Do Blog da Fundação Arquia, a arquiteta Virginia Navarro nos traz um artigo que reflete sobre os motivos e a importância de aproximar as crianças da arquitetura.
Nos últimos anos houve um notável incremento no número de arquitetos que, de forma ocasional ou continua, dedicaram parte de sua atividade à realização de oficinas de arquitetura para crianças. Os objetivos dos mesmos foram tanto relacionados a formação (desenvolver o pensamento crítico acerca do entorno construído, conhecer o patrimônio cultural e urbano, fomentar a inteligência espacial e a criatividade etc.), quanto a informação: recolher dados acerca das necessidades da criança dentro de projetos mais complexos, normalmente de caráter social ou participativo.
É verdade que uma primeira leitura poderia nos levar a pensar que tais iniciativas surgem como alternativa profissional do arquiteto em tempos de crise, mas sua escassa rentabilidade unida à rápida proliferação em diversos países demandam uma leitura mais aprofundada.
Trata-se, por parte, da iniciativa de um grande número de arquitetos para impedir a repetição de modelos errôneos do passado e reduzir a distância que criou-se entre a profissão e a sociedade através do ensino. Se educar sobre o meio natural é algo que hoje se da por pressuposto, basta um único dado para entender a importância da educação sobre o meio construído: no ano 2050 sete em cada dez pessoas viverão em cidades.
Estes objetivos foram reforçados por três fatores: o novo papel social do arquiteto, o auge da participação cidadã e a busca de modelos educativos alternativos. São justamente os processos participativos que demonstraram a necessidade de que qualquer cidadão possua um mínimo de competências e habilidades espaciais.
A educação em arquitetura já foi abordada com êxito em outros países, grande parte deles a partir da educação formal. Javier Encinas [1] expõe interessantes iniciativas desenvolvidas na França, no Reino Unido, na Alemanha, na Itália e em Portugal. No entanto, a Finlândia acaba sendo o país que possui a experiência mais ampla na educação de arquitetura dentro do currículo nacional. Sua atividade dentro dos colégios se vê complementada com escolas de divulgação específicas de arquitetura para crianças e jovens como Arkki (Helskinki, Espoo e Vantaa) e Lastu (Pohjois-Savo) nas quais se formam professores, alunos e famílias.
Por outro lado, autores como Juan Bordés ou Xavier Monteys nos recordam do impulso construtor que toda criança possui em seu período de formação: na infância se constrói com a mesma naturalidade com a qual se desenha. De fato, as qualidades educativas dos blocos de construção foram demonstradas há mais de um século e sua vigência faz com que sigam fazendo parte do material escolar. Mais recentemente, autores como Howard Gardner identificaram a "inteligência visual e espacial" como uma das sete inteligências que definem cada indivíduo.
A educação em arquitetura é, portanto, uma encruzilhada na qual se encontram formação natural, necessidade social e objetivos a longo prazo para gerar e exigir melhores entornos construídos. Por que ensinamos arquitetura às crianças? Sobram motivos.[2]
[1] https://arquitecturayeducacion.wordpress.com/2016/01/13/formacion-en-arquitectura-educacion-reglada/
[2] Informe de educação de arquitetura para crianças: Jorge Raedó: http://fronterad.com/?q=informe-sobre-educacion-arquitectonica-para-ninos-en-espana-y-latinoamerica
Este artigo foi originalmente publicado como "'¿Por qué enseñar arquitectura a los niños?' no blog Fundación Arquea e escrito por Virginia Navarro. Leia mais de seus artigos aqui.