Interpretando a arquitetura: como o projeto sai do papel através de técnicas de análise

A arquitetura nunca é um acidente. É um esquema cuidadosamente planejado de padrões e estilos que respondem ao ambiente natural, celebram a materialidade e / ou são referenciais de movimentos estilísticos ao longo da história, isto é, todas as formas de entender porque os projetos foram feitos daquela maneira. Existem diferentes maneiras de analisar a arquitetura, por meio do uso de diagramas, padrões, relacionamentos e proporções, para citar alguns. Para arquitetos e leigos, existe um desejo subconsciente de uma estrutura de tomada de decisão no projeto. Como resultado, a arquitetura se tornou um exercício de auto posicionamento - um reflexo microcósmico do mundo ao nosso redor, visto nos projetos que construímos.

Alguns podem dizer que a teoria da arquitetura e a análise de um edifício é um tipo de “piada interna”, para o olho treinado que se impõe ao homem comum. A intenção é examinar como os arquitetos chegam a seu projeto, sem julgar se as pessoas gostam dele ou se é bem-sucedido em suas qualidades experienciais. Muito vezes, isso resulta em arquitetos justificando seus projetos para outros colegas e criando debates filosóficos e autorreferenciais entre si. Mas a arte da leitura deve e pode ser facilmente digerida por qualquer pessoa. O design é de domínio público, e apenas uma pequena porcentagem do mundo é responsável pela criação de edifícios, enquanto todas as pessoas na Terra são impactadas por eles. Então, por onde começar? Se você não está familiarizado com o mundo da análise de arquitetura, este breve estudo de dois edifícios retirados de trechos de um novo livro intitulado “Architecture Stuff” é um bom lugar para começar. O livro fornece diagramas ilustrativos, fotografias e uma análise que apresenta observações e interpretações de temas arquitetônicos comuns que, juntos, criam uma densidade em camadas de informações, enquanto tornam a linguagem da análise arquitetônica informal, legível e, o mais importante, acessível a todos.

Casa Vanna Venturi / Robert Venturi

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Casa Venturi - Elevação Frontal. Fotografia © Maria Buszek

A Casa Vanna Venturi é uma das casas mais icônicas da era pós-moderna e uma das obras mais famosas de Robert Venturi. A elevação frontal da casa diz muito sobre a intenção do projeto de Venturi. A casa é “carregada de movimento” à medida que os elementos externos aumentam e diminuem, deslizam pela fachada, comprimindo, sobrepondo e criando diferentes camadas de transparência. Uma das características mais famosas desta casa é o telhado com duas águas opostas, talvez uma referência histórica à Casa II Girasole de Moretti. Embora esses gestos sejam de natureza simples, eles coletivamente indicam que houve um proposito de incluir diversos elementos referenciais em uma elevação bastante pequena.

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Casa Il Girasole by Luigi Moretti. Image © Gabrielle Bascillico

A casa também se mostra um pouco "apertada", talvez se referindo a McKim, Mead e a Casa White Low, e considerando o pé direito duplo, seria fácil acreditar que o volume foi comprimido com um pavimento sobreposto ao outro. A ligeira inclinação no acesso de veículos também deixa poucas dúvidas de que Venturi estava se referindo ao eixo curvo da Propolea ao Partenon.

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© Robert Livesey

Grace Farms / SANAA

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Implantação. Fotografia cortesia de SANAA

Grace Farms é um centro comunitário cultural localizado em New Canaan, Connecticut, que se concentra no desenvolvimento do meio ambiente, das artes, da justiça, da comunidade e da fé. O edifício principal foi apelidado de "Edifício Rio" devido a sua cobertura refletiva e seu formato em serpentina. Embora simplista por natureza, o edifício é pesado e cuidadosamente detalhado, com um excelente trabalho de integração de arquitetura e paisagem. A esbeltez dos elementos arquitetônicos é crítica, já que as colunas são extremamente finas e a cobertura se assemelha a um "chiclete que foi esticado", de forma a tornar certas áreas do beiral também finas.

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© Robert Livesey

As vistas da paisagem circundante são importantes para este edifício, especialmente as existentes entre os pavilhões. O projeto teve o cuidado de trazer perspectivas diferentes em cada um dos elementos programáticos. No auditório inclinado, os visitantes olham para a paisagem expansiva, e após caminhar pela biblioteca, sala de jantar e sala de chá, chegam ao ginásio onde as janelas de vidro funcionam como clerestórios, permitindo a entrada de luz, onde então a visão final é alcançada. As condições de cada espaço foram elaboradas para proporcionar uma experiência diferente em cada sala. "Corte profundos e rasos, condição aberta versus fechada, colina íngreme versus ondulada, simetria versus assimetria e pavilhão versus passarela."

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© Dean Kauffman

É importante notar que essas camadas de observação não devem ser duplicadas, de forma a criar outro projeto que se assemelhe a uma colagem de várias traduções de projeto em um resultado final, mas é importante entender, que a sua aparência pode traduzir sua maneira de execução. Isso é crítico ao compreender, traduzir e projetar ideias que são centradas em conceitos arquitetônicos. Essas compreensões de padrões e gestos não são apenas identificáveis nesses dois projetos, mas em quase todos os edifícios. Para onde quer que você olhe, você poderá descobrir que existem elementos e relações como as da Casa Venturi ou Grace Farms, não necessariamente em sua aparência ou no desempenho de suas funções programáticas, mas da forma como são projetados de forma inteligente com um conjunto de elementos arquitetônicos, interações e / ou métodos.

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Sobre este autor
Cita: Overstreet, Kaley. "Interpretando a arquitetura: como o projeto sai do papel através de técnicas de análise" [Reading Architecture: How "Looking" Becomes "Making" Through Techniques of Analysis] 09 Fev 2021. ArchDaily Brasil. (Trad. Bisineli, Rafaella) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/956051/interpretando-a-arquitetura-como-o-projeto-sai-do-papel-atraves-de-tecnicas-de-analise> ISSN 0719-8906

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