A pesquisa Aurelio Martinez Flores: a produção do arquiteto mexicano no Brasil (1960-2015) investiga a trajetória de vida e a produção arquitetônica do arquiteto Aurelio Martinez Flores (1929-2015) no período de 1960-2015, em consonância com a história da arquitetura na América Latina, e o crescente interesse em resgatar arquitetos que correram em paralelo às principais correntes arquitetônicas predominantes nas últimas décadas no Brasil. Sua produção, embora desconhecida, exerce enorme influência sobre uma das mais bem-sucedidas vertentes da arquitetura brasileira contemporânea.
Martinez Flores é arquiteto mexicano nascido em 1929, na cidade de Puebla, e formado pela Universidade Autônoma do México (1952-57), onde foi assistente de Jorge Gonzalez Reyna – arquiteto pela Universidade do Texas em Austin e pupilo de Walter Gropius.
Consta, nos registros de 1956 do arquiteto, colaboração a ser investigada de Martinez Flores com o escritório de Mies van der Rohe, em seu único projeto construído na América Latina – o Edifício Bacardi, na Cidade do México. A Knoll, empresa que desenvolveu grande parte do mobiliário moderno internacional, e que havia contratado Flores pouco tempo depois de formado – a mesma que o coloca em contato com Mies –, também será a responsável por seu trânsito pelas Américas.
Após estágio no Departamento de Design & Development na principal fábrica da Knoll nos EUA, já como Diretor Técnico da Knoll no México, e em decorrência da construção de Brasília, é enviado nos anos 1960 para o Brasil; onde por três meses acompanharia a produção de mobiliário para o Palácio da Alvorada – primeiro edifício inaugurado na Capital Federal –, e para a embaixada dos Estados Unidos.
Aurelio Martinez Flores tem sua estada prolongada pela loja Forma S.A., por uma década, quando dará contribuição fundamental na tropicalização das principais peças do mobiliário internacional – móveis de arquitetos e designers como Mies van der Rohe, Marcel Breuer, Eero Saarinen e Harry Bertoia, entre outros. Uma contribuição sem par no desenvolvimento já ascendente do mobiliário brasileiro.
De 1971 a 2006, Martinez Flores inaugura uma das primeiras lojas de mobiliário e objetos de design internacional – a Inter/design – além de seu escritório de arquitetura, na sobreloja. A partir desta data, com a dificuldade comum aos estrangeiros da época, terá como primeiros clientes os amigos, também estrangeiros de origem ou de família. Com os seus pares, Aurelio desenvolverá algumas de suas obras mais significativas, trabalhando por cinco décadas a fio em diversos projetos – com destaque para o Instituto Moreira Salles, em Poços de Caldas, e o edifício da CBMM, em São Paulo –, até falecer em junho de 2015.
Não obstante, nosso interesse em trazer à tona a trajetória do arquiteto não estaria completo, não fosse mencionado que, entre 1975 e 1976, Aurelio Martinez Flores lecionou na cátedra de Interiores na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo Mackenzie, ao lado de Silvio Oppenheim, em disciplina recém organizada pelo arquiteto Jacob Ruchti. No mesmo ano, também foi convidado por Luís Carta – fundador da Editora Três – para atuar como editor da seção de decoração da revista Vogue que, na época, contava com a colaboração de Pietro Maria Bardi, Otto Stupakoff, Ignácio de Loyola Brandão, Osman Lins, Paulo Francis, entre outros.
Durantes os dois anos em que lecionou no Mackenzie, Aurelio aproximou-se de um de seus estudantes, o arquiteto Isay Weinfeld, de quem, em demonstração de apreciação, já havia publicado a primeira obra de arquitetura, quando este ainda era estudante. A diferença de quase três décadas na idade entre os dois não o impediu que formalizasse um convite de sociedade a Weinfeld, recém-formado. Esta parceria de cinco anos, entre 1978 e 1983, foi a única sociedade formal criada por ambos. Especialmente, a obra seminal de Isay Weinfeld e Marcio Kogan – quem também fora aluno de Flores no Mackenzie – é tributária às lições do arquiteto estrangeiro.
À vista de sua longa trajetória, brevemente descrita, mas cheia de pontos de interlocução, são muitos os nós atados que aguardam desenlace. E é dentro desta correspondência interamericana que a dissertação de mestrado, Aurelio Martinez Flores: a produção do arquiteto mexicano no Brasil (1960-2015) pretende dirimir alguns. Certamente, não se trata apenas do resgate de mais um arquiteto ocultado pela história, mas sim do arquiteto cuja relevância para a arquitetura brasileira contemporânea – especialmente relacionada aos seus discípulos – tem conquistado territórios internacionais bem-sucedidos; da qual suas raízes merecem nossa devida consideração.
Leia a tese na íntegra no link abaixo:
Biblioteca Digital Mackenzie: Aurelio Martinez Flores : a produção do arquiteto mexicano no Brasil (1960-2015)
Aurelio Martinez Flores (1929-2015), arquiteto mexicano radicado no Brasil, deixou ao longo de sua vida profissional importantes contribuições que se materializam nos campos do design, interiores e arquitetura. Seu legado, ao mesmo tempo indelével e anônimo, se revela tanto nas suas obras quanto nas de seus alunos.
Nota 1: Aurelio Martinez Flores: a produção do arquiteto mexicano no Brasil (1960-2015) foi selecionado para exposição no 32º Prêmio Design do Museu da Casa Brasileira, na categoria trabalhos escritos não publicados. O trabalho está disponível permanentemente no acervo do MCB.
Nota 2: RODRIGUES, Felipe de Souza Silva. Aurelio Martinez Flores : a produção do arquiteto mexicano no Brasil (1960-2015). 2018. 372 f. Dissertação (Arquitetura e Urbanismo) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo. Orientador Abilio Guerra.
Sobre o autor
Felipe SS Rodrigues é arquiteto e mestre em arquitetura (FAU Mackenzie, 2014 e 2018) com estudos complementares na New Jersey Institute of Technology (2012) e no Pratt Institute em Nova York (2013). Colaborou com o arquiteto Isay Weinfeld (2011) e com Rem Koolhaas no OMA de Roterdã (2013). Atualmente é arquiteto do processo de reconstrução do Museu da Língua Portuguesa em São Paulo e colabora com a Magick Jc para a construção de habitação de interesse social no centro de São Paulo.