A primeira solução geralmente encontrada para uma cidade que precisa acomodar um número crescente de habitantes é se espalhar-se, estender seu território. Infelizmente, essa prática é a mais custosa ao próprio município e contribui para o segregamento e a desigualdade socioespacial. As cidades precisam encontrar um caminho que as estabeleça como locais prósperos para as pessoas e para a economia. Um recente estudo afirma que o segredo para isso pode ser a “boa densidade”.
Qualificar um espaço como tendo uma “boa densidade” é muito mais do que ter um alto número de pessoas residindo ou trabalhando em uma determinada área. Características como planejamento de uso misto do solo, conectividade, infraestrutura de transporte sustentável, entre outros elementos, são fundamentais.
De acordo com uma pesquisa realizada pela Coalition for Urban Transitions, iniciativa da New Climate Economy, e pelo Urban Land Institute (ULI), as evidências indicam que os aumentos da densidade urbana estão ligados a queda de emissões de carbono e consumo de energia locais e per capita. A redução nas emissões é associada primeiramente ao menor uso de veículos motorizados particulares, mas também tem origem na melhor eficiência energética em edificações, menos infraestrutura construída e menos alterações no uso do solo nas periferias urbanas.
“Os prédios e infraestrutura construídos ao longo dos próximos 50 anos irão acarretar consequências substanciais para nossa economia, qualidade de vida e, acima de tudo, o meio ambiente”, afirma o relatório. Além disso, segundo os autores, cidades com “boa densidade” serão a longo prazo as mais resilientes e prósperas, já que terão maior probabilidade de fornecer retornos de investimento imobiliário.
Somadas, as futuras mudanças em fatores demográficos, econômicos e tecnológicos irão aumentar a necessidade da densidade nas cidades, especialmente a chamada “boa densidade”. Intitulado “Apoiando o Desenvolvimento Urbano Inteligente: Investimento com Sucesso na Densidade” (Supporting Smart Urban Development: Successful Investing in Density), o trabalho é a primeira tentativa de quantificar o impacto causado pela “boa densidade” em retornos de investimentos e nas emissões de carbono.
O relatório identificou as características que representam a “boa densidade” a partir de uma revisão literária e da análise quantitativa de 63 cidades globais. Os seis elementos encontrados estariam associados à melhor qualidade de vida nas cidades, mas também a maiores retornos, valores de capital e níveis de investimentos para imóveis comerciais. São eles:
- Estruturas de centralidades – Padrões de uso do solo dentro das cidades e na escala de região metropolitana determinam os níveis de movimento de geração de carbono, ou seja, viagens para o trabalho, reuniões de negócios e lazer. Eles também determinam o escopo para as chamadas economias de aglomeração e investimento interno e, portanto, influenciam as atividades econômicas e o crescimento.
- Infraestrutura econômica e de empregos – Conectividade e concentração de investimento estrangeiro, empregos de qualidade e de valor agregado, mão-de-obra, competências, diversidade e capacidade de inovação são fatores que contribuem para a criação de uma economia urbana forte e resiliente.
- Infraestrutura construída – Alguns dos elementos da infraestrutura construída que afetam a boa densidade são: planejamento de uso misto, projetos e tecnologia de qualidade, equipamentos e paisagem urbana em escala.
- Infraestrutura de transporte público – A capacidade do transporte público de atender à cidade, a acessibilidade à rede de transporte público e a qualidade do serviço contribuem para a boa densidade.
- Infraestrutura verde e azul – A rede de áreas naturais e semi-naturais, elementos e espaços verdes em áreas rurais e urbanas, de água doce, costeiras e marinhas são essenciais para uma boa densidade.
- Infraestrutura de governança – A coordenação de políticas nacionais, regionais e municipais; lideranças municipais e autoridade financeira; transparência e responsabilidade; e a coerência das políticas a nível local desempenham um papel na criação de uma boa densidade.
Essa lista de características pode ser importante para que potenciais investidores incorporem esses elementos em suas estratégias. Segundo o relatório, investidores imobiliários podem ter um papel crucial em fazer das cidades compactas e conectadas o futuro modelo de crescimento urbano. “Se a comunidade de investidores se comprometer a apoiar o desenvolvimento urbano, e se os projetos de infraestrutura que adotem os princípios de boa densidade forem apoiados por políticas públicas apropriadas, isso pode ter um impacto substancial na maneira como as cidades crescem e se desenvolvem”, afirma.
Os autores sugerem ainda que esse tipo de desenvolvimento pode ajudar a resolver problemas de desemprego, desigualdades sociais e questões climáticas, além de reforçar a capacidade da cidade de atrair capital internacional para investimentos imobiliários.
“As evidências mostram que, se bem feito, os investidores imobiliários de longo prazo, as pessoas e o meio ambiente não precisam estar em conflito sobre os esforços para colocar as cidades em um caminho de baixo carbono e mais igualitário. Pelo contrário, governos nacionais e locais e investidores imobiliários bem informados podem encontrar uma causa comum na promoção do melhor transporte coletivo, uso da bicicleta e transporte a pé, proteção de parques públicos e redução do desperdício de energia nas cidades”, disse Nick Godfrey, diretor da Coalition for Urban Transitions.
Via TheCityFix Brasil.