Todos sabemos que a arquitetura é um campo complexo que requer a contribuição de muitas disciplinas para tornar-se possível. Embora o projeto seja a origem de uma obra, sem as áreas complementares muitas delas não seriam do modo como as conhecemos hoje.
Como seria Brasília sem o projeto paisagístico de Roberto Burle Marx? A Torre CCTV do OMA em Pequim ficaria de pé sem os cálculos estruturais da ARUP? Os projetos habitacionais do ELEMENTAL seriam os mesmos sem a contribuição de seus futuros habitantes?
Perguntamos a nossos leitores: O que é arquitetura multidisciplinar? - e a quantidade de respostas e opiniões foi imensa. Depois de ler e compilar todos os comentários recebidos de profissionais da construção, estudantes e interessados em arquitetura, concordamos que a arquitetura sempre foi multidisciplinar (portanto, é essencial saber trabalhar de forma multidisciplinar).
A seguir, refletimos sobre os pontos de vista mais recorrentes:
Ponto de vista 1: A arquitetura sempre foi multidisciplinar
A arquitetura é um dos legados mais importantes da história, portanto é impossível não imaginá-la como totalmente multidisciplinar. Não apenas porque agrega o trabalho de especialistas de diferentes áreas do conhecimento na busca de um projeto de sucesso, mas porque surge como resultado de um clima que permite o diálogo entre as partes, aproximando-se ainda mais de um conceito de Interdisciplinaridade. Digo isto do ponto de vista do arquiteto, urbanista e educador, coexistindo há mais de 30 anos com a prática da arquitetura e com os estudos de Interdisciplinaridade em Educação (mestrado e doutorado).
Na Educação, a multidisciplinaridade aborda a soma de conhecimentos de diferentes disciplinas a fim de educar, com o objetivo de resgatar a singularidade do conhecimento. A interdisciplinaridade trata da atmosfera que permeia este espaço de diálogo e que permite a ousadia de cada ser em experimentar o universo sensível e científico das diferentes disciplinas com a intenção de educar e promover o conhecimento. Sem sabê-lo, o homem sempre foi interdisciplinar ao criar suas construções, mesmo as mais simples.
Na visão contemporânea, falar de "desenho multidisciplinar" em arquitetura é um reflexo da percepção crescente da participação de especialistas em diferentes campos do conhecimento em uma contribuição para a busca do resultado de excelência no desenho de edifícios e até mesmo cidades. A integração e o diálogo se refletem principalmente na tecnologia aplicada à arquitetura e vão além do uso crescente de ferramentas de projeto cooperativo, como o BIM.
A inquietude da arquitetura com uma ampla gama de necessidades a serem resolvidas coloca o homem (mesmo antes de ser reconhecido como arquiteto) em contato e reflexão com sua condição humana (Biologia, Antropologia, História), com as percepções sensoriais (Psicologia, Geometria, Ergonomia), com o envolvimento com a natureza (Paisagismo, Geografia, Ecologia), com os desafios construtivos (Engenharia, Física, Química) e com a valorização de seu trabalho (Marketing, Publicidade). Nada mais coerente do que, nos tempos atuais, quando esta reflexão pode ser dinâmica e abrangente, termos uma arquitetura que nasce de uma intenção multidisciplinar e chega à Inter e Transdiciplinaridade, oferecendo a todos resultados frutíferos além dos ditames do lucro de mercado e mais próximos do coletivo, mesmo que seja uma obra simples e isolada, mas com grande poder multiplicador. - Nos conta um arquiteto do Brasil.
A arquitetura se torna multidisciplinar a partir do momento em que o usuário intervém para aperfeiçoar o desenho do projeto, com sua maneira de fazer seu trabalho, viver, descansar, hábitos, etc. O projeto arquitetônico em seu nascimento pode ser um ato espontâneo, uma fagulha de imaginação, mas o produto final é um processo de acumulo de opiniões mentais e gráficas em papel, bem como a intervenção de uma imensa diversidade de profissões. - Nos conta um arquiteto do México.
