O período compreendido pelo século XX foi palco de mudanças que vão desde o surgimento e consolidação da arquitetura moderna à difusão de críticas e teorias ao movimento tão diversas quanto a produção arquitetônica do mesmo período. A expressão e experimentação de arquitetos refletiram em interiores que hoje consideramos “clássicos”, devido à relevância que tiveram para o debate e produção das décadas seguintes.
As características dos interiores residenciais clássicos representaram não só a forma de morar de seus proprietários, mas também a consolidação de uma certa identidade na forma de projetar dos arquitetos, fazendo uso de mobiliários autorais e experimentações na organização dos espaços.
Muitos interiores projetados há décadas simbolizaram ideias de inovação em contextos ainda conservadores e resistiram às vicissitudes e desafios do tempo, mantendo-se como verdadeiras referências na área.
Selecionamos dez clássicos da arquitetura publicados no ArchDaily cujos interiores, inseridos em contextos marcados por mudanças de pensamento, experimentações e inovações projetuais, se destacaram como espaços de expressão de ideias e estilos que ainda hoje inspiram arquitetos ao redor do mundo. Confira a seguir:
Casa Koshino / Tadao Ando
Aberturas estreitas nas fachadas adjacentes à escadaria estabelecem complexos cruzamentos de luz natural e de sombras nos espaços interiores. Estes padrões são, na realidade, os únicos ornamentos do espaço. Austeridade material é outra característica do projeto, que faz uso, basicamente, de concreto, madeira, poucos móveis e luz natural.
Villa Mairea / Alvar Aalto
Da porta frontal ao interior da casa, a materialidade do piso altera-se, tornando-se cada vez mais doméstico e intimista, desde a pedra aos azulejos, até o assoalho de madeira e carpetes. A madeira também é o material que constitui as colunas existentes em todo o projeto e os pilaretes na escada, que remontam a verticalidade da floresta de bétulas nos arredores da casa.
Casa de Vidro / Lina Bo Bardi
A casa é dividida em duas porções bem definidas: uma abriga o salão de estar e jantar e é dominada pelas grandes aberturas de vidro, as quais também conformam um pátio central; a segunda porção é formada pela área dos dormitórios e de serviços, que ocupam os módulos posteriores e configuram a parte maciça e opaca da casa.
Villa Planchart / Gio Ponti
Os espaços são hierarquizados de acordo com suas atividades, através de pés-direitos duplos, que também respondem à exigência dos proprietários de poder observar as casa a partir de qualquer ângulo interno. Ponti elabora esquemas em níveis, indicando as diversas linhas visuais que podem ser construídas através de sucessivos espaços.
Casa Kaufmann / Richard Neutra
A casa compartilha uma área social central à qual os dormitórios, localizados nas extremidades, se ligam através de galerias e terraços que interconectam os espaços. O fluxo do espaço interior para o exterior não é simplesmente uma condição espacial, mas uma questão de materialidade que cria uma experiência sinuosa. O vidro e o aço tornam a casa leve, arejada e aberta, e a pedra clara se mistura com os tons terrosos da paisagem circundante, das rochas, das montanhas e das árvores.
Villa Roche / Le Corbusier
O esquema policromático no interior da Villa Roche – cinza escuro, azul e vermelho pálidos –, em contraste com o exterior todo branco, soma-se ao arranjo assimétrico da habitação e harmoniza a sua configuração. Le Corbusier a descreve como pitoresca, cheia de movimento, mas que exige uma hierarquia clássica para discipliná-la.
Casa Eames / Charles e Ray Eames
Originalmente conhecida como a Case Study House No. 8, a casa foi projetada no âmbito do Programa Case Study Houses. Constituída por dois volumes e um pátio que os conecta, a casa conta com pé-direito duplo e poucas divisões internas, que proporcionam a integração entre os diferentes ambientes. O espaço interno é concebido como celebração da vida diária, para a qual contribuem o mobiliário, as texturas, o jogo de luz através das aberturas e os reflexos sobre o vidro polido.
Douglas House / Richard Meier & Partners
O percurso através da casa é pouco convencional, passando da área privada para uma ampla área social ao fundo, com vista para o lago Michigan. As paredes brancas, o desenho geométrico e o uso de camadas de vidro, marcas registradas de Meier, contrastam com o entorno natural e estabelecem uma interação entre interior e exterior com a mudança de cores das estações.
Casa Farnsworth / Mies van der Rohe
Apesar da controvérsia entre um interior moderno e minimalista defendido por Mies e um mais tradicional, desejado pela proprietária, a Casa Farnsworth é um dos maiores símbolos da arquitetura minimalista do arquiteto alemão. O volume envidraçado toma partido da integração com a paisagem e o interior é organizado por um único núcleo central e peças de mobiliário moderno.
Maison Louis Carré / Alvar Aalto
A Maison Louis Carré organiza os ambientes privativos e sociais em camadas. Como em muitos de seus outros trabalhos, Aalto combinou neste projeto edificação, jardim, mobiliário e design de interiores, sendo grande parte dos móveis e luminárias da casa especificamente projetados para esta encomenda.