Radiações, um projeto nômade sobre corpo, memória e território em Valparaíso

Para o filósofo Georges Bataille, a arquitetura é a expressão do ser das sociedades, de forma similar a como a fisionomia é a expressão dos indivíduos. No entanto, o problema é que aqueles que são representados geralmente são os personagens oficiais, vinculados à institucionalizado da sociedade. Assim que, para Bataille, a arquitetura -e em especial o monumento-, inspiraria tanto a sabedoria social como também um verdadeiro temor, "dirigindo e impondo o silêncio das multidões".

A região histórica de Valparaíso (Chile) desde julho de 2003 ostenta o título concedido pela UNESCO de cidade Patrimônio da Humanidade, fundamentalmente por ser um "testemunho único dos inícios da globalização do século XIX". Essa condição colaborou com o desenvolvimento de uma maior preocupação pelos valores patrimoniais da cidade, movendo capitais e projetos para sua proteção, conservação e recuperação e, ao mesmo tempo, criou uma tendência a ocultar a condição de uma cidade viva em constante desenvolvimento. Em seu status de museificação, o poder dos monumentos - de forma equivalente ao que sugere Bataille- impôs seu silêncio.

Conceptualización: Plaza Sotomayor. Image Cortesía de Escuela de Arquitectura, Universidad Finis Terrae

A apresentação da Escola de Arquitetura da Universidade Finis Terrae se propõe como uma instância através da qual seria possível debater sobre a natureza do patrimônio até 2050, entendendo-o como aqueles locais e obras que celebram os mais profundos desejos cidadãos, mais do que dos monumentos.

Idealizado como uma rádio que emite um programa que se passa em 2050, Radiações se propõe como um projeto nômade que percorre a cidade através de um veículo-pavilhão. Estabelece-se um diálogo que envolve tanto aos estudantes e docentes da Escola de Arquitetura, como alguns dos principais atores sociais que estão pensando e atuando sobre a cidade de Valparaíso. Em um debate aberto, a ênfase está em imaginar os projetos e lugares em torno dos quais a cidade poderia ser representada.

Praça Sotomayor. Imagem © Bettina Kagelmacher

Para isso foram escolhidos quatro espaços públicos de Valparaíso - ícones de seu patrimônio - como lugares em que o veículo-pavilhão se instala para realizar as entrevistas: Praça Igreja La Matriz, Praça Sotomayor, Praça da Intendencia e Avenida Argentina (em frente à paróquia dos Doce Apóstoles) para dialogar com Metropolítica e José de Nordenflycht.

O projeto nasce de um concurso interno entre docentes da Escola de Arquitetura da Universidade Finis Terrae no qual se escolheu a proposta liderada pelo professor Gonzalo Carrasco junto a sua equipe formada por Anna Braghini, Pedro Livni e a aluna Belén Salvatierra. Segundo explica Rodrigo Santa María, coordenador do projeto, trata-se de "uma proposta que se baseia no diálogo e que é capaz de abrir a discussão do espaço físico onde se desenvolve a XX Bienal de Arquitetura e Urbanismo do Chile, o Parque Cultural Valparaíso, para mover-se ao redor de diversos espaços públicos icônicos da cidade, onde todo o cidadão pode participar dessas radiações".

La Matriz. Imagem © Francisco García Huidobro

O levantamento dos conteúdos do projeto foi desenvolvido no Workshop "Valparaíso Polígono Unesco?" com estudantes de Projeto V, coordenado pelos fundadores do estúdio argentino a77 (Lucas Gilardi e Gustavo Diéguez), colaboradores do projeto, além do arquiteto uruguaio Pedro Livni e os docentes Gonzalo Carrasco e Francisco García Huidobro. Durante o segundo semestre realizou-se um segundo workshop, desta vez de obra, coordenado pelos docentes Andrés Echeverría e Diego Alvarellos, para a etapa de construção do projeto Radiações.

La Matriz. Imagem © Francisco García Huidobro

Na linha dos Diálogos Impostergáveis dessa Bienal, quisemos gerar nosso próprio debate entorno da cidade, que envolvesse acadêmicos, estudantes, cidadãos e atores chave no desenvolvimento arquitetônico da cidade e que nossa Escola de Arquitetura fosse parte da mostra com vozes que convidem a imaginar Valparaíso de uma perspectiva arquitetônica.

Projeto: Radiações: corpo, memória e território
Instituição: Universidade Finis Terrae, Chile
Localização: Valparaíso, Chile
Equipe de desenvolvimento:
 Magdalena Sierra, Francisco García-Huidobro, Rodrigo Santa María, Gonzalo Carrasco, Ana Braghnini, Lucas Gilardi, Gustavo Diéguez, Pedro Livni, Belén Salvatierra, Andrés Echeverría, Diego Alvarellos, Monserrat Bernedo, Gianluca Bonura, Tomás Calvo, Matías Cancino, Edith Castro, Matías Cook, Cristian Elster, Christian Guldman, Luca Emilio Longo, Juan Francisco Mamani, Estefanía Parada, José Ignacio Prenafreta, Nicolás Rojas, Carmina Salinas, Karina Silva, Benjamín Valenzuela, Felipe Venegas, Constanza Aguirre, Catalina bueno, Valentina Cubillos, Enrique Barriga, Diana Peña, Carla Fogar, Andrés Salvo, Carlos Mechasqui, Bettina Kagelmacher, Maximiliano Lindhorst, Pablo Cortés.

Praça da Intendencia. Imagem © Francisco García Huidobro
Praça da Intendencia. Imagem © Francisco García Huidobro
Módulo fechado. Imagem © Macarena Norambuena

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Sobre este autor
Cita: Sierra, Magdalena. "Radiações, um projeto nômade sobre corpo, memória e território em Valparaíso" [Radiaciones, un proyecto nómade sobre cuerpo, memoria y territorio en Valparaíso ] 19 Nov 2017. ArchDaily Brasil. (Trad. Daudén, Julia) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/883305/radiacoes-um-projeto-nomade-sobre-corpo-memoria-e-territorio-em-valparaiso> ISSN 0719-8906

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