Saskia Sassen, professora da Robert S. Lynd, de Sociologia da Universidade de Columbia, prevê em seu livro de coautoria "Os Documentos de Quito e a Nova Agenda Urbana" que, no futuro, as cidades serão um campo de batalha crucial, à medida que continuamos a lutar contra a gentrificação e o crescente grau de isolamento em nossas comunidades. Sassen argumenta que “as cidades devem ser um espaço inclusivo, tanto para os ricos quanto para os pobres. No entanto, nossas cidades nunca alcançaram igualdade para todos, já que nunca foram projetadas dessa forma. Mesmo assim, elas não devem ser lugares que toleram desigualdades ou injustiças”.
Em resposta aos processos de transformação urbana, orientados para o lucro e, em última análise, insustentáveis, os Documentos de Quito clamam por uma nova ética urbana não violenta, que recusa a super especificação de funções e formas impostas por processos urbanos puramente conduzidos pelo mercado.
Na China, arquitetos e designers também estão se conscientizando da necessidade de mudar a prática atual e a mentalidade dos responsáveis pelo planejamento das cidades. As habitações sociais recém-construídas na China podem ser vistas como uma experiência, que não apenas responde às mudanças nas regulamentações do mercado imobiliário, mas também como um marco em nossas batalhas pelo desenvolvimento sustentável.
Respondendo à Reforma Política
Em meados da década de 1990, a construção de moradias populares iniciou brevemente em Xangai. No entanto, devido ao sistema de alocação de moradias sociais em andamento na época, e à localização inconveniente destas habitações longe do centro da cidade, as pessoas não se atentaram para esse desenvolvimento. Portanto, a ideia de configurar habitações sociais foi logo substituída por empreendimentos residenciais lucrativos.
Desde 2005, de modo a conter o aumento dos preços das moradias e melhorar as condições de vida das famílias de baixa e média renda, a cidade de Xangai decidiu reiniciar o Plano de Habitação Social Acessível.
Estabelecendo uma Tipologia de Habitação de Interesse Social
Jiajing Zhang, fundador do Atelier GOM, iniciou em 2002 seus estudos residenciais e urbanos, enraizados no ambiente doméstico.
No projeto Longnan Garden Social Housing Estate, Jiajing Zhang reintroduziu o vocabulário "fortaleza sitiada" e "corredor". Ao repensar a morfologia urbana atual, tornando o espaço público acessível e reconsiderando o impacto da altura e densidade residencial no conforto, Longnan Garden Estate se tornou o novo fenômeno imobiliário residencial da China.
Além disso, o Atelier GOM espera desafiar o padrão residencial convencional da China por meio da habitação social, de modo a atualizar também os outros modelos de projetos residenciais.
Desafiando o paradigma imobiliário
O Atelier GOM acredita que o projeto residencial não envolve apenas as formas e o layout dos edifícios, ele está intimamente ligado a fatores mais abrangentes, como operações urbanas, densidade populacional, condições econômicas e o meio ambiente. A habitação é essencial para o desenvolvimento urbano, bem como para a vida das pessoas.
A habitação coletiva ideal, almejada pelo Atelier GOM, é uma comunidade diversificada com características de “fechamento, poucos pavimentos, alta densidade e uso misto”, o que é obviamente uma rejeição aos padrões comerciais impostos pelo mercado imobiliário.
1. Longnan Garden Social Housing Estate / Atelier GOM
Longnan Garden Estate abandona o paradigma de conjuntos residenciais profundamente enraizados, altos e de baixa densidade, e discute o impacto da altura e densidade residencial. Ambos os espaços semi e totalmente fechados do pátio foram projetados para propiciar encontros. A cobertura do telhado desce progressivamente, configurando um amplo espaço para atividades. O terraço pode ser interpretado como um jardim ou como um mirante, que permite que a luz do sol brilhe no pátio repleto de flores e árvores.
Com o objetivo de criar espaços públicos, foram configurados dois pavimentos comunitários na face norte. A cada um ou dois pavimentos do corredor norte foram alocados terraços públicos para receber a luz solar. Incluir espaços públicos em pequenos apartamentos é uma estratégia eficiente para a habitação social.
2. Apartamento pré-fabricado com 40 m² à beira-mar / L&M DESIGN LAB
O desafio do projeto era configurar um espaço pré-fabricado, versátil e multifuncional para uma unidade padrão de 40 m². Do ponto de vista dos futuros usuários, a estrutura pré-fabricada de aço dá a unidade uma melhor base, sem pilares ou paredes, de modo a acomodar uma variedade de estilos e aproveitar ao máximo as estruturas do complexo residencial.
O L&M DESIGN LAB considera o "estúdio" um protótipo básico de vida dos jovens, e expande o sistema para configurar diversos cenários de uso. No modelo "residência para uma pessoa", 40 m² incluem uma cozinha em formato de U, banheiro, sala de estar aberta, quarto e armários variáveis. Mesmo sem incluir o armário, a unidade de 40 m² atende com qualidade as diversas necessidades dos estúdios. Cozinhar, ler, se reunir e assistir a filmes podem ser realizados de uma maneira confortável para satisfazer a necessidade dos jovens.
3. Wuliqiao Road Social Housing / Shanghai ZF Architectural Design
Devido às condições adversas do local e aos requisitos regulamentares, o projeto foi adaptado às condições locais, seguindo o princípio norteador de "inovar no interior sem romper o exterior". Três edifícios fechados com elevações mistas foram dispostos, na face norte da Liyuan New Village estão os edifícios baixos com 3 a 4 pavimentos. Os edifícios altos de 8 a 17 pavimentos estão localizados no lado sul do terreno. A altura diminui gradualmente à medida que a distância entre as casas do lado norte é alterada, de modo que os arquitetos garantam que uma quantidade abundante de sol possa entrar.
A Wuliqiao Road Social Housing desempenha funções complexas e diversas. Os espaços públicos estão na parte inferior de cada edifício ao longo da estrada, enquanto o lado norte superior do embasamento próximo à estrada, abriga os escritórios e estúdios para locação. O projeto não apenas evita que os moradores sejam incomodados pelo barulho da rua, mas também faz pleno uso das áreas públicas, ao criar uma atmosfera urbana nas ruas baseada em escalas humanas.
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