Construindo com cogumelos: o refúgio à base de micélio em Bariloche, Argentina

Escrito por Fabian Dejtiar | Traduzido por Camilla Sbeghen
Publicado em 07 de Dezembro de 2021

E se disséssemos que os cogumelos podem ser o futuro dos materiais de construção? As possibilidades do micélio na arquitetura estão cada vez mais presentes entre nós devido à sua capacidade de ser moldado para produzir desde móveis e embalagens a painéis e tijolos isolantes, com boas características acústicas e térmicas, e até com bom comportamento contra o fogo.

Na Argentina isso já é uma realidade. Refugio Fúngico é um recente projeto experimental de pesquisa e desenvolvimento biotecnológico realizado pela SUPERPRAXIS que materializa uma instalação efêmera na cidade de San Carlos de Bariloche, gerada a partir de um biomaterial produzido a partir de resíduos orgânicos e micélio.

Os autores do projeto nos escrevem:

O micélio possui uma estrutura de filamentos microscópicos denominados hifas que se expandem em rede de forma rizomática, alimentando-se de matéria inerte, aglomerando resíduos orgânicos e gerando uma estrutura que tem a capacidade de adquirir uma resistência final superior à de materiais como concreto. Por sua vez, caracteriza-se pela grande leveza, pelas propriedades ignífugas e termoacústicas e pela boa flutuabilidade devido à sua porosidade.

Por ser composto de resíduos orgânicos e de um organismo vivo, o material obtido é totalmente biodegradável e compostável de forma que, uma vez cumprida sua função, ao longo do tempo pode retornar ao meio ambiente como composto, fechando a cadeia circular e voltando ao início para nutrir a terra e gerar vida novamente.

Os maiores saltos evolutivos das espécies ocorreram por meio da cooperação. É hora de entender que as grandes alianças são com a natureza. Compreendê-la nos permite cuidar, respeitar e conviver como parte do ecossistema que formamos, além de uma visão antropocêntrica de exploração-depredação de tudo o que nos rodeia.

A instalação em termos espaciais propõe a configuração de um refúgio gerado a partir da repetição de uma série de tijolos de Mycelium da espécie de cogumelo comestível Ganoderma Lucidum (Reishi), em sistema de código aberto, formando uma fronteira permeável que funciona como membrana de troca entre o interior e exterior. Da mesma forma, em termos linguísticos, os tijolos têm a capacidade de interagir com o meio que os rodeia, uma vez que a sua textura e cor derivam da expressão gerada pelo micélio em relação às variantes climáticas e atmosféricas do contexto a que está exposto, em um processo dinâmico que muda com o tempo, dando origem ao indeterminado e imprevisível. Isso nos permite refletir sobre os conceitos de transformação, mutabilidade, o efêmero, o tempo e a interação entre as pessoas e om meio. Por sua vez, propõe-se tornar visível a capacidade de gerar ferramentas onde a natureza, o design e a tecnologia convergem para dar resposta e soluções de alto impacto em termos ambientais e, portanto, sociais a partir da reutilização de resíduos da indústria alimentar e madeireira local como componentes principais junto ao micélio para a produção do biomaterial.

Busca-se maximizar as múltiplas formas de relacionamento com o material, incorporando também a expressão sonora ao projeto. A instalação visa ampliar a experiência sensorial a partir da percepção do espaço que configura como habitat-refúgio, permitindo que seja visto, tocado e também ouvido, traduzindo os bio-dados obtidos na atividade do micélio vivo em expressões sonoras através da bio-sonificação.