Diz-se que o esporte une as pessoas. Historicamente, seja dentro ou fora de quadra, o esporte tem aproximado milhões de pessoas do mundo todo – de todas as origens e com pouco ou quase nada em comum – as quais se reunem em campo, em bares ou estádios. Pelo amor ao esporte, deixamos de lado nossas diferenças para celebrar uma paixão comum: o amor pelo esporte.
À medida que a tecnologia avança, nossos estádios também evoluem. Estruturas cada dia mais modernas construídas para proporcionar conforto e segurança, não apenas para as estrelas do jogo, mas principalmente para quem está sentado à beira do gramado pu até mesmo, para quem está em casa. Isso porque um time não é nada sem seus torcedores. São os fãs os responsáveis pela atmosfera do jogo, é dessa simbiose que cria-se o espetáculo. Entretanto, em resposta ao recente surto de COVID-19 as principais ligas do mundo foram suspensas, partidas decisivas foram adiadas e alguns campeonatos, cancelados. Estádios acostumados a receber milhares de pessoas todas as semanas foram fechados e as aglomerações, que antes significavam euforia, passaram a ser vistas apenas como uma grande ameaça. Depois de longos meses de espera, ao passo que a situação parece estar sendo controlada em alguns países, finalmente as arenas estão sendo reabertas e os eventos esportivos retomados, mas com uma mudança significativa: sem presença de público. Neste contexto, a experiência do estádio deixou de ser física, presencial. Torcedores impedidos de atender às partidas do seu time do coração são obrigados a ficarem em casa, a torcer desde o sofá. As estrelas do esporte dependem do carinho dos fãs, e é aí que entram as novas tecnologias – uma maneira para se manter viva esta conexão, esse sentimento coletivo de pertencimento e identificação.
Não é de hoje que os mais modernos estádios estão sendo construídos para receber uma capacidade física cada vez maior de fãs, como também não é nenhuma novidade que o esporte está se transformando em uma nova forma de espetáculo-entretenimento para o consumo de massa. Um dos maiores debates em torno da implementação da Realidade Aumentada (RA) e Virtual (RV) em estádios é se seremos capazes de reproduzir a experiência física do torcedor dentro do estádio para fora dele, ou se o foco deveria ser promover uma experiência física cada vez mais completa e imersiva. As industrias do entretenimento e da tecnologia parecem inclinar-se à favor desta última, desenvolvendo novos mecanismos voltados ao usuário, desde a sua chegada ao estádio até a hora de ir para casa – privilegiando a experiência presencial acima de tudo. Por outro lado, para aqueles que preferem ficar em casa também existem certas vantagens. A tecnologia hoje nos permite ter acesso a uma infinidade de dados, opiniões e análises do jogo em tempo real, assim como poder escolher entre as dezenas de câmeras e imagens em alta definição sem precisar sair do nosso sofá.
Apesar da considerável queda no consumo de tecnologias de realidade aumentada e realidade virtual em decorrência da recente pandemia, pesquisas de mercado incidiam que as vendas de headsets RA e RV crescerá um 23% até o final deste ano. Alguns dos times de futebol que mais investem em tecnologia à nível mundial, como o Manchester City e a Juventus, já estão experimentando soluções tecnológicas de mídia mista voltadas à experiência remota. Ligas profissionais dos mais variados esportes estão investindo alto nesta direção, desenvolvendo aplicativos interativos conectados aos headsets de visualização da Oculus, por exemplo. Durante a última Copa do Mundo da FIFA em 2018, já pudemos ter uma idéia de como o mundo do esporte e a experiência do usuário podem se beneficiar das tecnologias de RA, principalmente através do Snapchat e Facebook. Uma quantidade inédita de filtros de fotos e temas passaram a proporcionar aos fãs uma maneira diferente de mostrar o seu orgulho pela sua equipe. A NBA também lançou recentemente a sua própria versão de realidade virtual durante as finais do ano passado, proporcionando uma experiência cada vez mais completa ao usuário remoto. O novo software da principal liga americana de basquete foi desenvolvido em parceria com a Intel e oferece uma ampla gama de imagens panorâmicas, estatísticas e análises em tempo real e replay on-demand - luxos que até agora ainda não chegaram às arquibancadas.
Durante o primeiro encontro do World Comes to Congress, uma inovadora iniciativa que reuniu alguns dos principais expertos do setor, executivos do esporte observaram a pausa imposta pela pandemia de COVID-19 como uma oportunidade para repensar a experiência remota dos fãs e criar soluções inovadoras baseadas em realidade aumentada e virtual. Os principais debates giraram em torno do afastamento forçado dos fãs ao longo dos últimos meses, os quais estão cada dia mais ansiosos para poder desfrutar mais uma vez de sua grande paixão pelo esporte. A solução encontrada, para este final de temporada, foi a reabertura dos estádios sem a presença de torcedores, algo que pode parecer um pouco sinistro para quem está acostumado com o barulho das torcidas apaixonadas. Ainda assim, os participantes da conferência observaram que os proprietários das principais equipes do mundo estão explorando novas ferramentas e desenvolvendo sistemas de transmissão de voz que poderiam estar conectados ao som gerado pelos torcedores direto de suas casas.
É muito provável que isto tudo seja só o começo de algo que veio para ficar. Novas narrativas tendem a ganhar espaço no setor esportivo visto como entretenimento de massa, com tecnologias de RA e RV desempenhando um papel cada dia mais significativo. As coisas estão apenas começando a mudar e é está mais do que evidente que ao longo dos próximos anos os eventos esportivos não serão mais os mesmos – principalmente no que se refere à maneira como se transmite e se consome entretenimento esportivo desde o conforto da nossa casa. Será que no futuro veremos hologramas dos jogadores na nossa própria sala de TV? Fato é que, muito em breve, assistir e torcer pelo nosso time do coração será muito diferente de como o fazemos hoje, diminuindo a distancia entre quem está dentro e fora do estádio.
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