A conexão entre interior e exterior é quase sempre citada nos projetos de arquitetura, afinal, trazer vislumbres do espaço externo para um edifício é um dos artifícios mais utilizados ao pensar o bem-estar de seus habitantes. Além do contato com as paisagens do entorno, um fator importante desta estratégia está em permitir a entrada da luz natural no espaço, uma vez que ela pode transmitir uma mensagem visual que transforma a percepção espacial.
Para isso, a instalação de claraboias ou outros tipos de aberturas zenitais surgem como uma boa alternativa, pois elas permitem a compreensão da passagem das horas de um dia através da luz que se manifesta no ambiente - sendo esta uma sensação fundamental para a compreensão do nosso ritmo circadiano, responsável por regular o funcionamento do corpo humano e, por consequência, pelo nosso bem-estar.
Conjuntamente, além de interferir na qualidade da luz, este tipo de solução tem o potencial de trazer maior conforto ao usuário uma vez que pode influenciar também na circulação do ar, de acordo com o equipamento que for instalado. Para exemplificar todos esses benefícios, reunimos treze projetos que adotam as aberturas zenitais através de distintas abordagens.
Iluminação zenital no espaço residencial
Como é comum no centro do Porto, os lotes são estreitos, longos e com apenas duas frentes, brindando aos arquitetos o desafio de trazer mais luz para para os espaços interiores. No caso da GreenHouse, realizada por OTTOTTO, a solução foi dada pelo desenho de um único corte na cobertura - um "anel quadrado", com largura constante de 70 cm, que atravessa os três pisos e para o qual espreitam oito janelas.
Ao entrar na Casa Vodanovic, de Duarte Fournies Arquitectos, é possível observar a geometria da cobertura, que confere a este local um pé-direito mais alto do que o do resto da casa, realçando a ideia de que ali seria um ponto de encontro. Essa geometria da cobertura também destaca uma abertura zenital que permite não só a entrada de luz natural, mas também permite olhar ao céu, possibilitando, assim, os moradores e visitantes de acompanharem as mudanças de coloração típicas do céu do sul do Chile.
No exemplo da Casa Ninho Flutuante, assinada por atelier NgNg, uma malha de bambu se deixa ver desde o interior através da abertura zenital do jardim. Acima do volume da escada, este elemento vazado se transforma em uma espécie de anteparo vertical, permitindo uma conexão visual direta entre os espaços da casa. Ao deixar a luz penetrar no interior do espaço, as sombras parecem dançar ao som alegre que chega da rua, ou com o vento que assovia ao preencher os espaços da casa.
Já o G+F Arquitectos, ao fazer a reforma e adaptação de um antigo celeiro em moradia afirmaram que reabilitar, neste caso específico, significou trazer a luz natural para os espaços interiores e prover novas instalações necessárias para acolher os novos moradores. A solução foi cobrir a escada com novas telhas translúcidas de policarbonato, que criaram uma espécie de claraboia ou abertura zenital, inundando os espaços de ambos pavimentos com luz natural intensa e difusa.
A abertura zenital pensada para o conforto
Na Escola dos Arcos Dançantes, a assimetria de seus arcos é uma lembrança de que nem sempre um projeto precisa ser desenhado com linhas paralelas e perpendiculares. A irregularidade que salta aos olhos à primeira vista é uma fonte de questionamento e curiosidade para as crianças. Além disso, Samira Rathod Design Associates, aproveita este discurso para conceber nos espaços das salas de aula grandes vigas que dão suporte a uma cobertura abobadada, que em determinados momentos é alçada para permitir a entrada de luz natural e potencializar a ventilação cruzada no interior do edifício, ampliando o conforto lumínico e térmico dos estudantes.
A posição superior de uma claraboia também pode ser aproveitada para sorver o ar quente para fora do ambiente. Esta é a estratégia adotada por Architecture BRIO no Mumbai Artist Retreat, que ao instalar uma claraboia aberta no telhado, possibilitou o fluxo de ventilação natural através das oficinas.
Segundo Tal Goldsmith Fish Design Studio luz, ar e vegetação, conforma a trindade arquitetônica que torna um espaço vital e agradável, e traz paz e tranquilidade para o usuário. A fim de criar esta atmosfera, no The Patio Office eles incorporaram um pátio de 16 metros de comprimento no escritório, atravessando todo o espaço. Acima do pátio, uma claraboia traz luz e ar para o escritório.
O LANZA Atelier aproveita para ampliar a sensação espacial através de uma grande claraboia que permite observar o céu e que banha de luz o espaço principal do Escritório de Nutrição PP.
Em um projeto no qual seu volume exterior é concebido de acordo com o contexto, o Museu de Arte Moderna de Odunpazari, realizado por Kengo Kuma & Associates, possui um átrio central composto por blocos de madeira que conecta cada nível para permitir que a luz natural atravesse todo o edifício, marcando a sua unidade.
Já no Museu de História Natural Yingliang Stone, o desafio estava em trazer a luz direta do sol para o átrio. Atelier Alter Architects fez com que a pirâmide quadrangular que se estende da cobertura do edifício ao forro do primeiro andar levasse luz ao átrio do museu no primeiro nível, enquanto o espaço de exposição do segundo andar e o restante dos escritórios são iluminados pela claraboia do edifício, bem como pela luz refletida na superfície externa inclinada do poço de luz criado. Por fim, o desenho dos "cristaloides" verticais e inclinados fazem a mediação entre a luz do sol e os espaços de exposição, conformando o layout expográfico.
A abertura zenital como ato simbólico
No Dormitório e centro de meditação para mulheres em Chonburi, realizado por Walllasia, os espaços interiores são amplamente ventilados e iluminados naturalmente. O longo corredor que dá acesso aos quartos foi concebido como uma ponte que flutua entre dois edifícios. As varandas possuem diversos tamanhos, criando uma noção de ritmo na fachada - inspirado pelo fluxo respiratório do praticante de meditação - e trazem em si espaços de contemplação que são enfatizados pelo posicionamento das aberturas zenitais.
Na parte superior da Residência THD, com vista para a grande claraboia (que ilumina todos os níveis), o AD9 Architects aproveitou a qualidade da luz neste ambiente para posicionar um altar para reverenciar os antepassados - elemento tradicional da cultura vietnamita - a fim de trazer uma forma mais leve e íntima de cultuar os ancestrais.
Por fim, na Mesquita Prefeito Mohammad Hanif Jame, realizada por Shatotto, aberturas ao longo das paredes norte e leste favorecem a entrada da luz natural pela parte superior da sala, enquanto elementos cerâmicos vazados dispostos na parte inferior servem para filtrar a luz e o ruído, oferecendo uma maior privacidade aos pregadores. Vale ressaltar que tradicionalmente, antes das orações os fiéis costumavam se purificar com a água em uma espécie de fonte, enquanto que atualmente é mais comum o uso de torneiras. O espaço de purificação na nova mesquita conta com ambas soluções, uma série de torneiras que desaguam em uma fonte, dando aos devotos a opção entre a conveniência e a tradição. Parte da cobertura acima da fonte foi deixada aberta para favorecer a iluminação e a ventilação natural, além de permitir que chova no interior do edifício.
A informação dos projetos neste artigo foram retiradas dos textos enviados por seus autores.
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