Nem todas as obras arquitetônicas são um sucesso. Existe um termo temido, reservado apenas para os projetos mais inúteis: "Elefantes Brancos".
Este foi o apelido adotado durante anos para o famoso gigante abandonado em Villa Lugano, Buenos Aires. Um projeto inacabado que afirmava ser o maior hospital público da América Latina. Hoje, é difícil relembrar a enorme estrutura abandonada. Em seu lugar agora está a atual sede do novo Ministério do Desenvolvimento Humano e Habitat da cidade. Um prédio com muito menos andares. Edifício que dá origem também a um grande parque.
Como esquecer nossos elefantes brancos e transformá-los em lugares eficientes?
A Secretaria de Desenvolvimento Urbano nos conta como a chave está na escala humana:
O novo Ministério de Desenvolvimento Humano e Habitat do governo da Cidade de Buenos Aires substitui a estrutura esquecida do hospital especializado em tuberculose cuja obra foi abandonada em meados de 1955. Após 80 anos de abandono, esta massa escura e deteriorada se transformou em uma sede do governo com um parque público que deixou 70 anos de abandono. Após a demolição da antiga estrutura, em 2018, as obras da Villa Lugano promoveram a urbanização e a integração do bairro a partir da recuperação de um espaço desvalorizado. O projeto ficou a cargo da Prefeitura por meio de um esforço conjunto entre a Direção-Geral de Projetos de Arquitetura, o Ministério do Desenvolvimento Urbano e Transportes (hoje Secretaria de Desenvolvimento Urbano) e o Ministério do Desenvolvimento Humano e Habitat.
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A nova sede ocupa uma área de 21.000 m2 e possui um subsolo, três pavimentos de escritórios para mais de mil funcionários e um terraço verde de uso público que funciona como mirante para a cidade. O térreo comporta vários programas: refeitório, salão multiuso, auditório e uma agência do Banco Ciudad. O projeto inclui espaços abertos, com plantas livres e sem vigas. O generoso espaço interior é o resultado de uma série de operações e cortes nas lajes.
O parque público com 1,2 hectares de área verde e playground inclusivo foi projetado em conjunto com os moradores do bairro. Este formato participativo responde à iniciativa da Direção de Antropologia Urbana que analisa a problemática do tecido social numa perspectiva transversal. A escala humana é a chave dos projetos co-criados com os vizinhos que, neste caso, traçaram os rumos do parque. Mais de 4.500 participaram da definição dos equipamentos (horta, circuitos recreativos, postos aeróbicos) e da escolha do nome, que foi eleito por votação como "Parque Elefante Blanco".
O processo que mudou a cara do Bairro 15 começou com a demolição do esqueleto em outubro de 2018. Embora tenham sido avaliadas diferentes possibilidades para recuperar a estrutura, as equipes que intervieram no projeto determinaram que era irrecuperável: fachadas inundadas, núcleos afastados e deterioração avançada.
A nova propriedade não só acrescentou segurança e acessibilidade à área. Ela faz parte de um plano de desenvolvimento e revitalização de áreas vulneráveis no sul da Cidade de Buenos Aires, eliminando as barreiras que separam esses bairros do resto das comunas. A integração do bairro e a melhoria da qualidade de vida de 25 mil moradores foi o ponto de partida, segundo Álvaro García Resta, atual secretário de Desenvolvimento Urbano.
O arquiteto explica que “o desafio consistiu em realizar 3 obras em 1. A demolição do Elefante Branco foi realizada ao mesmo tempo em que se iniciavam as obras do Ministério do Desenvolvimento Humano e Habitat e se concretizava o parque. O novo espaço público promove o equilíbrio social e passa a ser o ponto de encontro entre os vizinhos e o Estado. Ele foi pensado a partir da lógica de desconstruir o descaso para construir o futuro. Cidade oculta que recupera visibilidade e se integra ao ambiente verde dotado de áreas esportivas e anfiteatro”. Outro desafio, assinala García Resta, foi conseguir uma síntese construtiva a partir da intervenção austera, silenciosa e contextualizada: “O edifício marca a sua presença sem ocultar o espaço público”.
As fachadas são materializadas em concreto armado exposto e resolvidas com varandas contínuas e proteções metálicas que ajudam a reduzir a influência térmica. Simples e de baixa manutenção, o volume contempla em seu desenho a história do antigo hospital que com o tempo só gerou desolação. O programa também inclui estacionamento para 102 carros e perímetro arborizado com mobiliário urbano. O projeto integral do complexo contribui para a reorganização da circulação na área, pois destaca o entorno dos setores constituídos pelas ruas De la Rosa, Hubac, Cañada de Gómez e Timoteo Gordillo. A integração da área incluiu a construção de uma nova rede de esgotos, águas pluviais, juntamente com a rede elétrica e de fibra óptica subterrânea. Nesse sentido, também foram revitalizadas ruas, calçadas, meios-fios, calçadas, luminárias e diversos espaços equipados para o usufruto seguro dos vizinhos. Historicamente postergado, o bairro deixa o abandono com a chegada de mais de mil pessoas que vêm trabalhar todos os dias, recurso que também gera mais empregos e proporciona melhores condições de segurança ao meio ambiente.
De acordo com o levantamento feito pela Direção-Geral de Antropologia Urbana, os moradores necessitavam de mais segurança. Deste modo, entre outras soluções, foram instaladas luminárias LED e ruas melhoradas.
O programa que buscava reativar a economia da região desestigmatizou o bairro conhecido como "Ciudad Oculta". Seus vizinhos não escondem mais este pseudônimo pejorativo, produto de assentamentos informais. Agora eles têm seu próprio nome.
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