O planejamento urbano e a maneira como o espaço construído afeta a vida cotidiana de seus habitantes são dois elementos que não podem ser considerados separadamente ao analisar a qualidade de vida em uma determinada cidade. Estratégias de planejamento urbano incluem a construção de moradias acessíveis, instalações e serviços públicos, sistemas de mobilidade, áreas verdes etc. Ainda assim, gerir uma cidade não é tarefa fácil, e muitos dos motivos pelos quais as cidades de hoje estão se tornando cada vez mais caras, densas e desiguais, têm a ver com regras de zoneamento desatualizadas e pouco flexíveis, as quais, consequentemente, não facilitam em nada o acesso à moradia digna e o direito à cidade de forma equitativa a todos os seus habitantes.
O termo “middle housing” ou “moradia média”, é um conceito que tem sido muito debatido recentemente, aplicável tanto às famílias de renda média—que historicamente têm enfrentado certas dificuldades de acesso à moradia—, quanto para descrever a dimensão e o custo das casas que muitos planejadores urbanos e arquitetos querem construir. Entre as tradicionais casas unifamiliares isoladas no lote, que definem áreas de expansão urbana de baixa densidade, e as torres em altura que definem centros urbanos de densa ocupação, há uma infinidade de outras arquiteturas possíveis que ficam em um ponto “médio” entre estes dois extremos. Este padrão de média densidade, mais comumente composto por edifícios de três ou quatro pavimentos, é hoje uma das alternativas mais eficientes e viváveis para se construir cidades mais acessíveis e equitativas.
Um estudo realizado pela plataforma “Missing Middle Housing” aponta que a maioria dos habitantes de nossas cidades, pessoas diferentes gerações e que vivem em contextos bastante diversos, têm preferido ao longo das últimas décadas um estilo de vida mais “mediano”, ou seja, um meio termo entre os bairros de casas isoladas e os centros densamente ocupados. Quase ⅓ dos boomers (pessoas nascidas entre 1946 e 1964) e ¾ dos millennials (nascidos entre 1981 e 1996) preferem viver em bairros onde tudo o que eles precisam está ao alcance de uma caminhada. O problema de um bairro de casas isoladas é a carência de serviços públicos, comércios e outras amenidades a uma distancia razoável. Na outra extremidade do espectro, em áreas densamente ocupadas, praticamente inexistem espaços de intimidade associados à vida na cidade, com áreas verdes e espaços públicos.
Em bairros de moradia média encontramos uma ampla gama de diferentes perfis de casas e apartamentos além de uma grande diversidade de serviços públicos, comércio e opções de transporte—e tudo isso a um passo da porta de casa. Algumas cidades já estão reconhecendo a necessidade de se investir mais em bairros de moradia média e já estão começando a implementar novas políticas públicas e leis de zoneamento para promover o estabelecimento de novos bairros deste tipo no futuro próximo. A cidade de Minneapolis, Minnesota, tem procurado implementar tais estratégias para combater a segregação racial e promover a acessibilidade à moradia digna para todos os seus habitantes. As autoridades locais proibiram recentemente as zonas residenciais unifamiliares de uso exclusivo em toda à cidade, permitindo nestas mesmas áreas a construção de novos edifícios maiores com capacidade para abrigar até três famílias. Este estudo de caso simboliza um movimento significativo em direção a uma mudança na maneira como as áreas residenciais são projetadas nos Estados Unidos. Entretanto, ainda temos um longo caminho pela frente se de fato quisermos mudar o atual estado das coisas. Atualmente, mais de 75% das áreas urbanas do país estão definidas como zonas residenciais unifamiliares de uso exclusivo—uma herança das políticas urbanas do início do século XX e que ainda hoje continua promovendo a segregação social e racial no país.
À medida que os Estados Unidos continuam a buscar outras formas de promover o acesso à moradia para todos, o caso de Minneapolis pode ser um ótimo exemplo a ser seguido. A ideia é que essas novas leis de zoneamento poderão abrir caminho a uma nova maneira de se construir cidades no país, promovendo não apenas o acesso universal à moradia digna, mas principalmente o direito à cidade e todos os seus benefícios. Neste futuro, não precisaremos mais ter que escolher entre a vida isolada em um bairro suburbano e a agitada vida na cidade grande—poderemos finalmente ter as duas coisas ao alcance de apenas alguns poucos passos.