Declarado Bem de Interesse Cultural do âmbito distrital pela Resolução 626 de dezembro de 2017, o Centro Cultural García Márquez, em Bogotá, é o último projeto de Rogelio Salmona, que faleceu em 2007, um ano antes da sua inauguração. A seguir, a Fundação Rogelio Salmona compartilha as palavras que o próprio arquiteto colombiano escreveu sobre seu projeto no coração de Bogotá.
Ser convidado para desenhar o edifício sede do Fundo de Cultura Econômica do México, no coração de Bogotá, foi para mim, além de um privilégio, uma enorme responsabilidade intelectual, profissional e urbana.
Difícil tarefa a qual dediquei todos os meus esforços para poder inserir, na La Candelaria, centro histórico da cidade, uma arquitetura urbana respeitosa, que entendesse os desejos de bem-estar e de prazer e que expressasse uma modernidade coerente com o lugar da cidade onde se encontra, criando espaços públicos sem barreias, variados, apropriados para cada terreno e apropriáveis por todos os habitantes. Que permitissem uma ocupação sábia, política e generosa.
Procurei fazer uma obra aberta ao encontro, à alegria, ao prazer, à surpresa, à meditação, em que a arquitetura voltasse à sua condição de símbolo, assumindo um papel importante na nossa cidade, não somente por sua qualidade construtiva, por sua implantação respeitosa no lugar, mas também, e porque não dizê-lo, por sua beleza e significado.
Uma obra aberta, poque acredito que assim deve ser um edifício para a cultura e conhecimento. Uma obra assim pensada permite certas liberdades, ou melhor, as exige. Exige, por exemplo, compor com espaços abertos, surpreendentes, ricos em percursos que colocam em evidência a beleza do entorno, seu contexto urbano, suas silhuetas e paisagens, sua imponente geografia, com transparências entre suas partes, com fechamentos e luminosidades repentinas percorridas pelos muros ou pela água que corre indiferente, como seguramente o farão alguns de seus usuários, e isso é ótimo.
Como no passado, a arquitetura deve voltar a emocionar e construir o espaço público, ser a essência da cidade e, não como até agora, ser um espaço residual. Constitui um ato culto, humilde e de permanência.
A arquitetura está feita para ser vista, vivida e usada, tanto por quem ela pertence, como por todas aquelas pessoas que são testemunhas da sua presença na cidade. A arquitetura é um bem comum.