No dia 08 de março é celebrado o Dia Internacional da Mulher, uma data lembrada há anos como um símbolo da luta pelos seus direitos. No entanto, apesar da legislação de muitos países estabelecer direitos iguais para homens e mulheres, a desigualdade de gênero e todas as suas consequências ainda são sentidas diariamente por meninas e mulheres em diferentes partes do mundo. O sistema patriarcal, enraizado em muitas sociedades ao longo dos séculos, foi responsável por uma desigualdade de poder entre os gêneros que, nos casos mais extremos, reflete-se na violência e no feminicídio.
O avanço nas legislações de muitos países, que garantem – ao menos na teoria – direitos iguais para homens e mulheres, é resultado de mais de dois séculos de lutas femininas em favor da igualdade. Mas, infelizmente, as leis ainda são insuficientes para assegurar esses direitos. Segundo o relatório Global Gender Gap, do Fórum Econômico Mundial, estamos ainda a mais de um século de distância da igualdade de gênero, se seguirmos o ritmo atual de progresso.
Enquanto a erradicação da violência contra a mulher e da disparidade de gênero parecer uma realidade distante, será preciso não apenas lutar pelas causas das mulheres – que já vêm sendo reivindicadas há muito tempo –, mas também enfrentar as consequências provocadas todos os dias pelo machismo estrutural.
Centros de oportunidades, capacitação, acolhimento para vítimas de violência doméstica e tratamento da saúde de gestantes são alguns exemplos de espaços pensados para fazer com que as mulheres sintam-se seguras e empoderadas.
Neste Dia Internacional da Mulher, apresentamos 13 projetos ao redor do mundo dedicados ao acolhimento, tratamento, ensino, encontros e trocas.
Escola para Garotas Rajkumari Ratnavati / Diana Kellogg Architects
O Centro GYAAN tem como objetivo educar e empoderar mulheres, auxiliando-as a se tornarem economicamente independentes, podendo assim prover para suas famílias e fortalecer suas comunidades. Dessa forma, o Centro GYANN foi projetado por uma mulher e é dedicado à mulheres. A arquiteta Diana Kellogg buscou se inspirar em símbolos de força, resultando, portanto, em uma estrutura oval, que representa o poder da feminilidade, e o infinito, e ao mesmo tempo também remete à paisagem das dunas de Jaisalmer, dialogando com a paisagem local.
Artesãs Ayutthaya: Restaurante das Mulheres / Bangkok Project Studio
Além do método construtivo e dos materiais alternativos, que deram vida as Artesãs Ayutthaya, a história do lugar não é menos inspiradora. O projeto está localizado em uma vila no distrito de Ban Run, onde a maioria dos moradores são mulheres solteiras ou viúvas. Cada uma das cozinheiras prepara especialidades em grandes panelas, e embala a comida em pequenas sacolas individuais para oferecer aos monges e trocar entre eles. Desta forma, nasce o projeto.
Além da Sobrevivência - Um Espaço Seguro para Mulheres e Meninas Rohingya / Rizvi Hassan
Por algum tempo, os refugiados Rohingya enfrentaram a vulnerabilidade em habitação básica, saúde, nutrição e estado emocional. O centro oferece a meninas e mulheres adolescentes um lar seguro onde podem tomar banho diariamente, um espaço para se isolar do abuso e da violência e onde podem aprender a criar e compartilhar.
Abrigo para Vítimas de Violência Doméstica / Amos Goldreich Architecture + Jacobs Yaniv Architects
Liderada pela ativista pioneira dos direitos humanos, Ruth Rasnic, do grupo internacional ‘No To Violence’, a instalação fornecerá um refúgio muito necessário para mulheres e crianças em dificuldades e abusos de todas as localidades e origens. Na chegada do abrigo, cada nova família recebe uma pequena ‘casa’ que é parte de uma edificação maior. A fim de permitir que as famílias possuam uma rotina diária normal no refúgio, as 'casas' são separadas por funções comuns e conectadas por corredores internos.
Casa Albergue KWIECO / Hollmén Reuter Sandman Architects
A Organização da Consultoria e Intercâmbio de Informação de Mulheres de Kilimanjaro (KWIECO) foi fundada em 1987. Proporciona assessoramento sobre questões jurídicas, de saúde, sociais e econômicas às mulheres. A arquitetura da Casa Albergue respeita a cultura local e a hierarquia espacial. Os materiais locais, as energias renováveis, a mão de obra e o saber local são utilizados, assim como o planejamento participativo, para garantir que os usuários tenham um sentido de propriedade mental no albergue.
