Diante do cenário da pandemia de coronavírus, foi preciso repensar a relação entre as pessoas e o espaço à sua volta. Enquanto espaços fechados, que costumam reunir aglomerações de pessoas, os museus não tiveram outra saída a não ser fechar as portas à medida que o número de casos de infecções aumentava. A programação destes espaços, por outro lado, não necessariamente foi interrompida. Ainda que alguns grandes eventos na área de arquitetura e urbanismo tenham sido adiados para uma data em que espera-se que a pandemia tenha sido controlada (como é o caso da 17ª edição da Bienal de Arquitetura de Veneza), muitos museus, galerias e demais espaços expositivos viram o momento como uma oportunidade para estreitar suas relações com o formato virtual.
A partir das limitações impostas pela pandemia, os museus se voltaram a diferentes estratégias para continuar a promover o diálogo com o público. As formas encontradas para abrigar uma exposição de modo a garantir o distanciamento social foram muito além da disponibilização do acervo em formato digital, explorando, por exemplo, a concepção dos espaços expositivos em realidade virtual, o uso robôs que percorrem os espaços dos museus no lugar das pessoas, a mudança de plataformas das exposições para os formatos de sites, jogos, vídeos, entre outros.
As exposições virtuais — que já não eram uma novidade — se propagaram e levantaram outras questões e possibilidades para o campo da expografia, no qual, tradicionalmente, a experiência no espaço tem grande valor para a apreensão daquilo que é exposto. Assim, à medida em que o recorte temporal e espacial que tradicionalmente restringem as exposições a um determinado tempo e espaço foi diluído a partir da modalidade virtual, as exposições puderam ser acessadas a qualquer momento de qualquer lugar.
Desta forma, apesar das restrições impostas pelo novo formato, o alcance das exposições pôde ser ampliado para que um público maior pudesse ter acesso às a elas no período em que estão ou estiveram abertas ao público. Como forma de alargar ainda mais o seu alcance, reunimos uma seleção das melhores exposições virtuais de 2020 relacionadas, de diferentes maneiras, à arquitetura e ao urbanismo. Além de experimentar diferentes formas de lidar com a modalidade virtual, as exposições a seguir exploram a interdisciplinaridade da área a partir da interface com outros campos como arte, design, jogos, entre outros.
AA Earth Gallery
A AA Earth Gallery foi elaborada para comemorar os 50 anos do Dia da Terra, um evento anual realizado em apoio à proteção ambiental. A Architectural Association encomendou ao estúdio Space Popular esta exposição virtual que apresenta uma série de trabalhos relacionados ao tema da Terra e das relações humanas.
Ca’n Terra
A exposição em realidade virtual detalha a conversão de uma pedreira em uma casa em Menorca, Espanha. As intervenções realizadas para revitalizar a caverna foram pensadas para trazer ar, luz e habitabilidade para a atmosfera escura do espaço. Segundo o Ensamble Studio, que realizou a intervenção no espaço, a transformação arquitetônica se restringe a uma ação: esculpir a luz.
Edith Farnsworth Reconsidered
A Casa Farnsworth, projetada pelo arquiteto Mies van der Rohe para a Dra. Edith Farnsworth, passou, neste ano, por uma intervenção que reconstituiu o mobiliário original da casa, dispostos no espaço de acordo com as fotografias da época. Para aqueles que não puderam visitar a casa pessoalmente, é possível visitar os espaços reconfigurados a partir dos móveis por meio de realidade virtual.
Liveable Urbanism Virtual Exhibition 2020
A Liveable Urbanism Virtual Exhibition é formada por duas exposições virtuais que apresentam as propostas de pesquisa e projeto de pesquisa que os estudantes de arquitetura da Welsh School of Architecture (WSA) da Universidade de Cardiff, Reino Unido e da School of Planning and Architecture (SPA), Nova Delhi, produziram com o objetivo de tornar Kochi (Japão) e Mangalore (Índia) habitáveis e sustentáveis.
We Design
A exposição apresenta, de forma colaborativa, histórias das trajetórias de profissionais da área criativa em diferentes carreiras; de grafiteiros e arquitetos a designers e planejadores estratégicos. A ênfase da mostra é destacar a necessidade de maior diversidade racial e de gênero nos campos de design e inovação, destacando a importância da igualdade e da inclusão.
WHAT’S UP / TWENTY TWENTY
Segundo os organizadores, esta exposição abraça a digitalização do mundo da arte e celebra as narrativas que definem a força da humanidade moderna. As obras de artistas e designers de todo o mundo são expostas em cinco galerias digitais criadas exclusivamente para a mostra, cujos desenhos são inspirados em movimentos arquitetônicos e no trabalho de alguns arquitetos, como Luis Barragán, David Chipperfield e Tadao Ando.
SURPRISINGLY THIS RATHER WORKS
Elaborada na forma de um jogo para celular, a instalação do artista alemão Manuel Rossner na igreja brutalista de St. Agnes, em Berlim, explora um formato interativo entre o espectador e a obra. O jogo está disponível para download para iPhone e Android.
Windowology
A Japan House Los Angeles desenvolveu a exposição Windowology, fruto de um projeto de pesquisa multidisciplinar homônimo conduzido pelo Window Research Institute. A exposição apresenta modelos arquitetônicos, desenhos, fotografias, filmes, mangás, livros, artesanato, estatísticas/informações ambientais e citações em torno de dez temas relacionados às janelas.
Connected
A exposição apresenta uma série de mesas e cadeiras criadas por nove designers que foram desafiados a projetar o mobiliário para seus próprios home offices de forma a adaptá-los para os novos modos de vida e de trabalho remoto impostos pela pandemia de coronavírus. A exposição teve como objetivo explorar como os designers e artesãos adaptaram seus métodos de trabalho durante o lockdown.
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