Como o boom da arquitetura pode se tornar um rombo na economia?

É inútil dizer que a arquitetura é uma profissão que flutua de acordo com a economia. Todos nós conhecemos histórias ou até sentimos na pele as consequências de um período de recessão. Para a industria da construção civil, a depressão econômica se traduz em um estado de espera, na escassez de novos projetos e portanto, em um impacto negativo considerável em termos de novos contratos e vínculos empregatícios—sem mencionar as terríveis consequências para a massa de trabalhadores informais, entre eles, arquitetos e arquitetas. É evidente que a economia opera em ciclos, ora com períodos de vacas magras, ora com momentos de vacas gordas. Quando no entanto, uma mal temporada coincide com uma situação de crise na qual a população global continua a crescer rapidamente e o valor da terra a atingir níveis exorbitantes, é inegável que a arquitetura não passará ilesa por tal momento. Ainda assim, existem aqueles que, ao invés de culpar a economia pelos altos e baixos da profissão da arquitetura e da industria da construção civil, afirmam que é ela a principal responsável pelas principias crises econômicas globais.

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A crise habitacional é um tema mais recorrente do que cíclico no campo da arquitetura e do urbanismo. Zonas exclusivamente residenciais e unifamiliares continuam a ser privilegiadas em detrimento de áreas de uso misto em novos projetos de expansão urbana ao redor do mundo. Nos últimos 25 anos, apenas nos Estados Unidos, o número de residências unifamiliares aumentou um 25%, enquanto o crescimento populacional registrado no mesmo período foi de 24%. Embora em um primeiro momento este dado possa até parecer razoável, ele esconde uma enorme objeção—a quantidade de moradias que se constroem hoje nos Estados Unidos está muito aquém da real e crescente demanda por habitação no país. Acontece que, políticas de zoneamento restritivas inibem a construção de moradias populares que, em cidades como Los Angeles, Chicago e Nova Iorque, parecem mais urgentes do que nunca. Para colocar em outras palavras, zonas residenciais de uso exclusivo resultam em um numero menor de casas por metro quadrado, encarecendo o valor da terra e portanto, agravando a crise habitacional que impactará por sua vez na economia.

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© Christopher Furlong

Outro indício de como a arquitetura reflete a saúde econômica de um determinado país é o chamado “efeito arranha-céu”, um termo cunhado pelo economista americano Andrew Lawrence. Em seu “índice de arranha-céus”, Lawrence nos mostra que, a construção de edifícios em altura tende a anunciar uma futura desaceleração na economia de um país. Embora essas megaestruturas sejam projetadas e construídas em tempos de desenvolvimento econômico acelerado, muitas vezes elas acabam por drenar rapidamente boa parte dos recursos econômicos de uma sociedade, os quais começam a minguar logo após a conclusão destas obras. Tanto no caso das famosas Torres Petronas em Kuala Lampur assim como do Empire State Building em Nova Iorque, embora construídas em épocas completamente distintas, a inauguração destas monumentais estruturas aconteceu em meio a uma grave crise econômica. E, embora essa teoria nem sempre se prove verdadeira, é preciso considerar que a arquitetura tem a capacidade de “forçar a barra” e nos levar a falência. Dito isso, os profissionais da industria da construção civil carregam consigo uma enorme responsabilidade sobre o que, onde e para quem estamos construindo nossos edifícios e cidades.

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Cortesia de Business Insider

Além do desafio de mudar as leis de zoneamento existentes para minorar o estabelecimento de novas zonas residências exclusivas, e sermos cautelosos sobre a construção de novos arranha-céus, nós, arquitetos e arquitetas, devemos assumir uma parcela de responsabilidade no momento em que projetamos nossos edifícios e cidades. A arquitetura pode não ser apenas um reflexo das condições econômicas de um país, ela pode ser também, uma ferramenta de mudança.

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Sobre este autor
Cita: Overstreet, Kaley. "Como o boom da arquitetura pode se tornar um rombo na economia?" [How Do Architectural Booms Sometimes Become Economic Downturns?] 06 Jun 2021. ArchDaily Brasil. (Trad. Libardoni, Vinicius) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/961825/como-o-boom-da-arquitetura-pode-se-tornar-um-rombo-na-economia> ISSN 0719-8906

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