Quase meio milhão de novos edifícios desembarcaram no porto de Los Angeles este ano, ou melhor, mais de 490.000 contêineres passaram pelo porto de LA neste período. Se existe uma tendência duradoura na arquitetura contemporânea, é a predisposição em transformar contêineres em estruturas habitáveis. Neste contexto, nos cabe avaliar e discutir se esta tendência em converter contêineres em edifícios é apenas uma moda passageira ou algo que chegou para ficar?
Anos de mais nada é importante atentar para o fato de que a reutilização de contêineres na arquitetura não é um fenômeno novo e tampouco recente. O fascínio por estas estruturas surgiu lá por volta dos anos 1960, quando Reyner Banham escreveu um artigo relacionando o crescimento dos depósitos urbanos de contêineres com os consequentes avanços tecnológicos das cidades. Banham introduziu a ideia de que contêineres poderiam ser utilizados como uma forma de arquitetura “plug-and-play”, exaltando suas características modulares e sua natureza simplista. Se passaram quase trinta anos até que o primeiro contêiner fosse adaptado e transformado em uma estrutura habitável. Phillip Clark, responsável pelo pontapé inicial em 1987, chegou até a patentear seu processo de transformação de contêineres em casas naquele mesmo ano. Desde então, estas estruturas leves—concebidas inicialmente para o transporte de mercadorias—têm ganhado cada vez mais popularidade na arquitetura, sendo cobiçadas por sua aparência industrial nua e crua e pela falsa ilusão de ser uma solução simples e barata.
Uma das muitas razões pelas quais as pessoas são fascinadas por estruturas construídas a partir de contêineres reutilizados é por considerá-las uma solução altamente sustentável. Neste sentido, nos cabe levantar a seguinte questão: seriam contêineres são de fato estruturas “sustentáveis” ou apenas espólios de uma sociedade baseada no consumo de massa? Contêineres por si só não são estruturas habitáveis, e tampouco foram pensados para isso. Suas dimensões limitadas estão longe de serem compatíveis com nossos ambientes domésticos tradicionais, o que demanda soluções trabalhosas (e portanto caras) para adaptá-las ao nosso estilo de vida.
Atualmente, o valor necessário para comprar e transformar a estrutra de um contêiner industrial em uma casa habitável gira em torno de 22 a 32 mil dólares. Se formos somar a isso o custo médio de um terreno, os valores a serem pagos pelos serviços de transporte e construção, todas as taxas e impostos legais assim como as despesas com projetos complementares e instalações diversas, transformar um contêiner em espaço habitável custa hoje, algo na casa dos 100 mil dólares. Embora mais barata do que uma solução mais tradicional (o custo médio atual de uma casa comum nos Estados Unidos gira em torno dos 385 mil dólares), a maioria das casas construídas hoje a partir de estruturas reutilizadas de contêineres não ultrapassam os 30 metros quadrados. Isso significa que, se formos considerar o custo por metro quadrado, casas-contêineres podem ser tão caras quanto um apartamento de luxo em pleno centro de Nova Iorque. É preciso muito esforço, tempo e dinheiro para transformar uma estrutura tão vazia de significado em uma espaço minimamente adaptado à vida doméstica.
Embora a reutilização de contêineres na arquitetura nem sempre seja uma solução prática, eficiente ou barata, e tampouco tão inovadora como foi no passado, há algo que podemos aprender com a sua recente e difusa popularização pelos quatro cantos do mundo. Em meio a uma profusão de diferentes formas, arquitetos são impelidos a inventar soluções cada vez mais criativas, a desenvolver novos recursos que possam transformá-los em algo nunca visto antes. E em um mundo que preza edifícios e sistemas construtivos cada dia mais inovadores, talvez esta tendência possa ser vista como o pontapé inicial para algo muito maior. Não se trata de exaltar a utilização de contêineres na arquitetura, mas celebrar os possíveis caminhos que este movimento nos levará a descobrir no futuro.