No exercício da arquitetura, os profissionais constantemente devem lidar com o desafio de representar um projeto de forma clara e compreensível antes de ser construído, tornando o espaço de alguma forma visível para um público muitas vezes não especializado na área. A renderização é um dos modos mais difundidos de representação tridimensional entre os arquitetos por apresentar o projeto de forma considerada “mais próxima da realidade”. A realidade, por sua vez, inclui a presença de pessoas e os modos de habitar os espaços – representados por meio de escalas humanas, que devem estar em consonância com a imagem que se pretende transmitir e o entendimento da arquitetura, do local em que está inserida e da forma como é habitada.
No desenho à mão, a expressão de cada arquiteto é perceptível pela variação de traços e modos de representar a escala humana e figuras. Na produção digital, a particularidade do traço pode ser perdida, mas as diferentes formas de representação da figura humana, como a partir de fotografias, aquarelas e ilustrações, não deixam de comunicar ideias em relação ao render – que pode expressar uma imagem realista, sintética, jocosa, conceitual etc. –, e ao profissional ou escritório que o produziu. Assim, são importantes ferramentas para a comunicação entre escritório, projeto e clientes, investidores, jurados de concursos ou qualquer que seja o público atingido pelas imagens.
Ao contrário dos croquis, as renderizações costumam representar um ambiente de forma muito próxima ao “real”. Seduzem os clientes com imagens que se aproximam de representações de algo já construído, mas a partir de imagens produzidas digitalmente, baseadas em modelos 3D e reguladas por ferramentas que controlam a aparência dos materiais, as rugosidades, sombras, reflexos, brilho e outras variáveis em inúmeras combinações.
Na elaboração das visualizações por meio de renderizações, a escala humana é um fator relevante para uma série de compreensões. As medidas de um edifício, por exemplo, se tornam mais facilmente legíveis com a presença de figuras humanas e a relação comparativa estabelecida entre as medidas das pessoas e as medidas do edifício.
Ainda que seja possível estabelecer as relações de proporção a partir da própria arquitetura, como por exemplo a partir das medidas de uma escada ou uma porta, o uso pode não ser totalmente compreensível a partir apenas da imagem do objeto arquitetônico em si. Um mesmo espaço pode adquirir um significado contemplativo, participativo ou recreativo a depender das atividades desempenhadas pelas escalas humanas, o que revela possíveis usos para além daqueles pré-determinados ou sugeridos pela arquitetura.
A arquitetura é pensada e feita para pessoas. Nesse sentido, a presença da escala humana não só nas renderizações, mas também em croquis, colagens ou qualquer outra forma de representação tridimensional do projeto, parece um acréscimo essencial e indicativo de quem irá ocupar aquele espaço. Portanto, renderizações que incluem escalas humanas vestindo agasalhos em regiões tropicais ou figuras escandinavas em locais marcados pela diversidade de etnias causam estranheza. A importância da escala humana está relacionada também à conexão entre o projeto e o contexto em que está inserido.
Apesar de ser um dos últimos elementos inseridos nas visualizações arquitetônicas – que, por sua vez, está entre as últimas etapas de elaboração do projeto –, a escala humana representa aquela que é, ou deveria ser, a preocupação primeira da arquitetura: as pessoas. Assim como nos baseamos nas medidas humanas para estabelecer algumas distâncias e medidas no projeto, sua presença também é base para comunicação entre projeto arquitetônico e o público atingido pelas imagens renderizadas.
Em um artigo publicado anteriormente no ArchDaily é possível encontrar uma lista de sites dedicados a representar a diversidade dos habitantes de diferentes partes do mundo. Em outro artigo, publicamos algumas de dicas de como adicionar escalas humanas às suas renderizações.