Como promover a discussão baseada em dados confiáveis durante as eleições, e a incorporação de indicadores de mobilidade urbana aos planejamentos a serem apresentados posteriormente, quandos os eleitos assumirem seus mandatos? Concentrada nesta pergunta, a equipe do Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP Brasil) têm feito um esforço, em parceria com a Purpose Climate Lab, para influenciar as campanhas das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Recife.
A estratégia é promover a articulação entre organizações e movimentos sociais que atuam localmente nas agendas de mobilidade e sustentabilidade. De posse de indicadores apurados e disponibilizados na plataforma MobiliDADOS, estas organizações passam a dispor de subsídios importantes para a incidência no debate eleitoral. A ferramenta apresenta dados ilustrados e contextualizados sobre a realidade do transporte em diversas cidades e regiões metropolitanas, fornecendo insumos para questionar as propostas dos candidatos aos cargos do Executivo e do Legislativo.
Alguns dos dados apurados são muito preocupantes, como, por exemplo, aqueles que evidenciam a fragilidade das políticas cicloviárias. Possível solução prática para quem quer ir e vir com mais liberdade e gastar menos, só agora a bicicleta começa entrar nos planos das cidades, ainda de forma embrionária. A cobertura da estrutura cicloviária nas cidades ainda é muito baixa e desigual - ainda mais quando se leva em conta o perfil de renda do usuário. O índice PNB (People Near Bike), disponível na plataforma, aponta que apenas 15% dos recifenses, 16% dos cariocas e 21% dos paulistanos que se enquadram na faixa de renda de até 3 salários mínimos vive perto de infraestruturas como ciclovias e ciclofaixas.
As bicicletas, aliás, deveriam ser mais seriamente encaradas como prioridade das políticas urbanas, não apenas por serem mais democráticas, gerarem benefícios para saúde pública e mais eficientes para vencer curtas distâncias, mas porquê a sua integração com o transporte público pode resultar em ganhos significativos de tempo e qualidade das viagens diárias.
Mudar essa realidade não requer apenas diálogo com os tomadores de decisão, mas diálogo qualificado e baseado em evidências. Por isso, a MobiliDADOS pode preencher uma lacuna durante o debate eleitoral e equipar as organizações da sociedade civil para uma incidência mais efetiva. Entretanto, principalmente, a apropriação dos indicadores e o uso de dados confiáveis deve ser objeto de cobrança constante, não apenas nas eleições, mas também momento de elaboração e monitoramento de planos e projetos. A transparência do poder público e a participação da sociedade podem nos levar a outro patamar de discussão; quando não será possível apresentar uma informação falsa como arma de disputa. Um passo de cada vez.