Desde seu princípio, o cinema esteve intimamente ligado à arquitetura, se apoiando nela para construir cenas que gerem emoções e transportem o público a outros mundos. Mas a realidade virtual rompeu com todos os esquemas pré-estabelecidos, sendo um meio que pode aspirar a produção de algo além das emoções: a empatia.
"Um filme busca enquadrar a duração de cada cena, a justaposição das imagens editadas", explicou o premiado cineasta Alejandro González Iñárritu, "mas um filme sem enquadramento é como um carro sem rodas. Deixa de ser um carro. É um avanço".
A estreia mundial de "CARNE y ARENA", instalação de realidade virtual criada por Iñárritu, aconteceu durante a 70ª edição do Festival de Cannes e foi o primeiro projeto de seu tipo a ser incluído na seleção oficial do festival. O projeto experimental é baseado nas histórias reais de quem tenta cruzar a fronteira México/Estados Unidos, colocando os usuários no meio de uma cena de confrontação entre imigrantes e agente fronteiriços.
Tanto a crise dos refugiados que enfrentamos como a última eleição presidencial dos Estados Unidos deixam clara a urgência política em alcançar a empatia com os grupos sociais mais vulneráveis do mundo. No entanto, que outros aspectos das nossas vidas cotidianas podem ser transformados com a realidade virtual?
A representação na prática arquitetônica se transformou com o decorrer do tempo, passando da prancheta à representação 2D e 3D realizada em computadores. Mesmo que os renders em imagens e vídeos permitam mostrar os aspectos básicos de um desenho, ainda não é possível imergir e comunicar a experiência envolvente de habitar um espaço.
O projeto de Iñárritu talvez seja o melhor exemplo realizado até agora sobre o uso da tecnologia para transportar completamente os usuários a um lugar virtual. Como arquitetos, é o momento de prestar atenção e explorar as maneiras nas quais a realidade virtual e vídeos 360º podem influenciar a nossa disciplina, proporcionando novas maneiras de comunicar os projetos.