À medida em que as preocupações em torno das consequências da ação humana em escala global aumentam, a busca por alternativas de menor impacto no meio ambiente nas mais diversas escalas também tem se tornado mais comum. Na construção civil, setor em que apenas os edifícios são responsáveis por 33% do consumo global de energia e 39% das emissões de gases de efeito estufa, práticas como a da bioconstrução têm apontado uma direção diferente na forma de lidar com as demandas humanas de forma indissociada da natureza.
Em termos gerais, a bioconstrução é conhecida como a concepção de ambientes sustentáveis a partir do emprego de materiais e técnicas construtivas de baixo impacto ambiental, levando em conta parâmetros como a adequação às condições locais e o tratamento de resíduos.
A bioconstrução é normalmente entendida como uma das formas de pôr em prática os princípios da permacultura, termo cunhado nos anos 70 pelos ambientalistas australianos Bill Mollison e David Holmgren para designar um método de agricultura permanente que, após uma expansão conceitual, passou a ser conhecida como “cultura permanente”. Neste sentido, os princípios da bioconstrução reverberam as premissas da permacultura na medida em que buscam métodos construtivos naturais em favor de uma maior integração e harmonia entre o homem e a natureza.
Por meio de práticas como a análise do ciclo de vida, origem e destino dos materiais utilizados e a preferência pela utilização de materiais locais, atóxicos e duráveis, a bioconstrução tem como base o respeito pelo meio ambiente durante as fases de projeto, construção e vida útil do edifício.
Assim, o simples emprego de materiais ditos sustentáveis não é condição suficiente para a caracterização de um edifício como bioconstrução, pois este método construtivo parte do entendimento do edifício como um sistema integrado no qual os elementos, materiais, técnicas e o impacto ambiental são entendidos como um todo e estão presentes nas diferentes fases do edifício em concordância com o respeito ao meio ambiente.
Na fase de projeto, por exemplo, a especificação de materiais e o estudo das condições locais a fim de promover o conforto ambiental de forma passiva são algumas das considerações a serem levantadas. Já na etapa da construção, o uso de técnicas locais e de baixo impacto ambiental, além da busca pela minimização dos resíduos da construção, são algumas das preocupações mais comuns. Neste artigo publicado anteriormente, apresentamos algumas das técnicas bioconstrutivas mais conhecidas, como o adobe, COB, taipa e cordwood.
Por fim, no âmbito da bioconstrução, a etapa pós-execução do edifício também deve estar de acordo com os princípios da prática, o que pode ser possível de diversas formas. A eficiência energética, o tratamento adequado dos resíduos e o uso de energias renováveis são algumas das possibilidades para integrar os princípios da bioconstrução na vida útil do edifício.
Hoje, a difusão das técnicas e da prática da bioconstrução a partir de livros, cartilhas, guias, entre outras publicações, sobretudo em plataformas digitais, tornou possível uma maior democratização do acesso às informações relativas à atividade. No entanto, é necessário ressaltar a importância da prática presencial e da análise das condições ambientais locais para a melhor adequação possível da arquitetura em todos os processos envolvidos na bioconstrução.