Arquitetura errante: 4 projetos que abraçam o erro (para o bem e para o mal)

Na arquitetura moderna, projetar envolve analisar, prever e determinar espaços e funções com precisão, sem lugar para erro. Ao longo da segunda metade do século XX, esse caráter racionalizante e guiado pela máxima eficiência foi duramente criticado, e errar – no sentido de vaguear, percorrer sem rumo e sem destino – passou a ser reconhecido como parte inevitável da experiência humana.

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Os seguintes casos exemplificam algumas maneiras de projetar o erro: duas modernas, que o negavam ou desconsideravam, e duas contemporâneas, que abraçam o desvio, gerando soluções interessantes, versáteis e duradouras.

Pruitt-Igoe / Minoru Yamasaki (1954)

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Pruitt-Igoe. Imagem via Wikimedia usuário Cadastral (Public Domain)

O conjunto residencial Pruitt-Igoe foi inaugurado em St. Louis, 1954, para resolver o problema de habitação de uma cidade crescente, e frear a proliferação de guetos insalubres. Poucos anos depois, no entanto, o conjunto passou a abrigar cada vez menos famílias, dando espaço para o rápido crescimento do crime organizado. Apesar de autores como Katharine Bristol apontarem a falta de compromisso governamental com habitação social como um fator importante, a decadência do conjunto, segundo Charles Jencks, se deve à incompatibilidade entre a linguagem purista, racional e eficiente do projeto e os códigos arquitetônicos tradicionais de seus habitantes. O conjunto começou a ser demolido em 1972.

Brasília / Lúcio Costa et al. (1960)

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Esplanada dos Ministérios em Brasília. Imagem: © Joana França

Com quase três milhões de habitantes, dos quais apenas uma pequena parcela reside na região do Plano Piloto, Brasília vagueou para bem longe de seus ideais modernos originais. As chamadas cidades-satélites, que não constavam no projeto de Lúcio Costa, se mostraram essenciais para sua execução e manutenção ao longo desses quase 60 anos. Se a demolição de Pruitt-Igoe pode demonstrar o limite do modernismo, o desenvolvimento paradoxalmente desordenado da capital brasileira nos mostra como o desvio surge e domina espaços que não lhe foram originalmente destinados.

Parc La Villette / Bernard Tschumi (1987)

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Parc La Villette. Imagem: Guilhem Vellut, via Flickr. Licença CC BY 2.0

O sistema de follies (estruturas sem sentido ou programa pré-determinados), sobre um sistema de caminhos e promenades entre eles, coloca o visitante na posição de errante, livre para desfrutar, da maneira que quiser, este parque urbano. Guiado por um ideal mais associado à cultura que à natureza, o Parc La Villette é uma alternativa radical aos tradicionais parques e bosques parisienses.

Escola de Arquitetura de Nantes / Lacaton & Vassal (2009)

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Escola de Arquitetura de Nantes. Imagem © Philippe Ruault

O edifício da Faculdade de Arquitetura de Nantes oferece espaços diversos para funções diversas, programadas ou não. A estrutura primária, em concreto, se define por três grandes plataformas distantes pelo menos seis metros uma da outra, e uma malha regular de pilares; nela, se encaixa a estrutura secundária, metálica, que define os espaços. Neste projeto, o escritório Lacaton & Vassal optou não apenas por dar espaço ao imprevisível, mas também por permitir – ou convidar, considerando que se trata de uma faculdade de arquitetura – reformas dinâmicas e ocupações efêmeras.

Publicado originalmente em 4 de novembro de 2019, atualizado em 6 de novembro de 2020.

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Sobre este autor
Cita: Rui Valporto. "Arquitetura errante: 4 projetos que abraçam o erro (para o bem e para o mal)" 14 Nov 2020. ArchDaily Brasil. Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/927657/arquitetura-errante-4-projetos-que-abracam-o-erro-para-o-bem-e-para-o-mal> ISSN 0719-8906

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