Segundo a ONU, a parcela da população que vive em áreas urbanas, hoje correspondente a cerca de 55% da população mundial, aumentará para 70% em 2050. A capacidade dos governos de administrar o crescimento urbano acelerado é uma tarefa difícil e, entre os desafios mais comuns a serem enfrentados diante dessa perspectiva, está o fornecimento de moradia, serviços básicos e alimentos aos habitantes das cidades. A questão da segurança alimentar nos grandes centros depende de vários fatores, como a disponibilidade, o acesso e a qualidade dos alimentos.
Com o crescimento das populações urbanas e da demanda por alimentação nas cidades, têm surgido diferentes iniciativas que buscam promover a segurança alimentar para estes habitantes, como pequenas hortas comunitárias, fazendas urbanas, fazendas verticais e instalações hidropônicas ou aquícolas intensivas. Todas essas iniciativas podem ser enquadradas como exemplos de agricultura urbana, uma prática muito heterogênea e facilmente adaptável.
Apesar da promoção da segurança alimentar ser um dos fatores que mais impulsionam a adoção da agricultura urbana, o plantio não necessariamente precisa ser voltado à produção de alimentos, como é o caso das hortaliças, frutas e animais, mas pode também incluir plantas medicinais, ornamentais, entre outros, desde que a área e as condições ambientais sejam compatíveis com as exigências de cada atividade.
A revista “Urban Agriculture” foi criada em 2000 pelo RUAF (Resource Centre on Urban Agriculture and Food Systems) para preencher uma lacuna na comunicação em torno do tema da agricultura urbana e desde então atua de forma a facilitar a troca de informações e discussões no papel potencial da agricultura intra e peri-urbana. O primeiro número da revista, dedicado a estabelecer os conceitos, políticas e práticas da agricultura urbana, ainda que tenha sido publicado há 20 anos, é fundamental para compreender as bases da prática.
Segundo Mougeot, no artigo "Urban Agriculture: Concept and definition" (2000), as definições mais comuns da agricultura urbana são baseadas nas seguintes determinantes: tipos de atividades econômicas; categorias e subcategorias de produtos alimentícios/não-alimentícios; tipo de localização intra e peri-urbana; tipos de áreas onde é praticada; tipos de sistemas de produção; destino do produto e escala de produção
A agricultura urbana está localizada dentro (intra-urbana) ou na periferia (periurbana) de uma localidade, cidade ou metrópole, e cultiva, produz, processa e distribui uma diversidade de produtos alimentícios e não-alimentícios, (re)utiliza largamente recursos humanos e materiais e, produtos e serviços encontrados dentro e ao redor daquela área urbana, e por sua vez, fornece recursos humanos e materiais, produtos e serviços para essa mesma área urbana. – Luc J.A. Mougeot
Apesar das diferenças entre a agricultura urbana e a agricultura rural, ambas são complementares entre si e estão associadas aos sistemas alimentares locais. Mas o conceito de agricultura urbana ainda é muito amplo e pode ser interpretado de diferentes maneiras a depender do contexto em que é utilizado, além de estar em constante revisão a partir do surgimento e desenvolvimento de pesquisas, iniciativas, parâmetros de análise, e da própria experiência das cidades com a atividade.
A redução de distâncias, a possibilidade de aproveitamento do lixo doméstico, o uso de espaços ociosos nas cidades, a promoção da segurança alimentar e a geração de atividade ocupacional, com a consequente geração de renda, são algumas das principais vantagens da agricultura urbana. A prática também tem sido vista como uma oportunidade para superar adversidades em momentos de crise econômica, climática ou sanitária, como foi possível observar em 2020 com a pandemia de Covid-19 em cidades como Victória, no Canadá, e Quito, no Equador.
Além do seu importante papel na adaptação às mudanças climáticas e redução do risco de desastres, é necessário compreender a agricultura urbana como uma prática interrelacionada a outros sistemas urbanos, sobre os quais exerce impacto, como a saúde, uso do solo e gestão de resíduos. Nesse sentido, a agricultura urbana surge como uma possibilidade de enfrentar não apenas os desafios do crescimento das cidades diretamente relacionados à questão da segurança alimentar, mas também aqueles implicados de forma indireta nos sistemas urbanos interrelacionados à própria prática.
https://www.usda.gov/sites/default/files/documents/urban-agriculture-toolkit.pdf>. Acesso em 28/12/2020.
MOUGEOT, L. Urban Agriculture: Concept and definition. Urban Agriculture Magazine, Leusden, v. 1, n. 1, jul. 2000. Disponível em: <https://ruaf.org/what-we-do/urban-agriculture-magazine/>. Acesso em 28/12/2020.