Devido à necessidade, diferentes tipos de edifícios mudaram seu uso. Igrejas que hoje são bibliotecas, armazéns abandonados que hoje são centros culturais - e embora muito tenha sido escrito sobre o assunto, desde o conceito Open Building de N. John Habraken nos anos 70, até o contemporâneo From Mixed-Use to Diff-Use de Adamo Faiden, hoje temos mais do que nunca um interessante debate global em torno da adaptabilidade em habitação. É necessário ter tantos metros quadrados dedicados a escritórios quando durante a pandemia percebemos que muito do trabalho pode ser feito remotamente? Esta foi uma das principais questões durante a quarentena dos últimos anos.
Sem dúvida, o futuro das edificações é um dos temas mais emergentes da arquitetura, especialmente quando o tópico da crise climática entra na equação. “O edifício mais sustentável é aquele que já está construído”, afirma o arquiteto Carl Elefante. Retrofits e adaptação são termos conhecidos de profissionais de arquitetura em todo o mundo, portanto, é hora de pensar como o projeto pode enfrentar esse desafio.
Nesse sentido, convidamos nossos leitores a escrever suas respostas sobre o quão aberta deve ser a arquitetura. Depois de ler e compilar todos os comentários recebidos, tanto de profissionais da construção, quanto estudantes e interessados em arquitetura, concordamos que hoje precisamos pensar em ainda mais funções para nossa arquitetura. Leia abaixo os pontos de vista mais recorrentes.
Ponto de vista 1: "Form follows all functions" ("A forma segue a todas as funções")
Uma arquitetura para todos os usos é um enorme desafio, mas ao mesmo tempo promete novas soluções para a ideia do que constitui um espaço de interação humana. Por um lado, os edifícios poderiam ser concebidos como meros receptores cuja expressão arquitetônica se limita ao envoltório, alheios ao que poderia acontecer no interior. De certa forma, é algo como inverter a máxima do arquiteto americano Louis Sullivan. Em vez de ler "Forma segue função", poderíamos ler "Forma nunca segue função" ou talvez "Forma segue a todas as funções"! Por outro lado, pode-se considerar a possibilidade de que todos os edifícios sejam semelhantes em seu envelope externo (à maneira de um galpão) e que sejam os interiores dos edifícios que moldam mais de perto a expressão arquitetônica. É como inverter o espaço interno com o espaço urbano. O assunto é realmente fascinante e as possibilidades são numerosas, se não infinitas. - Fernando Abruña, arquiteto de Porto Rico.
Graças à pandemia, tomamos consciência das falhas dentro de nossos projetos. Flexibilidade e adaptabilidade à mudança são o futuro da arquitetura, como profissionais e estudantes devemos nos comprometer a encontrar as melhores opções para a reutilização do que já está construído, e pensar no futuro a construir. O edifício deve ser mutável, não servir a um único propósito, mas buscar através de tecnologias, mobiliário e espaços abertos a capacidade de se transformar de acordo com a situação que se viva. A mudança climática e a sustentabilidade andam de mãos dadas com esta questão. Considerando que a indústria da construção civil é uma das mais poluentes da atualidade, temos que projetar obras capazes de mutar e assim colaborar desde nosso lugar no cuidado do planeta Terra e seus recursos. - Oriana Guzzo, estudante de arquitetura da Argentina.
Ponto de vista 2: "Os materiais são os que mudam"
A moradia e seus espaços não mudaram em 40.000 anos, o que mudou foram os materiais em sua construção. As peles de gado e as presas de Mamute Lanoso foram os primeiros materiais dos sapiens de estepe. Estes foram substituídos por materiais disponíveis localmente: madeira nas regiões norte e florestas, Totora e pedra no Egito, etc. Desse ponto de vista, a casa tem muitas possibilidades para ser adaptada e reutilizada. Mas todos os outros tipos de edifícios podem ser mudados em uso, como foi o caso do templo grego para a basílica romana, e dela para a catedral cristã. O Panteão em Roma convertido em uma igreja católica. O zigurate em uma pirâmide, e depois em um templo maia (isto prova o contato leste-oeste através do Pacífico desde cedo). A mudança de uso dos edifícios é uma ocorrência natural na arquitetura, o que não deve nos surpreender. Ao longo do Tamisa, em Londres, os antigos armazéns portuários foram transformados em coberturas e flats caros nos últimos 30 anos. - Carlos Gonzalez, arquiteto de Londres, Reino Unido
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A arquitetura deve ser tão aberta quanto a capacidade dos seres humanos de se acostumar a mudar e tolerar menos desconforto com flutuações imprevisíveis e flexibilidade de espaços. Uma arquitetura tão aberta a mudanças frequentes pode não funcionar para uma sociedade que não está acostumada a mudanças frequentes, onde a mudança ainda é sinônimo de instabilidade e não uma constante. Apesar disso, após esses quase dois anos de altos e baixos e quarentenas, medos e incertezas globais e locais, tenhamos começado a entender que, como diz o ditado, a única constante é a mudança. Por outro lado, uma arquitetura "aberta", um edifício-envoltório com espaço interno indefinido - como uma caixa vazia - onde qualquer uso pode ser gerado, corre o risco de criar uma série de subestruturas temporárias, que após serem montadas e usadas por alguns meses, são então descartadas. A prioridade deve ser dada à reutilização de estruturas temporárias, onde estas devem possam ser reconfiguradas em vez de substituídas por outras. O conceito de economia circular deve tecer laços com nossa prática enquanto arquitetos, para que as arquiteturas temporárias potencialmente repetidas não gerem ainda mais impacto negativo ambiental, do que o da construção de uma arquitetura permanente, mais inflexível ou não, mas com uma pisada de carbono menor. - Lucila Sampaoli, arquiteta em Londres.
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