Quantas vidas tem uma grande obra de arquitetura? A primeira começa quando é construída e habitada, e é julgada pelo impacto que tem sobre a qualidade de vida dos seus habitantes. A segunda chega gerações depois quando sua relevância se torna histórica e talvez sua função inicial já não se adapta a sociedade que a cerca. O valor deste tipo de edifício reside no fato de que eles nos comunicam o passado e, por isso, sua conservação é necessária.
Entretanto, na América Latina, existem incontáveis casos de edifícios com grande valor arquitetônico que se encontram em estados lamentáveis de descuido e deterioração. Apresentamos sete exemplos a seguir:
1. Restaurante Los Manantiales / Félix Candela
Cidade do México, México
Este edifício, construído em 1957, está localizado em Xochimilico e é um espaço de grande significado cultural para a Cidade do México devido a suas origens pré-hispânicas. Candela propôs um desenho que pudesse se integrar com os jardins a partir da sua estrutura, flutuante, similar a uma flor de lótus, formada pela intersecção de 4 paraboloides hiperbólicos.
Atualmente, o edifício continua funcionando como restaurante e espaço de dança com grupo musical ao vivo, entretanto, os espaços interiores e exteriores já viveram dias melhores. A umidade e o tempo se refletem na pintura, que cai aos pedaços, enquanto os refletores afixados na laje não seguem mais um mesmo padrão e quando queimam não são substituídos.
2. Parador Ariston de Marcel Breuer
Mar del Plata, Argentina
Localizado no bairro de La Serena, em Mar del Plata, Argentina, foi projetado pelo arquiteto húngaro Marcelo Breuer e construído no ano de 1948. A intenção por trás do projeto foi acolher reuniões sociais, bailes e coquetéis, para tanto, foi projetada uma planta elevada com formas curvas inspiradas na imagem de um trevo, permitindo o máximo envidraçamento e entrada de luz solar.
Lamentavelmente, o edifício está em ruínas e total abandono, apesar de algumas iniciativas cidadãs que tentaram recuperá-lo. Os muros estão grafitados e as janelas vedadas com madeira, estados que dificilmente poderão melhorar já que o Parador Ariston não é protegido e nem figura dentro da lista de bens patrimoniais da cidade de Mar del Plata.
3. Casa Robles Castillo de Luis Barragán
Guadalajara, México
Em 1926, o doutor Adolfo Robles León encarregou, ao então jovem arquiteto, Luis Barragán seu primeiro projeto residencial e o resultado foi a Casa Robles Castillo localizada na colônia Americana da cidade de Guadalajara.
Recentemente, o imóvel foi alugado para distintos fins comerciais, entre eles um restaurante-bar, uma franquia de Subway, e atualmente uma taqueria estilo Tesistán. Entre alugueis, a casa sofria de abandono e vandalismo, por isso, mesmo sua mudança de vocação tendo ocasionado discussão é, sem dúvida, preferível.
4. Edifício Copelec de Juan Borchers, Jesús Bermejo e Isidro Suárez
Chillán, Chile
Declarado Monumento Histórico em 2007, este edifício da cidade de Chillán é considerado como uma das obras mais importantes da época. O edifício brutalista foi desenhado pelo escritório de Juan Borchers, conformado pelos arquitetos Juan Borchers, Jesús Bermejo e Isidro Suárez em 1962. É uma das poucas obras construídas por Borchers (1910-1975) sendo, juntamente com a Casa Meneses, sua obra mais emblemática.
Ainda que em 2013 correram rumores que anunciavam que o edifício seria restaurado para ser convertido em Centro Cultural, atualmente mantem seu uso original como escritórios do seu proprietário, a Cooperativa Elétrica de Chillán, estacionamentos, armazéns e oficinas de bicicletas.
5. Santa Paula Iate Clube
São Paulo, Brasil
Este grande edifício de 1961 é definido por uma cobertura retangular em laje tripartida, com oito pilares dispostos simetricamente em ambos lados, apoiados diretamente nos blocos de fundação sobre muros revestidos em pedra. Um pavimento mais alto confere continuidade da cota da avenida e um térreo que ocupa dois terços da área de projeção da cobertura, situado no nível do lago, conforma uma base semi-enterrada envolta pelos muros de arrimo.
Ainda que o edifício possua um grande valor dentro da arquitetura moderna brasileira, ao deixar usado começou a se deteriorar.
6. Ladeira da Misericórdia de Lina Bo Bardi
Pelourinho, Brasil
Lina Bo Bardi foi uma das arquitetas mais importantes e expressivas da arquitetura brasileira do século XX. O edifício Ladeira da Misericórdia, construído em 1987, consta de um conjunto de cilindros em argamassa armada que abriga um restaurante com uma grande árvore crescendo em seu centro e com a luz natural banhando o espaço a partir da cobertura.
O edifício é um importante exemplo da união harmoniosa da arquitetura colonial com o movimento modernista. Entretanto, atualmente, a Fundação Gregório de Mattos, proprietária do edifício, mantem o projeto esquecido e descuidado com escombros no solo e persianas quebradas.
7. Estufa do Parque Quinta Normal
Santiago, Chile
A estufa do Parque Quinta Normal é um Monumento Nacional de Santiago que guarda uma história de 150 anos. Segundo os estudos, estima-se que foi construído em 1866 e instalado no parque em 1890 como um observatório de plantas. Entretanto, desde 1995, não há um uso definido e o edifício permanece abandonado.
Apesar de em 2014 terem surgido anúncios a respeito da restauração do lugar, foi apenas em abril de 2016 que o Conselho de Monumentos Nacionais aprovou a iniciativa apresentada pela Prefeitura de Santiago. O projeto de restauração será levado a cabo este ano.