigação de Serra sobre a experiência encarnada da percepção". Me desculpem se eu me distanciei do jargão artístico, mas a melhor maneira para descobrir a experiência de habitar estes espaços é que, estando ali, não tinha dúvidas de que sou um corpo, matéria que enfrenta outra matéria - mesmo que evidentemente pesada e estática, consegue parecer dançar sem esforços.
Já havia escrito antes sobre o perigo que radica em propagar uma arquitetura inerentemente visual, nos ocupando de estimular à visão e deixando de lado os demais sentidos. Mantenho mais firme do que nunca esta convicção e asseguro que, como arquitetos, há algo para aprender na sala de Serra no Dia:Beacon.