Em 1941, o engenheiro suíço George de Mestral, acompanhado de seu cão, fazia uma das suas caminhadas recorrentes pelos Alpes quando observou que as sementes de uma determinada espécie dotada de espinhos e ganchos colavam constantemente na sua roupa e no pelo de seu cachorro. Foi a partir dessa observação e do estudo de tal planta que, sete anos mais tarde, ele criou o conhecido velcro, um tecido repleto de minúsculos ganchos que possibilitam a sua fixação em determinadas superfícies.
A inspiração de Mestral na natureza, como uma imitação e replicação do comportamento de um organismo biológico, foi popularizada por Janine Benyus, no seu livro Biomimicry - Innovation Inspired by nature (1997) sob o conceito de biomimética. Nele a autora apresenta três vertentes que relacionam a criação e inovação humana com a natureza.
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Inspiração na natureza muito além da forma: a biomimética na arquitetura
Natureza como modelo
Biomimética enquanto uma ciência que estuda os modelos da natureza e, em seguida, imita ou se inspira nesses projetos e processos para resolver problemas humanos.
Natureza como medida
A biomimética usa um padrão ecológico para julgar a “correção” de nossas inovações. Após 3,8 bilhões de anos de evolução, a natureza aprendeu o que funciona, o que é apropriado e o que resiste.
Natureza como mentora
A biomimética é uma forma de ver, valorizar e respeitar a natureza.
Agora, entrando no campo da arquitetura propriamente dito, a biomimética pode ser vista como uma abordagem projetual tecnologicamente orientada que busca soluções na natureza para além de uma mera replicação das suas formas, estabelecendo-se por meio de uma compreensão mais aprofundada das normas que a regem.
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Arquitetura Biomimética: o que podemos aprender da natureza?
Apesar de ser considerada uma corrente contemporânea, e de fato tenha ganhado muita força nos últimos anos, o arquiteto Michael Pawlyn afirma em seu artigo How biomimicry can be applied to architecture, publicado no Financial Times, que um dos primeiros exemplos de arquitetura biomimética pode ser encontrado no trabalho do renascentista Filippo Brunelleschi o qual, após estudar a resistência das cascas de ovo, projetou uma cúpula mais fina e leve para sua catedral em Florença, concluída em 1436.
Trazendo para os dias atuais, Pawlyn ainda cita como exemplo a observação e estudo de cupinzeiros no desenho de ambientes climaticamente confortáveis em locais quentes, como Zimbábue – onde tal técnica foi testada no edifício Eastgate Centre – eliminando a necessidade do uso de ar-condicionado.
Esta, que pode ser chamada de “revolução biomimética”, é considerada hoje em dia uma importante diretriz rumo à sustentabilidade do ambiente construído representando um momento em que as construções não estão mais baseadas exclusivamente no que pode se extrair da natureza, mas atentas ao que se pode aprender com ela.