Um estudo divulgado pelo Projeto Drawdown mostra que neste exato momento temos acesso imediato a pelo menos 76 soluções para frear as mudanças climáticas. As soluções apresentadas são relativamente simples e o custo de colocá-las em prática é menor do que o custo de não adotar nenhuma medida.
O documento The Drawdown Review é uma análise das possibilidades disponíveis atualmente para combater a crise climática, com base em trabalhos científicos e pesquisas realizadas em todo o mundo, em vários setores, de finanças à climatologia.
O objetivo do Projeto Drawdown é apontar caminhos para que possamos chegar a um future onde as emissões de gases do efeito estufa parem de subir e comecem a cair – este momento é o ‘drawdown’ ou ‘meta para baixo’ em português. “Atingir este ponto de virada é fundamental para a vida no planeta, e precisamos chegar neste momento rapidamente, com segurança e de forma homogênea”, diz o relatório.
Agora é a hora
Depois de quase uma década de apatia e de receber sinais claros do que pode acontecer nada seja feito – como os incêndios florestais sem precedentes na Austrália – a urgência de adotar medidas imediatas para conter as mudanças climáticas está cada vez mais clara.
“Estamos indo por um caminho extremamente perigoso”, alerta o estudo “É fácil ficar paralisado pelo perigo, mas ainda é possível sair desta inércia e mudar nosso destino”.
Ações e resultados
O Projeto Drawdown estima que com as 76 soluções apontadas pelo relatório a economia gerada poderia chegar a US$ 144 trilhões graças aos danos climáticos evitados e aos custos com tratamentos de saúde recorrentes deste cenário.
Os cientistas dividiram as soluções em 4 setores: energia; desperdício de alimento, agricultura e recuperação de solos; indústria; construções eficientes; e transporte.
De acordo com Jonathan Foley , cientista e co-autor do relatório, se todas como as soluções apresentadas já existem, elas poderiam ser implementadas simultaneamente e faria com que o ponto de virada fosse atingido entre 2040 e 2060, dependendo da eficiência das ações.
Para isso existem três pontos chave: reduzir as fontes de emissão de gases de efeito estufa, proteger e aumentar os ecossistemas que filtram estes gases e fazer isso sem prejudicar o desenvolvimento social.
Nossa energia
Para atingir estas metas seria necessário mudar a maneira como produzimos eletricidade – 30% das soluções apresentadas estão relacionadas com eficiência energética e outros 30% com meios de substituir os combustíveis fósseis na produção desta energia.
Existe um grande debate sobre o papel da energia nuclear nesta mudança, com cientistas que defendem que esta tecnologia seja usada e com outros que acreditam que a mudança nas fontes de energia elétrica pode acontecer apenas com energia limpa e renovável, sem a energia nuclear.
O relatório do Projeto Drawdown aponta para a troca para lâmpadas de LED e uso de baterias como soluções imediatas para aumentar a eficiência energética.
Preservar ecossistemas
O relatório ainda aponta para a importância de preservar e aumentar os sistemas naturais que filtram o carbono: preservar os ecossistemas e a biodiversidade e mudar os meios de produção agrícolas. Infelizmente, líderes políticos de vários países, do Brasil até a Austrália, estão permitindo que ecossistemas que absorvem carbono continuem sendo destruídos.
Reconhecendo o fato de que o compromisso político em diminuir as mudanças climáticas está longe do ideal, a solução apresentada inclui também a pressão popular para mudar este cenário com um breve relato de como é possível fortalecer o engajamento das pessoas na questão ambiental.
Comida e equidade
Segundo os pesquisadores, uma das grandes possibilidades para se conter as mudanças climáticas é normalmente esquecida. Esta solução inclui a redução do desperdício de comida no mundo e o empoderamento feminino por meio do acesso à educação, serviços de saúde e igualdade de oportunidades.
“Os resultados destes estudos mostram que é muito importante que estas soluções sejam implementadas simultaneamente”, explica Chad Frischmann, vice-presidente do Projeto Drawdown. “O impacto destas tecnologias e práticas são parte de um Sistema interligado de ações. E a implementação integral deste Sistema garante uma solução real para a crise climática”.
Combustível para a mudança?
O relatório não defende uma mudança radical na sociedade de consume ou na diminuição do crescimento econômico, mas mostra que o dinheiro pode ser um combustível para a mudança. Os cientistas apontam para o fortalecimento da economia circular e colocam o fator econômico como parte da solução.
Com alguns pontos polêmicos, como a questão do uso de energia nuclear e a manutenção do sistema econômico, o estudo é uma fonte de informações muito interessante para pessoas, comunidades e empresas que estejam prontas para assumir um compromisso com as mudanças necessárias, apesar dos grandes desafios.
Combater as mudanças climáticas é um grande, mas importante desafio. Saber que temos a possibilidade real de fazer a nossa parte é um convite a um trabalho verdadeiramente relevante para o mundo e para nós mesmos.
Liderando o caminho
“Empresários podem liderar esta mudança. Não precisam ficar esperando que políticos e governos assumam este papel. As empresas podem ajudar muito ao desenvolver normas e regulamentações e estar um passo a frente no desenvolvimento”, reforça Foley. “Empresários inteligentes não vão ser obrigados a fazer parte de um futuro sustentável, eles vão criar este futuro”.
Se um número significativo de pessoas assumirem o desafio de combater as mudanças climáticas, com soluções que estão ao nosso alcance, existe uma chance de que possamos mudar positivamente nosso futuro.
Todas as soluções analisadas pelo Projeto Drawdown, estão no relatório em inglês disponível neste link: The Drawdown Review.
Via CicloVivo.