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Pensando em mundo mais sustentável, no momento de construir são tomadas decisões a fim de gerar o menor impacto possível, e os materiais recicláveis contribuem muito para isso. Ao construir uma parede com materiais reaproveitáveis, pode-se pensar, por exemplo, em garrafas plásticas, e assim evitar seu descarte. Porém, existe uma técnica milenar utilizada em todo o mundo que é possivelmente o material mais sustentável: o adobe.
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Quando pensamos em sustentabilidade na construção, a imagem do uso que o projeto terá no futuro é inevitável. Como todo ato tem suas consequências, quando se utiliza materiais de construção que duram milhares de anos, esse uso é igualmente prolongado. Porém, o adobe pode ser um dos materiais que, para sua produção, pode gerar o menor impacto possível, e o melhor de tudo é que seu entulho pode ser devolvido à terra. Neste artigo exemplificaremos o processo de construção em adobe do projeto habitacional El Encuentro de Araukaria Arquitectura, nos arredores de Bogotá, onde o principal uso desta materialidade foi decidido pelas suas propriedades térmicas e estéticas que podem ser mimetizadas com a natureza, já que, em essência ela é a própria terra. Com o tempo, o adobe do projeto sofreu os efeitos de estar localizado em uma região chuvosa e úmida, mas ainda conseguiu se manter vivo graças à propriedade reutilizável do material.
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Duas técnicas são utilizadas para a construção em terrenos da região: a parede de taipa e os blocos de adobe. As paredes de adobe, ao contrário da parede de taipa, podem ser manuseadas em uma largura bem menor, com 25 cm, o suficiente para reter o calor e liberá-lo para o interior da construção à noite, ao contrário da taipa que pode atingir espessuras de até 60cm e gera espaços mais frios. O adobe também tem a vantagem sobre o tijolo queimado porque seus moldes são fabricados no local, permitindo infinitas variedades morfológicas que contribuem para o caráter icônico da obra e a possibilidade de correções construtivas mais econômicas em maquetes 1: 1 com areia como cola para poder ser desmontado manualmente.
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Para a formação dos blocos de adobe, o solo deve ser criteriosamente selecionado. Muito arenoso faz com que se partam facilmente, e muito úmido não permite uma moldagem correta. A terra deve ser argilosa para garantir a plasticidade que permite a correta maleabilidade e, por esse critério, o mestre construtor especialista em adobe artesanal é o juiz que determina o quão assertiva ela é. Isso faz com que o fator do terreno onde se localiza a obra seja decisivo para gerar o menor impacto possível. Se o levantamento do solo determinar que o terreno não é adequado para a fabricação no local, realocações terão de ser feitas, o que aumenta os custos e, claro, a emissão de carbono. No cerrado de Bogotá e arredores, a qualidade do solo é ótima para esta técnica de construção, já que, após 50cm de escavação o barro começa a aparecer. Portanto, para o El Encuentro a terra foi extraída do próprio lote.
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No processo de manufatura artesanal os bois pisam a terra e água é adicionada periodicamente. Para evitar o excesso de lama, areia é adicionada à mistura para melhorar sua maleabilidade. Posteriormente, é adicionado esterco de cavalo (o animal deve viver em piquetes e não em manjedouras, pois nesta última traz serragem). O esterco de cavalo gera uma certa permeabilidade à mistura graças ao fato de conter urina, de acordo com Clarita Sanchez, do departamento de estudo de solos da Universidade Nacional da Colômbia. Posteriormente, o farelo de trigo é adicionado à mistura, que funciona como a fibra que estrutura cada bloco. Em outras partes do mundo, onde não existe acesso a este componente, é utilizada a palha do Pinus Patula que funciona de igual maneira.
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Após moldados os blocos nas medidas desejadas, eles são deixados na etapa de pré-secagem no mesmo solo onde foram feitos. Esta etapa pode durar de 1 a 2 meses, dependendo das chuvas durante o processo. Embora seja conveniente cobri-los para que sequem mais rápido, o contato direto com as gotas de chuva lhes confere uma textura característica.
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As técnicas de junção entre os blocos no momento em que as paredes são erguidas podem variar de acordo com os critérios de construção desejados. A técnica original da região usa terra diretamente, porém, para projetos como este, optou-se por usar uma mistura de cimento e adobe que contribui para a longevidade do elemento.
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Os locais dizem que para construir com adobe é preciso ter "boas botas e um bom chapéu". Esse ditado significa que a base da parede deve ser isolada o suficiente para que o respingo da chuva não comprometa a composição do adobe, e um bom beiral para desviar o contato após a chuva.
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Por melhor que seja a bota e o chapéu da parede, se um tubo interno de água explodir, o adobe funcionará como uma esponja, absorvendo o vazamento até ficar saturado. Se isso não for controlado imediatamente, fará com que o material se desintegre. Foi o caso de uma das paredes do projeto. Porém, a parede foi levantada novamente como se nada tivesse acontecido graças ao fato de um estoque considerável de blocos ter sido mantido com as medidas predispostas pelo arquiteto. O que aconteceu com os escombros da referida parede? Eles foram enterrados novamente no jardim da casa. A erva cresce com maior fervor nessa região porque, quando se desintegra, o adobe funciona como fertilizante. Dessa forma, os blocos que foram afetados pelo vazamento de água voltaram exatamente para o mesmo local de onde foram extraídos, cumprindo o ciclo, deixando um impacto nulo.
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