Os espaços internos de museus, por meio de exposições, constroem narrativas que atribuem lógica e sentido (em outros contextos talvez não existentes) aos objetos expostos. Isto é, os recursos utilizados em uma mostra são capazes de conferir significados à medida em que são estabelecidas as conexões não só entre as peças expostas, mas também entre o projeto expográfico e a obra de arte.
A museografia é o campo responsável pela elaboração do espaço expositivo, utilizando recursos como o planejamento da disposição de objetos, vitrines ou outros suportes expositivos, legendas e sistemas de iluminação, segurança, conservação e circulação.
A categorização do material exposto, seja na forma de períodos históricos, contextos geográficos, técnicas de representação etc. é uma das formas de estabelecer um diálogo entre as peças expostas. Uma das diversas formas de diferenciar os agrupamentos é pelo uso da cor: na Pinacoteca di Brera em Milão, por exemplo, o acervo de pinturas é categorizado por escolas e períodos e diferenciado através de cores que se harmonizam com as obras.
Em projetos para interiores de museus, os suportes para as obras também exercem papel considerável na relação entre visitante, museu e obra. Como um dos mais emblemáticos exemplos deste diálogo, os cavaletes de cristal projetados por Lina Bo Bardi subvertem a maneira de exibir quadros, ao passá-los da parede para a superfície de vidro, permitindo assim a visualização do fundo da tela, um foco maior em cada obra e uma visão mais ampla do conjunto exposto.
Na ampliação da Gypsotheca e Museu Antonio Canova, em Possagno, Carlo Scarpa adotou uma linguagem na qual os contrastes entre materiais, luz e sombra e cheios e vazios marcam o diálogo entre o passado e presente. As esculturas neoclássicas de Canova são distribuídas no espaço em diferentes níveis e em suportes que variam com as dimensões e pesos das obras. Para as mais leves, Scarpa adotou um design similar as aberturas que conferem luz natural ao interior das galerias, em formato cúbico utilizando metal escuro e vidro.
Enquanto os espaços neutros de alguns museus oferecem uma espécie de "carta branca" para múltiplas estratégias expositivas, projetos de museus e galerias mais singulares envolvem o desafio de criar exposições e instalações específicas, atribuindo à arquitetura participação direta, não relegada a plano de fundo. A rampa do Museu Guggenheim de Frank Lloyd Wright é um dos maiores exemplos dessa interação, sendo palco de exposições que exploram o desenho interno do museu, assumindo essa característica para criar narrativas baseadas no fluxo contínuo estabelecido pelo percurso ascendente.
A apresentação do acervo em uma exposição, ao conferir certa lógica e sentido ao conjunto exposto, permite aos visitantes interpretar e estabelecer conexões à sua própria maneira em torno das temáticas abordadas, demonstrando o potencial do espaço interno do museu como forma de estímulo para instalações artísticas e projetos expográficos, além do potencial destes projetos como agentes na interação entre obra, espaço e público.
Referências bibliográficas:
CARMEL-ARTHUR, Judith; BUZAS, Stefan. Carlo Scarpa. Museo Canoviano, Possagno. Fellbach: Edition Axel Menges, 2002.
SARTORELLI, César Augusto. Arquitetura de exposições: Lina Bo Bardi e Gisela Magalhães. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2019.
VEIGA, Ana Cecília Rocha. Gestão De Projetos De Museus E Exposições. Belo Horizonte: C/Arte, 2013.