O projeto para a fábrica da Fiat no bairro de Lingotto, em Turim (Itália), foi realizado pelo engenheiro Giacomo Mattè-Trucco em 1915. A construção começou no ano seguinte e foi feita em etapas, até a sua conclusão em 1923. Inspirada no fordismo, modelo de fabricação surgido nos Estados Unidos nos anos 1910, a fábrica foi projetada de forma que a linha de montagem dos automóveis fosse ascendente. Ao chegar à cobertura, os automóveis estavam prontos para serem testados numa pista com extensão de aproximadamente 1km.
O complexo de Lingotto é formado pela fábrica, de localização central; um edifício de escritórios, localizado à nordeste da fábrica, com alinhamento semelhante; e um centro de triagem, localizado na parte sul do complexo.
O edifício da fábrica possui cinco pavimentos e é sustentado por uma estrutura de concreto armado com pilares espaçados a cada seis metros. Sua geometria é formada por dois blocos conectados por cinco elementos transversais que possibilitam tanto a circulação horizontal como a vertical. A distribuição desses blocos de ligação configura três pátios internos descobertos. No topo da fábrica, a pista de testes - circundada por um guarda-corpo de 1,50 metro de altura - conforma duas curvas parabólicas nas extremidades.
Os automóveis seguiam o percurso de produção ascendente através de rampas helicoidais que conectavam os pavimentos distribuídos nos 27 metros de altura da fábrica. As rampas e a pista de testes na cobertura se tornaram elementos representativos do edifício e aspectos inovadores nos campos da arquitetura e da produção industrial.
A fábrica Fiat de Lingotto foi considerada a “primeira invenção construtiva futurista” por Filippo Tommaso Marinetti, Angiolo Mazzoni e Mino Somenzi no “Manifesto Futurista dell’Architettura Aerea” (1935). O futurismo – movimento que começou no campo das artes – e o racionalismo foram bem recebidos pelo governo à época e se tornariam símbolo de uma Itália fascista. A fábrica de Lingotto também foi palco de discursos de Mussolini nos anos 30.
Le Corbusier também visitou a fábrica e experimentou pessoalmente a pista de testes em 1934, classificando-a como um dos edifícios mais impressionantes da indústria. O arquiteto já havia elogiado sua forma clara, simplicidade, ordem e tensão moral na revista "L’Espirit Nouveau" antes mesmo de visitá-la.
No ano de 1939 a produção da fábrica de Lingotto foi interrompida devido ao início da II Guerra Mundial, quando o edifício se tornou ponto estratégico para o exército italiano. Após os bombardeamentos do período da guerra, a fábrica não voltou a produzir automóveis e o anúncio oficial do encerramento das suas atividades ocorreu em 1982.
Em 1984 foi realizado um concurso de ideias para novos usos e em 1985 a Fiat contratou o arquiteto italiano Renzo Piano para o projeto de reestruturação das instalações. Foram propostos novos usos para o edifício, como, por exemplo, centro comercial, hotel, auditório, cinema, anfiteatro e uma escola de engenharia automobilística. Além da reestruturação do antigo edifício, o arquiteto realizou intervenções na cobertura do edifício - uma sala de reuniões esférica de aço e vidro e um heliponto - e a Pinacoteca Giovanni e Marella Agnelli.