Como forma de promover maiores distâncias entre as pessoas e incentivar formas alternativas de transporte tanto para profissionais de atividades essenciais que continuam trabalhando no período da pandemia do novo coronavírus, como para os cidadãos que podem sair para se exercitar, cidades ao redor do mundo estão revisando políticas de transporte e revertendo vias destinadas a veículos motorizados para o uso de ciclistas e pedestres.
Estudos publicados recentemente, como apresentado no artigo Social Distancing v2.0: During Walking, Running and Cycling (Distância Social v2.0: Durante caminhadas, corrida e pedalada), recomendam que ciclistas e corredores mantenham distâncias entre si ainda maiores que as usualmente recomendadas (entre 1,5 e 2 metros). Apesar de ainda iniciais, as pesquisas, divulgadas antecipadamente diante da velocidade de propagação do vírus, indicam que as “nuvens de gotículas” são carregadas por maiores distâncias devido aos efeitos aerodinâmicos provocados por atividades como ciclismo, corrida e caminhada. Segundo estudos recentes, as distâncias recomendadas entre os praticantes posicionados de forma alinhada (um atrás do outro) são de pelo menos 4 metros para praticantes de caminhada; 10 metros de distância entre os corredores e 20 metros entre ciclistas.
Tendo em vista a promoção do distanciamento social, o descongestionamento da rede de transporte público e a redução de problemas respiratórios (agravados pela poluição do ar causada pelos veículos), a cidade de Bogotá, na Colômbia, anunciou em março a habilitação de 76 novos quilômetros de faixas destinadas a bicicletas, localizadas em vias existentes, mas separadas dos carros por cones.
Na Alemanha, cidades também têm remodelado suas vias em meio à pandemia, usando dispositivos como fitas removíveis e sinais móveis para demarcar os espaços destinados a ciclistas, de forma que a instalação e desinstalação sejam fáceis e rápidas. Na capital, Berlim, um teste feito no final de março transformou duas pistas em ciclofaixas no bairro de Kreuzberg, enquanto o tráfego de veículos apresentava significativa redução. Com o sucesso da medida, foram revertidas novas faixas em outros pontos da capital.
Budapeste, capital da Hungria, pode tornar algumas das adaptações temporárias em medidas permanentes, a depender da aceitação do público. A cidade está instalando pistas temporárias para bicicletas nas principais vias e incentivando as pessoas que têm de sair de casa, seja para trabalhar ou para fazer compras, a pedalar em vez de usar o carro ou transporte público – que já apresentava significativa redução no número de passageiros antes das medidas implementadas.
Montpellier (França), Calgary (Canadá), Cidade do México (México) e Filadélfia (Estados Unidos), são algumas das outras cidades que também estão remodelando as vias urbanas para adaptar faixas exclusivas para ciclistas e pedestres. Mas outras medidas no contexto urbano também estão sendo tomadas por governos, prefeituras e autoridades locais ao redor do mundo, como forma de combate ao coronavírus. Em algumas cidades foram adotadas, por exemplo, medidas de gratuidade em serviços de aluguel de bicicletas. Em Glasgow, na Escócia, após o anúncio da Nextbike sobre a gratuidade do serviço por até 30 minutos para profissionais do Sistema Nacional de Saúde, a empresa ampliou a oferta para os trabalhadores de serviços essenciais.
Outras medidas ainda, como aumento da frota de ônibus para evitar sua lotação, automação de sinais para evitar que as pessoas precisem pressionar botões, por exemplo, e maior limpeza dos transportes públicos, estão sendo implementadas nas cidades e sendo catalogadas por sites como pedbikeinfo.org e nacto.org, atualizados diariamente com informações sobre alterações no transporte público das cidades afetadas pelo novo coronavírus.
A reversão temporária de faixas destinadas a veículos para uso de ciclistas e pedestres, assim como outras mudanças no meio urbano, podem significar um modo de prevenção ao contágio pelo novo coronavírus – desde que sejam cumpridas as distâncias recomendadas e orientações como a higienização constante das mãos –, mas também criar expectativas para que as mudanças positivas se tornem permanentes.
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Referências
- B. Blocken, F. Malizia , T. van Druenen, T. Marchal. Towards aerodynamically equivalent COVID19 1.5 m social distancing for walking and running. Urban Physics, Wind Engineering & Sports Aerodynamics.
- ¿Cuáles son las ciclovías temporales para usar en vez del bus?. El Tiempo.
- LAKER, Laura. World cities turn their streets over to walkers and cyclists. The Guardian.
- MONTEZUMA, Ricardo; PARDO, Carlos. Bicicleta y ciclismo: oportunidad única en la pospandemia. El Tiempo.
- OLTERMANN, Philip. Pop-up bike lanes help with coronavirus physical distancing in Germany. The Guardian.
- Thousands of free Glasgow nextbike memberships and e-bike rides for NHS staff. Nextbike.