Você sabia que durante a segunda semana de maio é comemorado o dia mundial das aves migratórias?
Todos os anos, nessa data, são organizados festivais, eventos educacionais, exposições e excursões para celebrar e, acima de tudo, conscientizar sobre a conservação das aves migratórias. Essas espécies viram seus habitats transformados nas últimas décadas, em parte pela ação humana: projetistas e agentes imobiliários construíram e nutriram um imaginário urbano dominado por estruturas de vidro como símbolo de poder e progresso. Antes de prosseguir com a conquista do céu, vale a pena considerar algumas medidas a serem adotadas ao especificar materiais mais amigáveis às espécies com as quais coabitamos.
Milhões de pássaros morrem todos os anos por colisão
O problema é muito simples: os pássaros não veem o vidro como um objeto sólido, mas apenas reconhecem o que se reflete nele. Seja uma árvore ou um pedaço do céu, eles não identificam o obstáculo como um perigo e colidem com ele, com o risco de morrer. Pesquisadores estimam que, somente nos Estados Unidos, entre 100 milhões e um trilhão de aves morrem a cada ano, enquanto no Canadá são estimados 25 milhões. Embora estatísticas específicas sejam difíceis de obter, é claro que o tempo para migrar seja o mais perigoso para as aves, pois de repente se vêem diante de prédios altos em territórios desconhecidos.
De edifícios médios a arranha-céus, as estruturas que criamos podem se tornar uma armadilha mortal para centenas de espécies de aves em todo o mundo. Desde 1970, mais de três bilhões de aves desapareceram no norte do continente americano, devido, entre outras coisas, à transformação e urbanização de seus habitats (os territórios mais afetados são florestas e áreas costeiras). Embora parques, florestas e jardins possam ser espaços comprometidos com a conservação de espécies no nível urbano, essas mortes são muitas vezes evitáveis através de decisões simples de projeto e da escolha dos produtos corretos.
Que opções existem para combater esse problema?
Como o vidro é o principal problema, é possível encontrar no mercado variantes que facilitam a identificação do volume envidraçado pelas aves, incluindo opções que o tornam visível sem perturbar a imagem dos seres humanos.
Opções invisíveis
Uma das opções é adicionar um revestimento ao vidro que reflita a luz ultravioleta, cujo padrão será praticamente invisível aos seres humanos, mas sempre visível para os pássaros. A tecnologia é incorporada em uma folha de vidro laminado, quase imperceptível ao olho humano em condições secas.
Alguns especialistas também consideram o vidro fotovoltaico uma opção amigável para pássaros. Esse tipo de vidro contém células que acumulam energia para gerar eletricidade incorporada ao vidro em uma lâmina fotovoltaica por meio de impressão eletrônica. Diferentes níveis de transparência podem ser obtidos, incluindo opções totalmente transparentes compatíveis com filmes que refletem a luz ultravioleta. No entanto, deve-se considerar que os ninhos e deposições de pássaros podem afetar negativamente sua capacidade de gerar energia.
Opções visíveis
Há numerosas técnicas para incorporar padrões visíveis no vidro. Um deles é a impressão em cerâmica. Dependendo do fornecedor, você pode escolher cores, regular a opacidade da tinta e escolher padrões decorativos. Os avanços na tecnologia para serigrafia em vidro (Silk-screening) permitem estilos variados de decoração, superiores às técnicas tradicionais de gravação (Etched glass). Atualmente, a impressão em cerâmica em vidro oferece a possibilidade de serigrafia em um design usando uma guia (a forma mais antiga de impressão em vidro ainda em vigor) ou de impressão digital, mais flexível que a serigrafia. A escolha entre os dois métodos é normalmente baseada em considerações como localização, quantidade, imagem, sustentabilidade e função, sendo também utilizada como técnicas complementares.
Se a possibilidade for aberta para um vidro que não seja totalmente transparente, existem duas opções adicionais: vidro dicróico e vidro translúcido. O vidro dicróico é multicolorido, produzido pelo empilhamento e alternância de camadas de vidro e micro camadas de cristal de quartzo e óxidos de metal para obter uma aparência de cor variável, transmitindo e refletindo a luz, como um caleidoscópio. O vidro translúcido pode ser sinterizado ou perfilado (canal ou vidro poroso), que é poroso e opaco na arquitetura e produzido submetendo o vidro à fusão térmica. Em alguns casos, pode ter capacidade de carga e ser projetado em formas curvas ou texturizadas.
Qualquer que seja a opção escolhida, o design do padrão a ser incorporado no vidro é de extrema importância. Um estudo da Dip-Tech, endossado pela American Bird Conservancy, mostrou que padrões com triângulos dispostos aleatoriamente são mais eficazes que pontos ou listras homogêneas em cores. A regra de ouro é seguir um espaçamento de "2x4" em polegadas: as marcas devem ser adicionadas no plano com um espaçamento de 5,08 cm na horizontal e quatro polegadas na vertical. Os pássaros tendem a evitar lacunas nessas dimensões, portanto, uma regra mais rígida de "2x2" garantirá a inclusão de espécies menores.
As cidades que incorporaram essa preocupação em seus regulamentos definiram um intervalo a partir do qual essas considerações serão necessárias, que no caso de San Francisco são aplicadas a 90% dos envidraçamentos em edifícios com mais de 18 metros. Cabe dizer que, de acordo com a Dip-Tech, e ao contrário do que se pensa, a área de colisão (Bird Collision Zone) não é a mais alta do edifício, mas os pavimentos mais baixos quando descem para descansar. Embora ainda não exista regulamentação suficiente e a grande maioria esteja na América do Norte, em países que não possuem essa regulamentação, também existem certificações que reconhecem esse tipo de iniciativa e ajudam os fornecedores a certificar seus produtos.
Há outras soluções?
Existem outros fatores, menos prioritários, como a iluminação e o design das janelas, que podem contribuir para solucionar esse problema. Os marcos das esquadrias podem ser um aliado na identificação da fachada, enquanto a luz artificial desorienta o pássaro na percepção do espaço e na sua orientação do voo. A adição de soluções temporárias, como cortinas, plantas ou acessórios, também é uma opção. No entanto, soluções sustentáveis ao longo do tempo devem ser incorporadas desde o início do processo de especificação.
Embora a maioria das informações e instituições responsáveis por esse problema sejam encontradas nos Estados Unidos e Canadá, as aves conectam o mundo através da migração. A preocupação com esse fenômeno não é apenas um problema de respeito ao meio ambiente, mas o aumento da biodiversidade é necessário para nossa própria sobrevivência: elas são agentes polinizadores, distribuem sementes e controlam insetos pragas. É um bom momento para questionar o uso tradicional de materiais e prestar atenção às suas consequências negativas. Se você estiver criando uma fachada envidraçada, considere essas soluções antes de outubro, a data da segunda migração anual.
Outras fontes utilizadas para esse artigo:
- Webinar Dip-Tech realizado em 13 de maio de 2020: Everything you need to know about Bird-Safe printed glass
- Guia da prefeitura de Toronto
- Política de governo da cidade de San Francisco
- SCAPE Studio Bird-Safe Building Guidelines
- Smithsonian Migratory Bird Center
- Vídeo: Guardian Industries: How Can Clear, Bird-safe Glass Protect Birds from Collision?
- American Birding Association
- National Audobon Society
- Ao avaliar o uso de produtos, é aconselhável consultar diferentes fornecedores sobre seus processos e eficácia de fabricação. Nesta ocasião, foram revisadas as informações públicas de empresas como Ornilux, Guardian Glass ou Onyx Solar.