Sede Castanhas de Caju / Estudio Flume
O projeto e obra para ampliação da Cooperativa das Mulheres Produtoras de Castanhas de Caju, em Nova Vida, Bom Jesus das Selvas – MA, transformou uma pequena casa da comunidade na sede de trabalho do grupo e, também, num ponto de encontro dos vizinhos. O aprendizado com a dinâmica de trabalho de seis mulheres da cooperativa (Eliane, Francisca, Maria Rita, Leudiane, Solange e Nacely) nos permitiu organizar um fluxo no programa que facilitasse também a rotina de trabalho.
Academia Girl Move / ROOTSTUDIO + Paz Braga
A proposta de Girl Move foi uma academia (em um campus universitário, dentro da comunidade, com o qual a organização colaborou durante mais tempo, desde 2013) com espaço suficiente para operar, mas que buscava espacialmente a capacitação de excelência e dinâmica pela qual Girl Move é reconhecida. Para além da funcionalidade, o edifício teve que cumprir com o propósito de inspirar a outros, proporcionando uma nova referência: inovação, sustentabilidade e valorização dos recursos e conhecimentos locais.
Centro de Oportunidade para Mulheres / Sharon Davis Design
Nós escolhemos a ideia de uma aldeia vernacular de Ruanda como princípio de organização: uma série de pavilhões em escala humana aglomerados para criar segurança e comunidade para mais de 300 mulheres. Concebidos em colaboração com Women for Women International - uma organização humanitária que ajuda mulheres sobreviventes de guerra a reconstruírem suas vidas - esta pequena aldeia transforma a aglomeração urbana e a agricultura de subsistência com uma agenda de arquitetura para criar oportunidades econômicas, reconstruir infra-estrutura social, e restaurar o patrimônio Africano.
Centro para Mulheres em Masai / C-re-aid
Projetado em colaboração com a Femme International, uma organização humanitária que elabora workshops para meninas e mulheres sobre educação sexual e higiene pessoal, este espaço foi pensado como uma referência para as mulheres da comunidade no que se refere a qualquer necessidade, ao mesmo tempo que serve como lugar de encontro onde diferentes grupos de mulheres armazenam materiais e organizam suas reuniões.
Centro para Gestantes / MASS Design Group
A mortalidade materna devido a complicações durante o parto continua sendo um grande problema global. Este projeto rompeu o conceito de único bloco do volume existente criando uma série de recintos menores agrupados em pequenos pátios. Foram utilizados elementos vernaculares dos vilarejos do Malawi, onde os complexos familiares são compostos por vários pequenos volumes que abrigam gerações de uma família. Os blocos habitacionais menores criam comunidades que estimulam o compartilhamento do conhecimento entre mães experientes e novatas.
Repos Maternel Woman’s Shelter Extension / Marjan Hessamfar & Joe Vérons architectes associés
Repos Maternel é um abrigo para gestantes e mães jovens a partir de 18 anos, responsáveis por uma ou mais crianças, que são expulsas das suas famílias e estão em vulnerabilidade social e financeira. Localizado em um parque arborizado, o Château Lafon, uma grande casa de campo construída em 1920, proporciona aos residentes alojamentos, serviços de apoio e áreas comuns. Os prédios distribuídos pelo parque abrigam um berçário, escritórios e três semi-internatos para famílias numerosas.
The Women’s House of Ouled Merzoug / Building Beyond Borders Hasselt University
Em Ouled Merzoug, um pequeno vilarejo de terra perto da Cordilheira do Atlas no Marrocos, um terreno foi oferecido pela comunidade para a recente associação de mulheres AFOM (Association des Femmes d’Ouled Merzoug). O resultado final desse processo participatório é a Casa das Mulheres: um local de encontro, trabalho, e aprendizado no centro do vilarejo. Um lugar onde as mulheres podem compartilhar suas habilidades com a comunidade e visitantes.
Refugio para Mujeres Víctimas de la Violencia / ORIGEN 19º41' 53" N
Introspectivo, é projetado para que a arquitetura seja ‘diluída’, evitando ser a protagonista ao privilegiar a relação usuário-natureza e reduzindo a sensação de isolamento nas mulheres e seus filhos. Do ponto de vista humanitário, este edifício não deveria existir. Entretanto, na ausência de garantias de direitos e segurança das mulheres no México, é uma resposta resiliente de nossa profissão, tornando-se uma inovação tipológica fundamental e uma referência como arquitetura e instituição que ajuda a superar este problema.
Este artigo foi publicado originalmente em 09 de agosto de 2020 e atualizado em 08 de março de 2023. As descrições foram retiradas dos memoriais fornecidos pelos arquitetos.