Hoje se celebra o Dia Mundial da Bicicleta devido aos vários benefícios sociais, econômicos e ambientais que o uso deste meio de transporte e lazer oferece. Ao aprovar a comemoração deste dia, a ONU reconhece a contribuição do ciclismo dentro dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, incluindo a construção de cidades e comunidades mais sustentáveis. Tal pensamento ganha ainda mais força durante e pós pandemia, e ao pensar formas saudáveis de se locomover pela cidade, a mobilidade ativa se destaca entre as alternativas possíveis e exequíveis em curto prazo, e ela não diz apenas sobre ciclovias, mas sobre abraçar o cidadão num todo.
Para falar sobre mobilidade ativa, é necessário pensar primeiro na cultura do carro na qual estamos inseridos e o que ela diz sobre nós mesmos. O automóvel surge como um produto que moldou parte do pensamento da sociedade ocidental e a forma como planejamos a urbanidade. Por muito tempo as cidades passaram a ser pensadas para os veículos motorizados e não para os pedestres, fato que passou a ser ainda mais contestado nos últimos anos.
Apesar do carro configurar um meio de transporte seguro durante a pandemia, ele não é acessível à maioria da população e valorizar o uso dele é esquecer a poluição do ar e sonora, as ruas engarrafadas e diversos outros fatores que diminuem a qualidade de vida dos cidadãos e do espaço urbano. Reduzir a primazia dos automóveis particulares envolve gerar opções às pessoas de se locomoverem até seus destinos de forma ativa, a pé, de bicicleta, ou por outros modos não motorizados. E, para isso, é importante ter claro que diversas soluções são possíveis para transformar a cidade - e isto vai muito além de criar apenas ciclovias ou rever a situação das calçadas, que em muitos lugares são negligenciadas. No texto a seguir, reunimos diversos artigos que podem ser acessados através dos links e que ajudam a compreender melhor este tema.
Ruas completas
"Se o ambiente tem o poder de influenciar nossas escolhas e hábitos, então é possível planejá-lo para que incentive escolhas mais sustentáveis. E as ruas completas oferecem uma forma de fazer isso." - Priscila Pacheco
Entender como o ambiente influencia nosso comportamento é fundamental para a criação de uma cidade que satisfaça as necessidades de toda a população. O conceito de Ruas Completas prevê que estes espaços sejam projetados para acomodar todos os tipos de usuário com conforto e segurança, e passa a ser cada vez mais estudado e aplicado, já que não seguem uma receita padrão e variam conforme as necessidades locais e o tipo de uso de cada rua.
A criação de uma via amigável ao pedestre já foi testada em algumas cidades brasileiras e demonstram como este tipo de ação favorece o comércio local, a locomoção ativa e segurança dos transeuntes. No caso de São Paulo, a Rua Joel Carlos Borges, no Brooklin, recebeu uma aprovação de 92% de seu público.
Incentivar o uso do espaço urbano pelas crianças
"O domínio dos carros em nossos bairros teve um efeito particularmente desmobilizador na mobilidade ativa das crianças; reduzindo suas oportunidades de brincar, socializar e acessar suas comunidades de forma independente." - Natalia Krysiak
Criadora do Cities for Play, projeto cujo objetivo principal é de inspirar arquitetos e urbanistas a criarem cidades estimulantes, respeitosas e acessíveis às crianças, Natalia Krysiak enfatiza através de seu trabalho como o espaço onde uma criança brinca é automaticamente um espaço onde qualquer geração se sentirá segura para estar. Portanto, é necessário estimular cidades seguras para a infância e transformar o espaço da rua, não apenas como um lugar de trânsito, mas também de convivência. Este argumento se torna mais claro quando levamos em consideração que os trajetos cotidianos são os que ficam mais gravados na memória das crianças, como aponta Ursula Troncoso através do artigo Outras cidades impossíveis: uma perspectiva da criança sobre a pandemia.
Mobilidade a pé
Helsinque, Copenhague, Zurique, Amsterdã e Hamburgo são cinco cidades que retratam bons exemplos de caminhabilidade, "um conceito que leva em conta, principalmente, a acessibilidade no ambiente urbano e mensura a facilidade que as pessoas têm de se deslocar na cidade". Lógicas como "Quanto mais pessoas na cidade, menos carros serão permitidos nas ruas", são ilustradas neste artigo.
No entanto, para trazer essa realidade para as cidades brasileiras, além de calçadas adequadas, banheiros públicos e bebedouros, informações confiáveis sobre o transporte público e áreas verdes melhor distribuídas são alguns dos fatores que não podem ser esquecidos para valorizar o pedestre no espaço público. No contexto da pandemia, Wans Spiess, Kelly Fernandes e Ana Carolina Nunes escreveram sobre estes e outros tópicos no texto Mobilidade a pé em tempos de pandemia.
Urbanismo Tático
"Intervenções temporárias, mas que podem trazer mudanças permanentes". O urbanismo tático diz sobre as ações que permitem experimentar alternativas de uso na cidade por um período determinado, permitindo estimar qual impacto seria gerado caso a iniciativa fosse, de fato, executada.
Durante o COVID-19, o urbanismo tático está sendo uma das soluções para cidades que buscam priorizar os pedestres e ciclistas durante a pandemia. Anteriormente, no Brasil, Belo Horizonte apresentou alguns bons exemplos através do uso de tintas, cones, plantas e um mobiliário flexível para compreender o espaço do pedestre na rua.
Se interessou pelo tema? Veja outros artigos que cobrem o assunto aqui.