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Arquitetura sem co-desenho seria uma profissão vazia, precisamos que o usuário, o meio ambiente, a comunidade e as pessoas entendam e tenham empatia com suas necessidades, vivam suas histórias e imaginem o futuro do projeto para crescer com elas. Em cada projeto colaboro com diferentes profissionais com os quais conto para otimizar os espaços e o orçamento, mas, acima de tudo, contamos com o histórico familiar e cultural de cada um de meus clientes, que conseguiram chegar onde estão ao longo dos anos com muito esforço. E demonstrar isso em cada projeto, para nós é reconhecer e admirar essas conquistas. A arquitetura permanecerá viva enquanto aprendermos a projetar com eles e não apenas para eles. - Um profissional do Peru nos aponta.
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Em minha experiência, os arquitetos têm dois desafios relevantes na matéria para entregar soluções adequadas à dinâmica daqueles que farão uso dos espaços que projetamos. A primeira, deixar nossas crenças em relação ao que uma família, empresa, organização ou cidade precisa, para entender o que é apropriado, e neste ponto existem outras disciplinas que têm metodologias para estas investigações que têm muito a nos ensinar. A segunda é incorporar e articular uma ampla gama de especialidades técnicas que abordam de forma abrangente o crescente número de disciplinas e perspectivas que têm impacto em um projeto: social, bem-estar, ambiental, legal, tecnológico, construtivo, econômico, logístico, questões urbanas, além das especialidades tradicionais. Trabalhar e construir equipes além de nossa zona de conforto: um grande desafio se, como arquitetos, queremos ocupar papéis relevantes no mundo de um futuro que já chegou". - Um arquiteto do Chile nos faz pensar.
Ponto de vista 2: Não se nasce sabendo como trabalhar de forma multidisciplinar
Em todas as circunstâncias, penso que o que realmente devemos transmitir é o interesse conceitual na interdisciplinaridade, em todas as áreas disciplinares possíveis. Não apenas na arquitetura. Ao projetar um hospital não podemos deixar de nos entender com os médicos das diferentes especialidades médicas já que, para a medicina, o centro operatório não é o mesmo que uma sala de internação... Da mesma forma, hospitalização geral não é o mesmo que cuidados intensivos. Isto é o mesmo no projeto de edifícios educacionais, bairros para trabalhadores ou alta classe econômica.
Em conclusão, na pedagogia que desenvolvemos, qualquer que seja a disciplina, devemos nos concentrar na multidisciplinaridade sem esquecer o meio ambiente, a situação geográfica, étnica, social, econômica, etc., que estão sempre presentes, e tentar incorporar a interdisciplinaridade. Poderíamos chegar a algo muito mais elevado, que é a trans-disciplinaridade, uma chave na busca da construção de um mundo onde seja possível viver melhor. - Um professor universitário de arquitetura da Argentina nos propõe.
Já trabalhei várias vezes com pequenos grupos interdisciplinares, sejam topógrafos, engenheiros, economistas, arquitetos com especialidades, advogados e outros, onde a relação do grupo com o qual se deve trabalhar é importante no aspecto emocional de cada membro. É importante ter uma concorrência saudável, ou seja, cultivar a inteligência emocional do grupo, satisfazendo os objetivos do trabalho a ser feito. Hoje, no século XXI, é difícil trabalhar individualmente em Arquitetura e Urbanismo. Especialmente na pandemia que tem atrasado muitos projetos e consultorias colaborativas. - Nos aconselham da Colômbia-Bolívia.
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O desenho multidisciplinar é um conjunto de diferentes disciplinas, para criar e projetar uma ideia de projeto, onde a arquitetura é uma parte importante para dar continuidade e propósito à proposta materializada. Minha experiência é que proponho um pacote completo ou conjunto de projetos que parte de uma necessidade para uma solução esperada antes de sua construção, onde intervém diversos conhecimentos articulados, alcançando uma composição de projetos arquitetônicos e de engenharia, especificações e custos de cada parte do conjunto. Para que o projeto possa nascer, crescer e ser projetado em uma ordem planejada a partir de suas necessidades para uma única realidade do projeto arquitetônico. - Nos conta uma arquiteta da Colômbia.