Após séculos de colonização portuguesa e recente conquista da independência, Moçambique passa por um período com novos desafios, como o combate à pobreza e ao déficit de infraestrutura frente à expansão urbana descontrolada. No âmbito da arquitetura, é possível notar o reflexo desses desafios nas diretrizes de projetos moçambicanos, como na previsão da necessidade de expansão do edifício no futuro, na adoção de medidas para controle climático de forma passiva e na utilização de técnicas construtivas vernaculares adaptadas ao contexto local (como forma de minimizar o consumo energético nas diferentes fases de construção do edifício e os custos provenientes delas).
Nesse sentido, selecionamos quatro projetos já publicados no ArchDaily e realizados nos últimos anos em diferentes cidades de Moçambique que, por meio da escolha dos materiais, técnicas construtivas e outras decisões projetuais, não só refletem os desafios contemporâneos moçambicanos, mas também são parte da expressão da identidade arquitetônica local. Confira-os a seguir:
Centro Comunitário de Manica / Architecture For Humanity + Alina Jerónimo + Paulo Carneiro
Para a construção do equipamento formou-se pessoas da comunidade de Manica e utilizaram-se materiais locais como a terra proveniente das escavações para o edifício. Também se adotaram técnicas artesanais com o bambu, o que permitiu melhorar tecnologias que fazem parte da tradição construtiva local, adaptando-as aos requisitos contemporâneos de conforto e durabilidade. Com a colaboração do GDM (associação recreativa e desportiva Manica), foi possível formar mais de 40 pessoas da comunidade e integrá-las nas várias fases do projeto, desde o desenho e produção dos blocos de terra comprimida (BTC) até a construção do edifício.
Residência Compacta nos Assentamentos Informais de Maputo / Casas Melhoradas
Casas Melhoradas é um projeto de pesquisa aplicada sobre moradias para grupos de baixa renda nos assentamentos informais de Maputo. O protótipo, finalizado em 2018 nos assentamentos informais da capital moçambicana, consiste em uma tipologia de moradias enfileiradas de baixa densidade e altura, com seis casas em um terreno onde residiria somente uma família. O projeto possui um telhado verde onde é possível agregar um pavimento adicional, o que garante uma robustez ao volume no caso de uma maior densificação urbana na área. Além disso, a evaporação desde a cobertura melhora o clima interior das moradias. O projeto foi construído usando blocos de terra compactada produzidos localmente, reduzindo o consumo de energia no processo de construção.
Escola em Cabo Delgado / Ziegert Roswag Seiler Architekten
A iniciativa da Fundação Aga Khan de Moçambique procura preservar e melhorar a tradição arquitetônica local, utilizando recursos renováveis como o solo e o bambu, conseguindo proporcionar uma boa temperatura nos espaços internos e regular a umidade. O objetivo do projeto é melhorar os métodos de construção existentes, a fim de prolongar a vida dos edifícios e proporcionar às comunidades rurais uma arquitetura de alta qualidade.
Embaixada Holandesa / Claus en Kaan Architecten
A embaixada holandesa em Moçambique se encontra próxima do mar e do centro da capital do país, Maputo. O edifício foi colocado na borda de um terreno ortogonal, de inclinação suave, com o objetivo de liberar espaço para um jardim. As considerações climatológicas tiveram um importante papel no desenho. Dado que o projeto se encontra no hemisfério sul, o edifício se abre para o sul, o lado mais frio, enquanto sua face norte é mais fechada, desenhada para admitir a luz, mantendo o calor controlado.