A necessidade global de buscar meios mais sustentáveis para atender novas demandas é um dos pontos mais estimulantes para o reuso de materiais ou estruturas na arquitetura atualmente. No campo da cenografia, a ressignificação de materiais para compor cenários é uma realidade há muito tempo. A prática profissional na área lida com a representação de uma cena, e para tal são utilizados elementos de caráter temporário e que buscam estimular a imaginação do espectador. Nesse sentido, o trabalho da cenógrafa Renata Mota tem aliado a ressignificação ao reuso de materiais - descartados ou doados - que perderam seu uso original para compor cenografias de espetáculos, exposições e outros eventos.
Galões, lâmpadas, paletes, plásticos, caixotes e garrafas são alguns dos materiais já utilizados pela arquiteta e cenógrafa em seus projetos. As cenografias propostas se baseiam na “verdade dos materiais”, ou seja, não têm o intuito de esconder o que está por trás da composição cenográfica, ou transformar o material para que sua aparência “mascare” a sua essência.
Os resultados cenográficos são obtidos a partir tanto da composição física dos elementos quanto da composição luminosa do conjunto, em um processo que passa do desenho à experimentação e possível adaptação, a depender do estado de conservação dos materiais e das ambiências resultantes de um teste na escala 1:1.
Em um dos seus projetos, realizados para um show musical beneficente para o Instituto de Cegos da Bahia e comemoração de 40 anos do jornal Correio, a cenógrafa reuniu mais de 500 lâmpadas de LED queimadas com o intuito de “reacendê-las” durante a apresentação. A composição dos tubos no palco reforçava a ideia da identidade visual das entidades envolvidas na comemoração; enquanto estruturas de andaime, que também compunham o cenário, reforçavam a poética urbana da música na cidade.
Renata Mota também vem desenvolvendo projetos cenográficos para as últimas edições da Feira Literária de Cachoeira (FLICA). Em uma das edições, páginas de livros antigos foram transformadas, através de dobraduras, em tsurus (origamis japoneses) pendurados em uma árvore feita do mesmo material, como representação imaginativa da árvore como símbolo de conhecimento.
Em outros trabalhos, a cenógrafa já transformou plásticos que revestiam peças de automóveis (que iriam ser descartados por uma empresa), em uma textura marítima cenográfica; plástico bolha em cortina e tentáculos de águas vivas; e paletes em árvores e painéis para reprodução de video mappping.
A ressignificação e reutilização de materiais foi um dos motivos que levou Renata Mota a se especializar em cenografia, a partir da possibilidade de criar e reinventar elementos não usuais. Os mesmos materiais usados em uma cenografia algumas vezes são reaproveitados para outra(s), reforçando a gama de possibilidades na reinvenção, recomposição, reuso e ressignificação.