Este artigo foi publicado originalmente no The Architect's Newspaper.
Em fevereiro deste ano ministrei uma breve palestra aos nossos alunos da Yale sobre a economia e suas perspectivas de emprego sugerindo que, embora todos os indicadores continuassem fortes e os empregos fossem abundantes, já fazia algum tempo desde a nossa última crise. Tendo vivido vários momentos como estes durante minha carreira, sugeri que eles provavelmente veriam uma recessão em algum momento, mas coloquei em dúvida se algum dia veríamos algo tão sério quanto 2008. Porém...
É muito cedo para apresentar argumentos sutis sobre o futuro enquanto enfrentamos o que, sem dúvida, será uma situação muito mais séria na segunda metade de 2020. Desta forma, aqui estão dez primeiras reflexões sobre como nossa profissão pode ser impactada e potencialmente transformada, como resultado. Escolha dois ou três destes pensamentos como instruções para serem considerados no futuro, depois que a crise passar.
1. Economia: Embora existam relatos contraditórios sobre o quão forte uma recessão pode afetar o setor, já está claro que certos tipos de edifícios, principalmente lojas de varejo e comerciais, ficarão fora do radar da profissão por vários anos, enquanto, no geral, o setor de arquitetura, engenharia e construção se contrairá. Outra onda de concorrência acirrada, com as empresas sobreviventes lutando por contratos, ocorrerá. Quais empresas podem largar na frente nessa corrida?
2. Demografia: Se a crise durar mais de um ano, outra “geração perdida” de estudantes, levando seus consideráveis talentos de projeto e pensamentos para um ambiente que valoriza o “design thinking”, deixará a profissão e nunca mais irá voltar. Se a recessão de 2008 eliminou alguns dos Baby Boomers mais velhos, incapazes de compreender a tecnologia e manter suas empresas vivas, os últimos Boomers poderão encontrar o mesmo destino. Mas com os planos de aposentadoria amplamente destruídos, haverá aproveitadores?
3. Empregos: Novos empregos, não muitos. As empresas cortam seus excessos e peso morto e podem fazer alguma substituição estratégica, ou seja, quando a recuperação ocorrer, haverá uma escassez de talentos, pois as empresas não têm reservas para manter a equipe, apesar dos custos muito altos da substituição. Os talentos estarão lá para serem contratados? O trabalho remoto pode ser uma opção desejável para melhorar o equilíbrio entre vida profissional e pessoal.
4. Tecnologia: A última recessão viu a transição da profissão de CAD para BIM. Onze anos depois, há uma variedade muito maior de ferramentas disponíveis: big data, análise, captura de realidade, design computacional, aprendizado automatizado (para citar alguns) e muito desenvolvimento "BuildTech". Algumas práticas adotarão essas ferramentas para redefinir suas capacidades; outras, como muitas em 2008, usarão novas tecnologias (como o BIM) para fins muito antigos (fazendo desenhos melhores).
5. Métodos da prática: Como todos os escritórios demonstraram uma capacidade de trabalhar digital e remotamente, as redes de talentos das empresas se expandirão para além da região geográfica e os processos com base em dados intensificados e entregas (para as empresas que desejarem ser mais ousadas na experimentação) abrirão oportunidades para agregar um novo valor por meio do serviço digital, como análise, fabricação digital e realidade/experiência aumentada.
6. Estrutura da prática arquitetônica: A maioria das empresas moveu seu trabalho sem problemas para fora do escritório e para suas respectivas casas, mostrando que um escritório físico pode não ser essencial para administrar uma empresa. Uma nova geração de escritórios mais jovens, digitalmente familiarizados, com trabalhadores e talentos distribuídos globalmente, surgirá para competir com os titulares tradicionais. Eles serão ágeis, flexíveis, menos sujeitos à dinâmica econômica e também não se conhecerão. A versão arquitetônica da economia "gig" pode surgir, focada menos em projetos completos e mais em tarefas básicas.
7. Construção: Entre questões de saúde, imigração, instabilidade do fluxo de suprimentos e pressões sobre preços, os construtores se voltam fortemente para a automação no local e pré-fabricação. As ferramentas e processos necessários requerem infraestrutura digital, inadequada para o desenho tradicional, e os construtores a encontrarão, seja de seus arquitetos ou de outros lugares. O financiamento de projetos pelo governo pode impulsionar protocolos digitais como requisito, e o setor seria forçado a adotar padrões, finalmente, como resultado.
8. Talento: “A sobrevivência dos mais aptos” sugere que algumas das melhores empresas desta década emergirão da crise, e os estudantes de hoje assistirão com atenção do lado acadêmico, preparando-se para as novas realidades na recuperação e exigindo de seus educadores o que eles acham importante para prepará-los para o local de trabalho. Os sobreviventes definirão essa agenda de talentos, que provavelmente será uma mistura inebriante de proezas tecnológicas, capacidade de colaborar direta e remotamente e estilo e técnica de trabalho flexíveis.
9. Espaço: Algumas das prioridades inefáveis da arquitetura darão lugar a considerações mais epidemiológicas: como esse espaço se comporta em uma pandemia? Os ocupantes são mais ou menos saudáveis? Pode ser limpo? Podem atuar, técnica, espacial e esteticamente sob novas regras de interação e distância social?
10. A cidade: As cidades foram as mais afetadas pela COVID-19, questionando os desafios de proximidade e densidade. Se o distanciamento social e a “estadia em casa” serão estratégias regulares para gerenciar a pandemia, a natureza mutável do espaço urbano - e o potencial reavivamento dos subúrbios mais espaçosos - são oportunidades para os arquitetos repensarem e redefinirem os fundamentos do cotidiano.
Há pouca dúvida de que o mundo pós-COVID-19 será diferente - politicamente, economicamente e arquitetonicamente - do que era em fevereiro. A duração e a profundidade da crise determinarão a potência das ideias sugeridas acima. Os líderes de empresas estarão mais bem preparados quando superarem seus esforços atuais, gerenciando tempos turbulentos em direção a esse futuro, qualquer que seja ele.
Phil Bernstein, FAIA, é reitor associado e professor sênior da Escola de Arquitetura de Yale e ex-vice-presidente da Autodesk. Ele passou a maior parte de sua carreira na Pelli Clarke Pelli Architects. Seu livro Architecture Design Data: Practice Competency in the Era of Computation foi publicado por Birkhauser em 2018. Este artigo foi publicado originalmente a pedido da AIA Connecticut.
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