Richard Buckminster Fuller certa vez resumiu o seu conceito de Dymaxion da seguinte forma: “construir o maior espaço e a estrutura mais sólida com o menor uso de material”.
Adaptado por Fuller no seu projeto experimental para a Casa Dymaxion, este princípio ou abordagem poderia ter sido um grande sucesso se tivesse sido levada a sério e produzida em grandes quantidades—fornecendo uma solução rápida, prática e eficiente para lidar com a escassez de moradias durante os primeiros anos do pós-guerra.
Curiosamente, a abordagem experimental de Buckminster Fuller, na qual ele procurava incorporar novos materiais e tecnologias para responder aos principais desafios de sua época, parece ainda mais relevante nos dias de hoje.
A seguir, para enfatizar a relevância desta abordagem, exploraremos alguns projetos inovadores realizados na China ao longo dos últimos anos, os quais apresentam uma fusão entre técnicas tradicionais e modernas—lançando uma nova luz sobre a própria obra e legado de Buckminster Fuller.
Construído sobre Fundações Existentes
Projetado pelo LUO Studio, o Centro Comunitário da Vila de Yuanheguan foi construído na esperança de promover o desenvolvimento urbano e regional deste pequeno povoado no interior da China. Originalmente, este terreno servia como um lugar de encontro e socialização para os moradores da vila. Erguido sobre as antigas fundações deste histórico espaço comunitário, o novo edifício projetado pelo LUO Studio em Yuanheguan busca dar um novo significado a um dos mais importantes lugares e espaços sociais desde antigo vilarejo.
Após um longo e cuidadoso trabalho de levantamento da antiga estrutura, os arquitetos perceberam que, embora as fundações estivessem expostas por décadas, o desempenho estrutural ainda era suficientemente bom para suportar com segurança o novo edifício. De um ponto de vista prático, a equipe de projeto foi adaptando o desenho de forma a evitar danos ou alterações na estrutura original, minimizando a sobrecarga através da combinação de uma estrutura em concreto e madeira.
Desta forma, os arquitetos do LUO Studio acreditam que o novo edifício não apenas atende com rigor as demandas técnicas e específicas por um novo centro comunitário para a vila de Yuanheguan, ele fornece sobretudo, um espaço de encontro aberto integrado, onde a vida em comunidade pode florescer novamente.
Ressignificando o Passado
Concebido pelo estúdio ZSZY Studio, o Tongde Hall foi construído com o principal objetivo de resgatar a antiga glória dos salões ancestrais da vila de Longji. Depois de concluído, o velho “Emeer” foi trazido de volta a vida, restabelecendo-o como um dos mias importantes marcos desta pequena aldeia ao norte de Hainan.
Durante o processo de projeto, os arquitetos desenvolveram um inovador sistema estrutural atirantado em aço e madeira. Contando com 78 colunas esbeltas de madeira e uma área de quase 1000 metros quadrados coberta por um telhado translúcido, o novo Tongde Hall nasce de uma perfeita fusão entre o passado e o presente.
Desta forma, a moderna estrutura concebida pelos arquitetos do ZSZY Studio contribuiu com uma solução rápida e prática para preservar as relíquias históricas do antigo Tongde Hall da vila de Longji. O forte contraste entre o novo e o velho, entre a leveza da estrutura de aço, madeira e vidro e a substância da rocha vulcânica, representa o presente dilema da região de Hainan, um vilarejo histórico e remoto que está se transformando em uma vibrante cidade do século XXI.
Construído com Madeira de Demolição
Localizada na cidade de Longquanguan, no sopé do lado norte das montanhas de Taihang em Hebei, a Pergola em Luotuowan é outro projeto realizado pelo LUO Studio. Devido as montanhas que circundam este pequeno vilarejo, seu sistema viário é bastante precário, o que prejudicou o desenvolvimento econômico da região ao longo das últimas décadas.
Antes das reformas, os moradores puderam escolher entre um telhado tradicional de madeira ou um telhado de concreto moldado no local para as casas. A última solução foi a mais popular porque era mais fácil de implementar e a maioria dos residentes eram de meia-idade ou idosos. Durante o processo de revitalização da vila, um grande número de vigas e caibros de madeira foram desmontados e abandonados.
Antes, os restos de madeira teriam sido usados para fazer fogo para aquecimento e cozimento. Mas hoje, devido ao apelo à proteção ambiental e à prevenção de incêndios florestais, bem como ao fato de que bombas de calor e equipamentos de gás para cozinhar foram introduzidos na vila, as madeiras de vários tamanhos foram deixadas sem uso.
Com o reaproveitamento da madeira velha, os arquitetos conseguiram economizar custos e melhorar a eficiência. Eles também desenvolveram um sistema modular de construção para facilitar a montagem no local. Os materiais para os módulos foram projetados para serem os menores possíveis, para que mais resíduos de madeira pudessem ser reutilizados e as obras pudessem ser realizadas pelos próprios moradores.
Hastes de madeira constituem o sistema estrutural, o que aumenta a estabilidade e resultam num espaço maior. A estrutura apresenta um grid que melhora seu desempenho para suportar as forças da natureza, garantindo assim maior segurança por um longo período de uso. Com esse esquema de construção, economizamos custos e melhoramos a eficiência.
Reinterpretando o Clássico
Projetado pela Shanghai Tianhua Architectural Design, o Centro Tahoe Qingyun está localizado 30 km a sudeste de Fuzhou, capital da província de Fujian. Sua incrível diversidade natural e cultural se esparrama por entre uma paisagem de florestas, riachos e montanhas. Inspirados por este rico contexto, os arquitetos buscaram incorporar partes da cultura zen tradicional da dinastia Song na concepção deste projeto único na cidade de Qingyun.
O projeto tira partido dos icônicos elementos da tradicional arquitetura Song, incorporando-os em sua arquitetura. A fachada foi construída utilizando placas de alumínio revestidas com lâminas de madeira, fazendo um claro paralelo entre o clássico e o contemporâneo.
A arquitetura é solene, porém não convencional. Toda a estrutura do edifício foi construída em aço, porém conservando as proporções clássicas dos edifícios da Dinastia Song. Pórticos triangulares foram escolhidos para compor a modulação da estrutura e da fachada do edifício. Ao mesmo tempo, estes elementos periféricos são conectados através das enormes treliças da estrutura da cobertura.
Construindo Diálogo
Projetada pelo Shulin Architectural Design, a Casa do Livro na Montanha tem como principal objetivo criar um espaço de leitura sereno que acalma as pessoas, atraindo assim mais jovens e crianças para as montanhas.
A ideia inicial dos arquitetos era destinar um espaço para os habitantes do povoado, o que também traz um sentimento intuitivo. No primeiro nível da casa do livro, existe um espaço aberto semi-exterior e dez colunas estruturais que sustentam a casa. Os espaços fechados estão no segundo nível, conectados ao exterior por uma escada externa.
Existe apenas uma pequena bancada no primeiro nível para bebidas, os outros lugares estão totalmente abertos para que os visitantes conversem e para que as crianças brinquem. O espaço aberto conecta todas as atividades possíveis.
A fachada exterior é coberta por painéis translúcidos relativamente raros na cidade. Este material gera uma luz suave no interior criando um ambiente de leitura confortável e permitindo aos leitores terem uma visão da paisagem exterior, criando uma experiência espacial e uma atmosfera semitransparente.