Na última semana convidamos nossos leitores pelas redes sociais a darem suas opiniões a respeito da pergunta: "O que significa arquitetura pública para você?". Essa é uma reflexão que faz parte do debate arquitetônico de forma permanente e entra em jogo em diversos tipos de projeto, sobretudo nos que se referem ao planejamento dos espaços de uso comum nas cidades.
- 100 Espaços públicos: de pequenas praças a parques urbanos
- Como avaliar a qualidade de um espaço público?
A função do âmbito público é iluminar os acontecimentos humanos ao fornecer um espaço das aparências, um espaço de visibilidade, no qual homens e mulheres podem ser vistos e ouvidos e revelar mediante a palavra e a ação quem eles são. Para eles, a aparência constitui a realidade, cuja possibilidade depende de uma esfera pública na qual as coisas saiam da escura e resguardada existência. - Fina Birulés
Acerca desse tema, muitos autores defendem opiniões diversas dentro do ambiente acadêmico sobre quais nortes devem ser empregados nas propostas de desenho público, mas sempre mantém em comum o entendimento da complexidade dessa questão, que envolve diversas áreas para além da arquitetura e do urbanismo. São pautas sociais, econômicas, políticas, de segurança, bem-estar, e diversas outras que dizem respeito à coletividade e, por isso, sem dúvidas, devem estar atreladas ao debate público e abertas à opinião dos cidadãos, que serão os usuários por definição desses espaços.
É interessante perceber que, ao abrir essa pergunta para leitores de diversos países, as respostas variam em termos do foco, mas em todos os casos a noção de que a coletividade deve estar implicada nesses espaços é comum. Algumas respostas são mais diretas e afirmativas, ligadas ao desenho em si: "Eu acho que tem a ver com urbanismo. Com as praças, com os locais públicos, calçadas", ou então, "Elementos viários, como mobiliário urbano". Enquanto outras opiniões transmitem uma percepção de certa atmosfera que deve existir nesse tipo de programa, como "o verdadeiro lar de todos" ou, simplesmente, "interação".
O tom comum entre as respostas também aparece em exemplos mais categóricos, de expressividade da dimensão política desses programas, como:
O nome já diz, da população, de acesso sem barreiras de classe. Acredito que todas [as arquiteturas] deveriam ser assim.
Uma plataforma que convida pessoas de diversas origens a conhecer e interagir.
Ou ainda, "um espaço que me permite me desenvolver, não apenas um radier superdimensionado", o "lugar onde o diverso e heterogêneo da sociedade coexistem harmoniosamente", e ainda, o "lugar de uso comum, que assume um compromisso com o público e negocia com o privado".
Considerar estas perspectivas no momento de projetar os espaços públicos é fundamental, uma vez que são eles os principais elementos de manutenção de um território democrático e que promove a pluralidade dentro das cidades. Essa compreensão fica evidenciada por algumas respostas que recebemos, como: "Arquitetura que envolve uma comunidade. Arquitetura pública deve ter um valor comunal", ou "a arquitetura pública deve refletir a história e a cultura da cidade". Outras visões corroboram, afirmando que uma arquitetura pública envolve "o desenho do espaço urbano democrático com a colaboração dos cidadãos", "a possibilidade de intervir para a melhoria de vida de sociedade" e ainda:
Espaço no qual as pessoas livres se desenvolvem.
Nesse sentido, também aparecem cometários a respeito da acessibilidade a esses locais. Segundo alguns de nossos leitores, a arquitetura pública deve "atender às necessidades de cada ser humano e tornar os espaços acessíveis para todos", caracterizando-se por "espaços bem pensados, disponíveis para que todos possam desfrutar livremente". Devendo ainda:
Olhar com sensibilidade para as necessidades existentes, ofertar edifícios funcionais e acessíveis.
Outras respostas reforçam o ideário da coletividade e da diversidade de temas implícitos nessa discussão. Ideias como democracia, sustentabilidade e a possibilidade de melhorar a qualidade de vida de uma comunidade não raro aparecem nos comentários, que postulam que um espaço público deve ser "verde, limpo, autogerido e autocuidado", "livre, democrático, sensível e amplo", refletindo "a expressão física das atividades humanas em um espaço" e incorporando "a possibilidade de intervir para a melhoria de vida de sociedade".
Referência bibliográfica
BIRULÉS, F. Del sujeto a la subjetividad. In: CRUZ, M. (Org.) Tiempo de subjetividad. Barcelona: Paidós, 1996.