Estamos há vinte e um anos no século vinte e um. O mundo nunca esteve mais conectado com o advento de novas tecnologias, mas as desigualdades históricas ainda são enormes. Essas desigualdades se manifestam de maneiras diferentes. As viagens globais, por exemplo - apesar da onipresença dos aviões hoje em dia - ainda são amplamente acessíveis apenas aos cidadãos de países “desenvolvidos” devido às restrições proibitivas de visto. No ensino de arquitetura, muitas instituições ainda priorizam um currículo eurocêntrico, cuja arquitetura de populações não ocidentais é amplamente ignorada. Outra perpetuação de sistemas preconceituosos é o Orientalismo - e explorar este conceito através de lentes arquitetônicas é útil para interrogar abordagens projetuais contemporâneas e futuras.
O termo Orientalismo nasceu do texto de 1978 do crítico cultural Edward Said’s de mesmo nome, no qual ele argumentou que a ideologia política europeia dominante formou a noção do Oriente para subjugá-lo. Said explicou que o conceito personificava uma distinção entre o “Oriente” e o “Ocidente”, de modo que o Ocidente pudesse controlar e autorizar visões sobre o Oriente. Em suma, é um ponto de vista binário, um sistema de representação pelo qual as culturas do Oriente são retratadas como primitivas e incivilizadas, em contraste com as culturas ocidentais que são "progressistas" e "civilizadas". Isso, com efeito, justificou os projetos imperiais europeus e americanos - desde a expropriação de recursos do Norte da África, Oriente Médio e Ásia até a expropriação do patrimônio cultural.
A Europa do século XIX é onde podemos ver exemplos do orientalismo mais vividamente. Em meio à expansão do imperialismo europeu, capitalismo industrial e consumo de massa, a apropriação cultural na Europa incluiu o gosto pela porcelana, têxteis e moda do Oriente Médio e da Ásia. Havia tendências artísticas como Japonisme (de inspiração japonesa), Chinoiserie (de inspiração chinesa) e Turquerie (de inspiração turca), que abordavam a exotização dessas culturas.
Na esfera arquitetônica, a Exposição Universal de 1867 em Paris viu exibições descaradas de orientalismo. Os arquitetos Jacques Drévet e E. Schmitz, por exemplo, foram encarregados de projetar o pavilhão egípcio. O resultado foi uma estrutura que deveria representar o palácio do governante otomano - com imprecisões gritantes. Um volume foi anexado à estrutura - não típico de um palácio otomano, e pavilhão do Egito se tornou um precursor de feiras posteriores que combinavam aleatoriamente elementos arquitetônicos díspares de outras culturas.
Nos Estados Unidos, a estética orientalista também estava em voga no século XIX, possivelmente em menor escala do que na Europa. Chicago abriga um grande número de edifícios construídos no chamado estilo oriental. O “Templo” de Medinah é um exemplo, construído em 1912 para acomodar os Shriners, uma sociedade maçônica.
A cúpula do edifício, e os seus azulejos ornamentados na fachada, pretendem claramente imitar um estilo arquitetônico “oriental”, com a inversão das culturas orientais empreendida pelos primeiros proprietários do edifício. As festas planejadas pelos Shriners apresentariam homens e mulheres vestidos com trajes árabes, interpretando mal os costumes do Oriente Médio como parte dos rituais da sociedade. Mais recentemente, o volume costumava abrigar uma loja de artigos domésticos da Bloomingdale's, mas suas origens são difíceis de ignorar. O Templo de Medinah, no estilo de inúmeras outras estruturas orientalistas, evoca a arquitetura e o design de outras culturas, mas com pouco envolvimento além da superfície. Isso é o que pode ser visto como o resultado inevitável da arquitetura orientalista - estruturas inautênticas que deixam de levar em conta as variações culturais e regionais entre os países.
A discussão do Orientalismo na arquitetura pode ser expandida para a arquitetura modernista também, embora muitas estruturas como o Pavilhão Real de John Nash em Brighton e a Casa Sezincote de Cockerell em Gloucestershire possam figurar na conversa.
No Marrocos colonial em 1940, havia uma necessidade de provisão de moradia em meio a um grande crescimento da população em Casablanca. Essa necessidade viu o planejamento de Carrières Centrales - uma proposta conceituada pelo coletivo modernista Team X. Embora os arquitetos da proposta se recusassem a usar quaisquer formas orientalistas e estilizações históricas semelhantes no projeto, a proposta ainda propagava o Orientalismo em outro sentido. Ao projetar três tipos de casas padrão para três comunidades diferentes: muçulmana, judaica e cristã (geralmente europeia), havia linhas de pensamento orientalistas claras.
A casa muçulmana era a mais fechada, com cômodos dispostos em torno de um pátio central. Na casa judaica, o pátio ficou semi-exposto. Na casa europeia, janelas e terraços estavam voltados para a rua. Um dos arquitetos do Team X - George Candilis - quando questionado por um marroquino por que os tipos de casas não são os mesmos, respondeu que "é porque vocês vivem em condições diferentes dos franceses, estou tentando encontrar sua identidade." Uma afirmação que sintetiza que o orientalismo pode transcender a apropriação estilística e se manifestar em atitudes paternalistas e imposição de ideias - neste caso, a crença na eficácia de uma abordagem europeia universal da arquitetura.
Orientalismo na arquitetura é um tópico extremamente complicado e abrangente e, à medida que as influências interculturais se expandem em um mundo cada vez mais globalizado, a definição de Edward Said do conceito continuará a ser relevante.