Terremotos, pandemias, conflitos e desastres ambientais são alguns dos eventos que têm desafiado arquitetos, urbanistas, designers e engenheiros a encontrar formas de desenvolver estruturas e infraestruturas de maneira rápida, prática, eficiente e adequada tanto à situação como ao local em que serão implementadas. Na busca por materiais que estejam disponíveis e cumpram as exigências para cada tipo de situação, aqueles considerados “alternativos”, ou não usuais – ao menos no contexto dos abrigos emergenciais –, se apresentam como possibilidades para experimentação e posterior aplicação em estruturas de emergência. Ao abordarmos edificações temporárias, contêiners e lonas tensionadas sempre nos vêm à cabeça. Mas há materiais de grande disponibilidade e com boas características físicas que podem cumprir funções emergenciais.
Envolvido em projetos para abrigos emergenciais em diferentes localidades ao redor do mundo, o arquiteto japonês Shigeru Ban tem explorado o uso do papelão como material construtivo desde 1986, quando começou a testar estruturas temporárias e semi permanentes com tubos de papelão. Desde então, as pesquisas com o material o levaram a projetar pavilhões, escolas, abrigos emergenciais entre outras estruturas feitas a partir deste material. O arquiteto realizou ensaios em de força em laboratório, e identificou-se que os tubos de papelão resistem a 10 Mega Pascal (MPa), quando submetidos à compressão e a 15 MPa, à flexão.
O papelão, assim como outros materiais alternativos explorados como soluções para abrigos emergenciais, mostram possibilidades além daqueles mais usuais na construção de estruturas temporárias com caráter de emergência, como a estruturas metálicas cobertas por lonas na construção de barracas. Com efeito, a rapidez de fabricação e instalação de tendas ou barracas industrializadas são alguns dos motivos que as difundiram como soluções para abrigos emergenciais. No entanto, experimentações com novos materiais têm mostrado outros caminhos que podem apresentar as mesmas vantagens, ou ainda superá-las, oferecendo maior economia ao mesmo tempo que atendem aos padrões de sustentabilidade. Conheça, a seguir, cinco materiais alternativos que vêm sendo explorados na construção de estruturas emergenciais nos últimos anos.
Papelão
Como divisórias de unidades em ginásios ou como estruturas independentes, tubos de papelão proporcionam montagem e desmontagem rápidas por meio de sistemas de encaixes, prescindindo de mão de obra especializada, fator essencial em situações emergenciais. Além das estruturas já citadas desenvolvidas por Shigeru Ban, o papelão pode ter uma função importante para a criação de mobiliários, como camas, assentos e locais de armazenagem, que podem chegar aos locais em chapas pré-cortadas e com instruções para as dobras e montagens.
Borracha
A borracha pode ser reciclada para diferentes fins e, na construção, tem sido utilizada, entre outras aplicações, na fabricação de tijolos. Ao contrário dos tijolos comuns, os reciclados a partir da borracha proporcionam montagem rápida para ocupação imediata. A principal vantagem é sua densidade baixa, o que proporciona blocos de peso muito baixo. Abrigos construídos com essa técnica também podem permanecer nas fases pós-emergenciais, devido à alta rigidez do material quando comparado aos tecidos impermeáveis, mais comuns na implantação de barracas de emergência.
Bambu
O bambu é um material extremamente versátil e altamente resistente à compressão e flexão. Outra grande vantagem é sua disponibilidade em grande parte do mundo (principalmente nos climas quentes), e seu rápido crescimento. Por isso, para a utilização em estruturas temporárias, o bambu é ideal para ser utilizado como estrutura, mas também vedação e cobertura. Na construção de abrigos emergenciais, suas vantagens na rápida execução e na possibilidade de continuidade da estrutura para habitações permanentes contam como pontos positivos. É importante pontuar que, para se constituir em um material de construção com uma durabilidade adequada e propriedades físicas impressionantes, deve-se levar em conta o tratamento químico do bambu antes de seu uso para a construção civil, para evitar seu apodrecimento e o ataque de insetos. Outro cânone da construção em bambu é que os componentes devem ser muito bem protegidos do sol e da chuva.
Materiais reciclados impressos em 3D
Apesar do custo relativamente alto, a impressão 3D tem se difundido ao longo dos anos e se mostrado como uma possibilidade para construção de abrigos emergenciais. A empresa holandesa DUS Architects, por exemplo, desenvolveu uma impressora 3D altamente móvel (“KamerMaker”) que é capaz de imprimir espaços inteiros a partir de materiais reciclados. Mas é na impressão de pequenas peças conectores que as impressoras 3D podem ter mais valia em uma situação de emergência. Pensar em junções que possam facilitar a montagem e permitir a união de peças de materiais diferentes pode se constituir em uma grande vantagem na hora da montagem.
Engradados
Usados em muitos dos abrigos emergenciais projetados por Shigeru Ban, os engradados, preenchidos com sacos de areia para conferir maior massa, podem assumir o papel de uma fundação superficial para a estrutura. Nos casos em que é necessário proteger a construção da ação das intempéries, os engradados podem ser usados para afastar e proteger da água os demais materiais construtivos. A ideia da utilização dos engradados faz mais sentido se eles foram utilizados, anteriormente, para levar mantimentos ao local. Em situações como essa, é importante que todos os recursos empregados sejam pensados em todo o ciclo, desde a chegada ao local até seu destino final.
Soluções temporárias e arquiteturas de emergência adquirem importância vital de tempos e tempos, em épocas de grande tristeza e perdas. A combinação entre intervenções rápidas e de fácil implantação, que possam responder às contingências e demandas da população afetada, devem ser abordadas com muita seriedade, uma vez que estarão amparando pessoas em uma situação de enorme fragilidade, seja de doença ou de desalojamento. Construir soluções criteriosas e sérias e investir em pesquisas extensivas de novos materiais e soluções, inclusive aproveitando recursos locais ou de grande disponibilidade é de grande importância, e os arquitetos devem estar envolvidos nisso.