Barcelona, a segunda maior cidade espanhola, já virou referência em muitos aspectos devido ao planejamento urbano voltado às altas densidades, às medidas de redesenho urbano e a ações pela qualidade de vida da população. Grande parte das iniciativas fazem parte dos esforços para combater a poluição do ar e seus consequentes problemas. Agora, ao observar a distribuição dos espaços verdes, Barcelona traçou um plano que deverá transformar a cidade.
A bela e histórica arquitetura da cidade catalã, assim como as famosas superquadras, formam uma rede de ruas repletas de edifícios, mas que também abrigam árvores e pequenos jardins. O verde está presente em toda a malha urbana de Barcelona; no entanto, os maiores parques se encontram em regiões isoladas, mal distribuídos pela cidade. A floresta urbana de Barcelona conta com cerca de 153 mil unidades de 150 espécies diferentes, 1.076 hectares de parques e jardins (concentrados principalmente em três bairros), 1.795 hectares no limite municipal, no Parque Natural de Collserola, 740 hectares de verde privado e 54 espaços de interesse natural. Isso equivale a 17,71 metros quadrados de verde por habitante (dos quais 6,48 encontram-se na malha urbana).
A alta densidade populacional de Barcelona amplia ainda mais o problema conhecido como ilha de calor, efeito que a cidade luta para minimizar – a diferença de temperatura entre a área central e a periferia, onde a mancha verde é maior, chega a até 7°C. Ainda que outras estratégias presentes na arquitetura possam contribuir para a diminuição da temperatura, o fato é que as mudanças climáticas irão potencializar esse efeito e tornar a temperatura cada vez mais desconfortável.
A fim de mudar esse cenário e planejar melhor suas estratégias, Barcelona lançou o Plano do Verde e da Biodiversidade 2020, que visa conservar e melhorar o patrimônio natural da cidade. O plano propõe aumentar as manchas verdes e conectá-las entre si para formar uma infraestrutura ecológica robusta e eficaz.
Essa infraestrutura desejada tem a missão de facilitar o funcionamento da cidade, assim como os outros tipos de serviços básicos presentes. “Queremos que a natureza na cidade configure uma autêntica rede verde e não um mapa de espaços isolados. Essa rede deve ser considerada uma infraestrutura ecológica, no sentido que constitui uma parte integral básica da cidade, que oferece não só um serviço ambiental, mas também social”, diz o plano.
A rede será interligada através dos chamados corredores verdes. São faixas abundantes em vegetação que vão atravessar o tecido urbano, garantindo a conexão entre as manchas verdes, e que devem ser de uso exclusivo, ou pelo menos prioritário, de pedestres e ciclistas. Esses corredores irão se distinguir das demais vias pela qualidade do espaço para caminhar, pedalar ou simplesmente estar, devido à presença da natureza, e por isso têm o potencial de tornar toda a cidade mais saudável e amigável.
Com o Plano do Verde, Barcelona encontrou espaço para a construção de novos jardins que também serão conectados aos corredores. A continuidade dos espaços verdes “permite a mobilidade de organismos que se encontram de forma a não interromper os processos e fluxos ecológicos que os caracterizam em relação à água, matéria, vida selvagem”, afirma o documento. Os telhados verdes e plantas trepadeiras em prédios também serão explorados pela cidade para minimizar o reflexo do sol e, dessa forma, ajudar no resfriamento dos seus arredores.
Um dos maiores novos espaços já está em construção. Ele ampliará a área de uma praça já existente, rodeada pelo tráfego de veículos, que por sua vez estão sendo desviados para túneis próximos. Antes envolta por viadutos, a Plaça de les Glòries Catalanes será um dos pontos verdes centrais da cidade. O plano ambiciona, ainda, plantar árvores em dez grandes pátios interiores do distrito de Eixample, enquanto outras dez praças da cidade terão restrições de estacionamento, garantindo ainda mais espaço livre para o plantio.
Ao todo, o Plano do Verde estabelece dez linhas de ação estratégicas, que também podem ser exemplo para outras cidades ao redor do mundo.
- Conservar o patrimônio natural da cidade
- Planejar o verde urbano buscando a conectividade e uma distribuição equitativa
- Planejar a cidade e os espaços verdes considerando os serviços ambientais critérios favoráveis à biodiversidade
- Criar novos espaços de natureza e aumentar a presença do verde e da biodiversidade
- Gerenciar parques, jardins e demais áreas verdes segundo critérios de eficiência e sustentabilidade e promover a biodiversidade
- Preservar e valorizar o patrimônio cultural, especialmente em jardins históricos
- Promover o conhecimento para a gestão e a conservação dos espaços verdes e da biodiversidade
- Divulgar conhecimento sobre o verde e a biodiversidade, bem como seus valores, promovendo treinamentos
- Promover áreas verdes como espaços de saúde e lazer e estimular o envolvimento dos cidadãos na criação dessas áreas e na conservação de sua biodiversidade
- Fortalecer a liderança municipal, a rede e o compromisso com a conservação do verde e da biodiversidade
Planos brasileiros
As cidades brasileiras aos poucos acompanham a tendência mundial de proteção e fomento de suas florestas urbanas. Campinas, por exemplo, trabalha na elaboração do seu Plano Municipal do Verde (PMV), documento que definirá programas e ações para os próximos dez anos na cidade com o objetivo de “assegurar qualidade, quantidade e distribuição das áreas verdes”. A construção do plano será realizada de forma interdisciplinar com as distintas áreas da gestão pública, estabelecida por meio de Grupo de Trabalho e com ativa participação popular.
Semelhante ao plano de Barcelona, o PMV também almeja a criação de corredores verdes ao adotar o conceito de Linha de Conectividade, que indicará quais locais deverão ser recuperados, visando à integração de áreas ecológicas. A cidade quer estabelecer 280 quilômetros de linha de conectividade para a implantação dos corredores até 2026 e 1.590 hectares de Áreas de Preservação Permanente (APPs).
Além disso, um projeto liderado pelo ICLEI – Governos Locais pela Sustentabilidade e financiado pelo Ministério Federal Alemão do Meio Ambiente, Conservação da Natureza, Construção e Segurança Nuclear (BMUB), escolheu a região metropolitana de Campinas como modelo do INTERACT-Bio. Belo Horizonte e Londrina também foram escolhidas como cidades parceiras na implantação.
O projeto será implementado no Brasil, Índia e Tanzânia e visa trabalhar com os governos subnacionais desses países para alinharem seus planejamentos com as Estratégias e Planos de Ação Nacionais de Biodiversidade (EPANBs). A partir de capacitações técnicas, as regiões receberão apoio para compreender o potencial da natureza e suporte para que incorporem em seus processos de planejamento questões relacionadas à biodiversidade e serviços ecossistêmicos.
Via TheCityFix Brasil.